As duas grandes correntes do Socialismo


No século XX vimos florescer duas grandes correntes descritas naturalmente como “socialistas”. Cada uma delas se expressou com maior excelência em cada hemisfério do globo -ou no Velho Mundo e no Novo Mundo.
A primeira delas deriva -sem muitos rótulos-, do marxismo e almeja o comunismo, como praticada basicamente na União Soviética e prevalece na China e em alguns pequenos países.
E a segunda destas correntes principais ajustou-se ao Nacionalismo, comum na Américas Latina e também em outras regiões do mundo com menores consequências.
Também rotulada foi a Social-Democracia, surgida na Europa central e que, não obstante, jamais se declarou “socialista”. Pelo contrário, veio como uma forma de “ajustar” as lutas sociais “de esquerda” com a democracia e os próprios interesses capitalistas.
O socialismo marxista -uma utopia governado por intelectuais que tentam criar uma “cultura proletária” baseada no bem comum- possui poucas afinidades com esta corrente européia, contudo o Nacionalismo muitas vezes se aproximou dela devido ao caráter não-radical, não-classista e não-materialista do próprio Nacionalismo, pese a natureza também híbrida da Social-Democracia no Novo Mundo.
Alguém quererá talvez refutar que o Nacionalismo possui menos legitimidade para ostentar este título do que o marxismo. Isto seria falso, porque os nacionalistas buscam a visão de todo –do próprio Estadismo-, de modo que melhor do que ninguém eles sustentam a ideia social do coletivo integrado.
O socialismo marxista é classista, redutivo, globalista (embora a presença do racismo não possa ser negligenciada nas nações marxistas), proletário, velhomundista e materialista, ao passo que o socialismo nacionalista é integrador, holístico, autonomista (embora haja tendências solidárias entre as nações nacionalistas), aristocrático, novomundista e idealista. Enquanto enfatiza o marxismo discurso de classes rigidas, o nacionalismo visa eliminá-las paulatinamente.
Contudo, também ocorreram formas pervertidas de Nacionalismo, como foi o Nazismo, ele que justamente se declarava Nacional-socialismo, porém sucumbiu a posições extremas de xenofobia, tema que comumente surge de forma oportunista visando escravizar povos e nações.
A análise dos contextos históricos destas sociedades explica muita coisa sobre as pertinências ideológicas.

Ideologias: remédio ou veneno?

