A “ESTRATÉGIA ÁUREA” – LIBERTAÇÃO & “RECRIAÇÃO” DO MUNDO

Síntese entre Walden e Walden II e ainda mais, para aqueles que querem realmente “fazer a diferença” nos tempos atuais, a “Estratégia Áurea” representa um procedimento tradicional de livramento empregado na recriação e na regeneração da cultura humana. A fórmula a seguir está especialmente adaptada aos tempos novos “pós-civilizados” ou “pós-racionais”.


Fase 1: a Comuna Urbana. Enclave de vida-sabedoria nas cidades velhas e nas Monstrópolis, para fornecer informação sobre a “Morte Organizada” (“sistema”’) e sobre a “Estratégia Áurea” de libertação universal. Trata-se de um centro-de-passagem e um polo de auto-triagem vocacional para discernir entre aqueles que os cátaros (inspirados em Jesus) chamaram de simples” e “perfeitos”, e onde aos “simples” será sugerido dirigir-se diretamente para uma Comuncidade de sociotreinamento (ver “Fase 3” abaixo), e aos “perfeitos” será sugerido se dirigir para uma Comuna Rural de autrotreinamento (ver “Fase 2” a seguir).

Fase 2: a Comuna RURAL. Trata-se de um núcleo de aperfeiçoamento holístico onde os candidatos à “perfeição” poderão evoluir como um todo e eventualmente emergir como lideranças naturais para coordenar alguma das várias “estruturas” da Estratégia Áurea, especialmente as Comuncidades.

Fase 3: a ComuNCIDADE. A Cidade-comunidade ou Cosmópolis é um pólo rurubano igualitário e um chakra-social criador e regenerador, onde a pessoa “simples” em especial poderá exercer a sua força criativa de maneira positiva -sobretudo na construção das estruturas físicas e morais da “Estratégia Áurea”, com foco especial na agroflorestal e na educação integral- e a pessoa “perfeita” poderá avançar na sua senda de aperfeiçoamento e “socializar” os seus altos dons criativos, através do ensino e da orientação.

Fase 4: o pluriculturalismo. A partir da atividade criadora/regeneradora das Comuncidades, se exerce várias formas de fomento pluricultural, a saber:
a. A replicação das próprias Comuncidades que, ao invés de crescer se multiplicarão como células orgânicas, como modus vivendi natural de terceiro grau; através disto as cidades velhas e sobretudo as Monstrópolis já em crise terminarão de definhar e sucumbir, pois as pessoas em geral já não terão nenhuma razão para nelas permanecer.

b. A ampla difusão de pequenas vilas, aldeias e comunas rurais como modus vivendi natural de segundo grau, destinadas como vimos especialmente para aqueles que aspiram por uma vida de auto-aperfeiçoamento, mas agora também para o homem simples que poderá voltar a exercer atividades rurais sob a proteção das Comuncidades e ao abrigo da “Morte Organizada” e das cidades materialistas predadoras;

c. A habilitação sócio-ambiental para a vida nômade como modus vivendi natural de primeiro grau numa Natureza plenamente restaurada, como uma espécie de ideal áureo supremo que caracteriza a humanidade original pré-civilizada e também a forma livre de ser dos grandes homens perfeitos.

Resumo: O grande objetivo da “Estratégia Áurea” é a criação de zonas autônomas sustentáveis de deserção e de recriação pluricultural, como Noozonas de cultura integrada e holística. O objeto é fazer a vida reflorescer e se renovar, reunindo os tempos da humanidade ao resgatar e renovar valores, abrindo as portas para a vivência dos verdadeiros novos paradigmas da evolução humana. O resgate do passado apenas pode ser feito tendo os olhos postos no futuro.

A MetodoLOgia: A vida se renova se recriando alhures e não apenas se destruindo aqui. Um sistema apenas pode cair quando houver um “sistema” substituto e realmente melhor e mais avançado, mesmo que “natural” ou de perfil não-civilizador, capaz de substituir o antigo com vantagens. 
Um sistema não pode ser derrotado apenas pela sua desarticulação e sem se saber com certeza se a nova proposta é realmente viável e segura, uma vez que na ausência de referências sólidas novas todas as forças do velho se voltarão contra aqueles que pretendem destruir aquilo que já existe. Assim, nossas estratégias de libertação serão criativas e pacíficas e não serão ofensivas ou agressivas, pois consideramos este comportamento como anti-estratégico e eticamente contraproducentes; greves e boicotes ainda poderão ser aceitos mas considerados secundários.

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BREVE MANUAL DO ANARQUISTA ESPERTO


O anarquista que se aferra a velhas fórmulas corre o risco de dar ao inimigo toda a munição que este necessita para vencer. Pior ainda, ao tonar-se antiquado ele se aproxima daquilo que melhor define o adversário, que é representar uma visão-de-mundo ultrapassada e, o que é pior, atrofiada. O bom anarquista sabe evoluir com o mundo.
Quando vieram à cena os grandes teóricos (quase todos europeus), o mundo tinha uma feição bastante diferente da atual. Vamos mencionar apenas dois fatores, que se poderia todavia considerar capital: a maximização do poder bélico e a questão ambiental.
A saturação da força bélica coloca um imperativo determinante. Significa que já não se pode vencer o inimigo usando as suas próprias armas. A União Soviética tentou fazer isto e fracassou, mostrando ademais que esta via se tornou totalmente insana –foi a visão que teve Gorbachev. E com isto, a adoção de medidas estratégicas é que passa a ganhar valor.