As ideologias possuem vocações naturais, são como medicamentos sociais e eventualmente idem servir e também como veneno. O uso inadequado de um remédio o transforma naturalmente em veneno. Infelizmente, por má fé ou por ingenuidade, é comum o transplante indevido das ideologias para regiões onde elas não cabem.
O marxismo surgiu na esteira de um longo processo histórico de desconstrução sócio-cultural na Europa, ao qual de certa forma concluiu. Por haver esta descontrução obviamente houve a certa altura um constructo acabado, que não obstante se cristalizou em castas rígidas e sem maior legitimidade, fundadas mais na “tradição” do que em funções culturais dinâmicas e criativas. A própria existência destas classes mais idealistas como o clero e a aristocracia, apenas acontece porque existe uma estrutura social produtiva e comercial de base. Então, as revoluções materialistas ocorridas desde a Revolução Francesa, apenas empoderam estas classes voltadas para a cultura material, de uma forma todavia muito perigosa para a cultura mundial e a estabilidade ambiental do planeta.
Dada a sua profunda extemporaneidade, o marxismo jamais conseguiu se firmar com maior força nas Américas, como chegou a acontecer com o Nacionalismo. Não cabe a nações em formação fomentar “lutas de classes” -quando sequer se possui classes bem desenvolvidas ainda-, isto representaria debilitar a nação e abrir os flancos para o imperialismo. Depois da Guerra Fria então, a sua possibilidade fica praticamente extinta, ainda que o sistema tolere o neo-marxismo cultural, uma vez que a força revolucionária disto tudo está tão abalada e ainda ajuda a alienar as militâncias esquerdistas com ideias socialmente inócuas.
Quanto ao Nacionalismo, é um verdadeiro alimento para as nações em formação e uma defesa ativa contra todas as formas de colonialismo. O Nacionalismo bebe naturalmente dos mitos e do romantismo para firmar a sua identidade cultural e forjar a nação. O Nacionalismo romântico teve um papel chave da obra de Hegel, inspirador do fascismo (a busca pelo Estado heróico ou aristocrático) mas também do marxismo por outras vias, tidas como ideologias “neo-hegelianas”.
As variações das ideologias sociais integram geralmente a esfera ampla da Aristocracia, que é a terceira classe social “clássica” –a nobreza d’alma-, associada ao governo social e ao ensino espiritual. Mais tarde ela virou sinônimo de luxo e de ostentação, depois que as monarquias se consolidaram perdendo o seu vigor renovador. Definimos a sua estrutura tríplice como guerreira-política-filosófica.
O Nacionalismo novomundista representa um proto-aristocracia -ou aristocracia-em-formação, faltando organizar apenas a sua essência filosófica: tarefa para este século XXI. O Fascismo, por sua vez, significa uma pós-aristocracia, tal como o Nazismo é um nacionalismo atrofiado.
O Nacionalismo surge na Europa já na era dos reis que constituíram os Estados-nações desde a baixa Idade Média até o Renascimento, sob o florescimento do mercantilismo que acabou apoderando a burguesia. As sociedades buscavam a sua unidade e identidade, contra a hegemonia da Igreja, a pulverização feudal e até as invasões árabes.
Os movimentos de Independência as nações empregam estes recursos para se fortalecer. Apenas quando uma nação se torna forte e poderosa, além de racialmente homogênea e consolidada, pode haver risco de xenofobia contra outros povos. Neste momento, o Nacionalismo deve passar a ser tido como uma simples reserva do Universalismo, uma fonte para beber e nutrir-se nas suas eventuais crises-de-identidade e mesmo de valores.
Por isto ele também pode se tornar um veneno em nações muito consolidadas. Depois da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha trazia um forte rancor por haver sido endividada e despojada do seu passado imperial e colonialista, ficando em desvantagem em relação a outros importantes países europeus -que inclusive distribuíram entre si as antigas colônias alemãs. Num contexto destes, o fomento do Nacionalismo pode representar pólvora pura, sendo natural porém surgir em contraste com o capitalismo invasor. Algumas nações foram algo refratárias aos modernismos. A Alemanha por suas fortes raízes naturalistas, a Itália com seu catolicismo e o expansionismo japonês, formaram as forças míticas do Eixo –que de algum modo comportavam núcleos socializantes- que deram origem à Segunda Guerra Mundial, empregando o nazi-fascismo e o nacionalismo para tentar reverter as tendências materialistas do mundo.

O Nacionalismo Novomundista

Vale então uma análise das posturas do Nacionalismo latino-americano nestes conflitos, sobretudo o sul-americano que conhecemos mais de perto.
O Nacionalismo social foi vigoroso na América Latina, tendo como pivô o caudilhismo através da formação histórica guerreira destes povos em suas lutas pela conformação das fronteiras coloniais e depois pela independência. Contudo, nem sempre os caudilhos conseguiram realizar mudanças estruturais internas. Não raro eles foram apenas usados pela burguesia para se emancipar das pressões colonialistas, em conluio porém com novas formas de colonialismo.
Foi o caso clássico de Simon Bolívar, que quando pretendeu começar as reformas internas dos países libertos, foi sumariamente tirado de cena. O mesmo tema foi imortalizado no paradigmático filme “Queimada”. Desta forma a burguesia solapou os “aristocráticos” interesses sociais das novas nações, dando margem para o fortalecimento do marxismo, que é seu fruto natural e com o qual ela convive melhor face o comum materialismo, levando o Continente de volta ao colonialismo.
Como a tendência nacionalista era forte na Alemanha, ocorreu uma aproximação entre estes países, e o mesmo se pode dizer da Itália, agregada pela colonização recebida destes povos durante os séculos XIX e XX. Neste contexto, porém, o Brasil emergia como uma nação forte e mais independente.
O Nacionalismo social brasileiro, implantado por Getúlio Vargas –chamado também de “caudilho” por haver promovido uma revolução social no país-, jamais flertou com ideologias radicais, xenófobas ou fascistas, da mesma forma que afirmou a sua natural ojeriza ao marxismo. O getulismo foi adversário do Integralismo, uma facção nazi-fascista brasileira que, apesar de fazer apologia do indigenismo romântico, primava igualmente pelo racismo. Ao contrário de outras nações da sua zona, o Brasil pouco hesitou a entrar na Segunda Guerra junto aos Aliados, porém tratou de negociar para isto novos marcos na sua independência econômica.

Novamente, contudo, o imperialismo deu o seu golpe, quando as mudanças sociais finalmente queriam apontar para questões estruturais. João Goulart e Salvador Allende eram porta-vozes destas mudanças pelas vias democráticas, ainda que Allende possuía formação marxista.
Com o final da Guerra Fria, o marxismo foi quase varrido do Ocidente, pese a resiliência corrosiva do marxismo cultural de Gramsci perdurar de forma oportunista nestas nações socialmente destruídas pelas ditaduras, sobretudo o próprio Brasil onde a ação sócio-desconstrutiva foi lenta e sistemática. Nisto, foi o próprio Nacionalismo, inimigo comum do dualismo materialista burguês-proletário, a primeira grande vítima desta Guerra não-declarada e nem sempre tão “fria” que inaugurou a era da guerra tática e estratégica no mundo.
Hoje o mundo redesperta assombrado com os rumos das coisas, dos escombros sociais tentam emergir novas mentalidades, por vezes simples refugos dos desvios culturais, outras vezes reminiscências de culturas originárias, entremeadas pelas aspirações ambientalistas e holísticas que surgiram também como contraponto alternativo à Guerra Fria e que hoje também repensam as suas ações, que não deixam de possuir funções sociais e até nacionalistas –a defesa da terra também é uma defesa do homem-, seguindo todas as análises acima apresentadas. E as pessoas terão que discernir entre o que é realmente melhor para si –a ideologia “melancia”, o ambientalismo holístico e outras que possam aparecer.

O futuro certamente será “verde” –será que as ideologias surgem apenas para compensar as nossas perdas?


Quando a Velha Ordem cair



A Velha Ordem “modernista” cairá por diversas razões, e se assim não fosse ela não cairia.*
Existem questões consideradas “clássicas” como a revolta dos povos colonizados, a indignação dos explorados internos do império e a insatisfação das pessoas esclarecidas de toda parte, sempre associado à decadência dos valores e dos costumes.
A “gota d’água” será a questão ambiental, que tampouco representa nenhuma novidade, já que desde que existe a sedentarização este assunto é coisa sensível na humanidade, a qual tem muitas vezes deixado atrás de si desertos e a desolação.
As estruturas coloniais se debilitarão - serão atacadas, boicotadas, abandonadas ou ruirão. As sociedades exploradas, colonizadas ou insatisfeitas farão pressão para se apoderar destas estruturas.
As guerras clássicas são porém um dos fatores de maior evidência nas dinâmicas de apoderamento (guerra colonialista) e eventual queda e debilitação (guerra anti-colonialista, invasões, revoluções, etc.).


Dinâmicas de renovação

Quando ocorrem movimentações sociais, algumas forças capitais atuam para instar, organizar e direcionar estas situações.