Existem é claro a guerrilha e a sabotagem. Falemos porém da violência, que é aliás um meio para o marxismo e praticamente um princípio para o capitalismo. O sistema não vive sem bodes expiatórios. Muita gente lamentou o 11 de Setembro não por causa do atentado em si mas por suas consequências para o mundo, já que na ocasião o cenário internacional estava em fase de distensão. Sabemos fartamente que o Capitalismo (mas não só ele) comumente inventa pretextos para justificar as suas invasões e conquistas. Para o sistema, endurecer nunca foi nenhum problema - tudo o que ele precisa são de motivos e pretextos. E tudo isto apenas piora a vida das pessoas.
O impulso para a violência gratuita em contextos “condenados” nada mais representa que indisciplina e desorientação, fazendo apenas o jogo-do-inimigo. Gandhi era um guerreiro e nunca afastou de todo a possibilidade do uso de armas para combater, porém julgava que isto não funcionaria então. Já usando certo método oposto ele obteve grandes conquistas -o que tampouco sabemos se funcionaria hoje em dia.

O meio-ambiente, por sua vez, significa uma “causa” nova e tão séria quanto a social e que a esta deve ser somada. A crise ambiental acelera o relógio da História consideravelmente, demonstrando que necessitamos atualizar e diversificar visões-de-mundo: simplesmente já não podemos investir na espera da “evolução das mentes” que tanto se menciona no discurso anárquico...
O anarquismo quer derrotar o Estado e outras instituições opressivas. Porém, seria acaso viável passar os séculos e quase nada fazermos de concreto para edificar a nossa utopia –nos limitando antes a reclamar e a fazer pequenos gestos de vandalismo?!? Falemos sério por fim...

Que respeito pode pretender o anarquista que é incapaz de demonstrar a sua visão-de-mundo de maneira construtiva e realmente autônoma? Reduzir-se a culpar o Estado por tudo pode não passar de infantilismo e de acomodação.
Afinal, ofensiva, baderna e sabotagem pertencem apenas a uma das linhas-de-ações anarquistas propostas, que não obstante se veem atualmente altamente questionadas pela própria situação do mundo.
A deserção é outra tática muito importante, a sociedade alternativa em busca de um ideal de vida. Mas neste sentido, de pouco vale pequenas comunas urbanas para alcançar tudo que se necessita. Se é para termos uma ilha em meio ao oceano, que ao menos esta ilha tenha o seu resplendor! É preciso pensar na capacidade de socialização das nossas ideias.

Uma coisa é certa: de nada adianta a ofensiva sem poder contar com a defensiva. Enquanto as pessoas não tiverem minimamente formas de sobreviver e de afirmar a sua independência, significa que as coisas ainda não estão maduras e a presença da contradição no seio deste pensamento será fatal...
Certamente o anarquismo tem ainda muito a aprender, especialmente sob a mudança dos tempos. A evolução demanda e confere maior capacidade de raciocínio e de compreensão. Este avanço permite abandonar passo-a-passo velhas trincheiras ideológicas, entender por fim que nem tudo é tão podre como se imagina e que muita coisa apenas apodreceu como apodrece tudo o mais na vida.

De todo modo, urge resgatar e revitalizar a praxis da sociedade alternativa. A permanência dentro de um sistema contestado é somente mais um comodismo. Alguns podem argumentar que querem permanecer no “palco da luta”. Não vamos dizer que muitas vezes isto seja pretexto para abrigar velhas contradições e rendições, como poderia ser o desejo de estudar e ter uma carreira formal. Porém não deveria haver contradição entre atuar no velho mundo e buscar construir algo realmente novo, desde que a polarização fosse sempre em direção ao último.
Para que o anarquismo deixe de ser um fenômeno predominantemente etário e um impulso transitório, ele necessita organizar bases autonomistas sérias: apenas isto lhe poderá conferir maturidade e consistência. Enquanto o novo pensamento não contar com suas próprias bases, ele nunca passará de uma nota-de-rodapé no livro da História –e o que é pior, uma ilusão e um modismo fugaz.

Talvez muitos que adotem a filosofia anarquista sejam pessoas de caráter mais ofensivo, daí as dificuldades do convívio e da organização. De todo modo, os anarquistas devem ser mais flexíveis e saber somar forças com os afins para além dos seus pequenos grupos ideológicos. Há muitas correntes capazes de somar na busca de um mundo melhor e há anarquismo em muitas delas. Tanto a oposição ao velho quanto a ideia do novo necessitam ter uma face plural. E certamente há muito para se inspirar, para além dos chavões anarquistas e mitos românticos como os piratas que afinal estavam é a serviço do imperialismo...
Para concluir, este apelo à construção adquire uma força determinante quando se trata do Novo Mundo, onde todas as coisas estão ainda sendo construídas. A grande força desconstrutiva do anarquismo até pode apontar horizontes utópicos no cenário europeu, porém nas Américas ainda tão colonizadas e em busca de seus próprios caminhos -onde se demanda pois um parto e não uma morte- aquilo que realmente vale é dar o exemplo e apontar modelos.
Então, é hora de rever as luminosas brechas da História para nela finalmente podermos penetrar.


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