Os impulsionadores são os guerreiros (função militar).
Os organizadores são os políticos (função social).
Os orientadores são os filósofos (função intelectual)

Naturalmente todas estas coisas podem ou devem se achar mais ou menos entremescladas, sejam dentro de cada pessoa, grupo ou mesmo entre elas.
A título de esclarecimento, vamos apresentar as seguintes analogias com a Trimurti indiana:

a. Brahma, o Criador ................ os filósofos
b. Vishnu, o Preservador .......... os políticos
c. Shiva, o Destruidor ............... os guerreiros


Não seria difícil tentar “dar nome aos bois”, porém tal coisa serviria apenas como exercício intelectual ou de “futurologia”.
Ocorrerão invasões e não se pode prever exatamente de que direção ou dimensão. Porém isto não significa que serão tão dramáticas como são as ocupações colonialistas ou alguma política de terra arrasada que sucede mais entre inimigos crônicos (delenda Carthago), e sim algo mais libertário e desestabilizador como fizeram os chamados bárbaros através da História; afinal o enfraquecimento dos impérios sempre facilita as rebeliões internas nas nações colonizadas.

Chico Xavier teria trazido “informações” sobre a possibilidade de ocupações mundiais em todo o Hemisfério Sul após 2019, caso estoure uma nova Guerra Mundial e o Hemisfério Norte se torne praticamente inabitável. Porém isto não pode ser considerado realmente uma “profecia”, mas simples análises intelectuais de tendências, sujeitas inclusive a discussões sobre a coerência geopolítica dos enunciados, e onde a crise ambiental entra apenas na esteira da Guerra e não como fator das ações anti-ecológicas sistemáticas como tem acontecido (verdade é, contudo, que a crise ambiental deriva das ações de Estados belicistas).**
Assim, pode haver invasões, mas aquilo que mais deveríamos considerar é o próprio livramento das pressões colonialistas, tendo estas sim como as verdadeiras forças invasoras a serem afastadas. Quando os bárbaros derrubaram Roma ou a China, eles não estavam exatamente invadindo território estranho.

Algumas vezes os bárbaros apenas atacaram para debilitar as estruturas-de-poder, esperando que os setores insatisfeitos da população fizessem o resto. Alguns invasores foram por isto tidos pelos povos como libertadores.
Outras vezes trataram de renovar, reformar ou até desconstruir a administração dos impérios, dando maior liberdade às nações. A chamada “noite medieval” se deve em boa parte à ordem desconstrutiva imposta pelas sociedades bárbaras à Europa, conjugada com as ideias fraternas e monoteístas do Cristianismo tidas na época como revolucionárias e agregadoras.

As categorias críticas que se costuma usar para ler este período são meramente aquelas ditadas pela burguesia, as quais os filósofos materialistas admiradores da burguesia “compraram” sem rever, porque acharam que assim lhes convinha, o que representa todavia uma falácia porque a burguesia não é nenhuma tutora intelectual isenta ou inconteste do proletariado ou de qualquer outra categoria social.
Contudo, a conjugação medieval da ordem guerreira-espiritualista, é muito distinta da “dialética” materialista moderna centralizada no duo burguesia-proletariado. 

Quando terminarmos de colher os males produzidos por esta última –males talvez de uma extensão jamais concebíveis sobre o planeta Terra, e que sabemos não deverá tardar a serem conhecidos-, já não teremos receio de pesar cada coisa como realmente merece.

As forças da reconstrução

Assim, o melhor seria limitar-se a avaliar as dinâmicas internas das nações sob um quadro de livramento que de novas invasões. 


Caso estas aconteçam a situação poderá não ser muito diversa, uma vez que dificilmente existem invasões sem renovação e mudanças interfaciais.
Por esta razão trataremos de dar nomes locais aos nossos “bois”. Para isto voltamos também às categorias antes nomeadas: guerreiros, políticos e filósofos.

“Guerreiros”. Diversas facções politizadas urbanas e rurais se fortaleceriam e tratariam de ocupar sítios e fazendas (por sua vez os proprietários também poderão “abrir” as suas terras para os movimentos sociais), assim como as pequenas cidades e bairros de cidades grandes. Não haverá para onde fugir -dirão-, ou nos inserimos nos novos paradigmas ou seremos destruídos. Os diversos grupos visarão os seus chamados "alvos-táticos". Vândalos e anarquistas, em especial, fariam o papel de “novos bárbaros”, e poderão disseminar o terror e o medo nas cidades grandes para que as pessoas abandonem estes locais desumanos, estéreis e artificiais. Não se pode porém ignorar a força do crime organizado, que teria poder de dominar facilmente bairros e pequenas cidades, e eventualmente ensaiar atividades politizadas (como já acontece mesmo mais do que se imagina), afinal estas duas coisas facilmente se intercomunicam. Os riscos da atuação das máfias também devem ser considerados nesta hora, servindo de desafio para todas as categorias da renovação.

“Políticos”. Além dos guerreiros mais politizados, existem certas militâncias políticas inovadoras, associadas ao socialismo e ao ambientalismo, que podem atuar dentro e fora de partidos. Também seria de esperar o ressurgimento de forças nacionalistas, como uma síntese apurada destas tendências, através de uma forma de “nacional-ambientalismo” por exemplo. Dando ordem e corpo social consistente às atividades iniciais dos guerreiros, os políticos fariam assim o novo discurso social para as populações nos bairros, vilas e cidades, cuidando dos meios-de-comunicação e demonstrando as novas formas de economia popular e ambientalista. Naturalmente a demagogia se infiltrará sob muitas formas, e aqui entra o papel crucial da categoria seguinte.


“Filósofos”. A função da filosofia é dar direção para as coisas. O ser humano tende a atuar de maneira instintiva e impulsiva, sem maior reflexão e conhecimento-de-causa. O desequilíbrio e os radicalismos são males que comprometem o resultado das ações humanas. A missão da filosofia é harmonizar para realmente progredir. O principal objetivo dos “filósofos da reconstrução” será orientar as sociedades espiritualmente, mas nisto eles também buscarão influenciar os guerreiros e os políticos. Os novos filósofos são ecumênicos e ambientalistas, porém devem eles mesmos alcançar as sínteses devidas para poder auxiliar a humanidade e sair do isolamento, compreendendo o avanço das tendências religiosas mais recentes como é o franciscanismo e socializando devidamente os seus próprios saberes, atuando em cidades sustentáveis e em comunidades alternativas sociais.

Para alcançar tudo isto, várias formas novas de organização deverão ser postas em prática. A internet seria quiçá denunciada como uma forma de monopolizar os meios de informações democráticos a serviço do "Grand Father”, de modo que as pessoas retornariam aos poucos para os meios independentes de comunicação como é o rádio amador, a correspondência física, pombos-correio, etc.
O dinheiro será abolido e substituído pela troca e a doação. Como o supérfluo e o acúmulo serão descartados, juntamente com a cultura-de-massas, tampouco haverá razão moral para a existência do dinheiro.
Assim, a verdadeira Nova Ordem aos poucos se irá delineando, para além das quimeras dos velhos poderes corrompidos do passado.

* O termo “velha ordem modernista” ainda pode servir para comunicar aquilo que se pretende para as pessoas em geral, que é a futura transição para o pós-contemporâneo sob uma possível queda do capitalismo. Nas divisões usuais das Idades derivada dos historiadores franceses, estamos da Idade Contemporânea desde a Revolução Francesa, havendo porém outras visões -ver aqui, de onde citamos apenas isto: “A época moderna pode ser considerada, exatamente, como uma época de ‘revolução social’ cuja base consiste na "substituição do modo de produção feudal pelo modo de produção capitalista". Este “modo de produção capitalista” prossegue hoje todavia (pese os paralelos socialistas), e que os ingleses em especial abarcam sob a expressão "Tempos Modernos", a mesma usada por Charlie Chaplin no seu famoso filme. 
** Publicada postumamente em 2011 (Xavier faleceu em 2002), tratar-se-ia de comunicação feita a terceiros no ano de 1986, durante o último grande ápice da corrida armamentista, lançada pelo cowboy Ronald Reagan com o propósito de esgotar a União Soviética, no que se considera ter tido sucesso.
Na verdade, o famoso médium detalharia apenas uma América do Sul repartida entre as grandes nações desenvolvidas, citando por alto a África e a Austrália que supõe-se não obstante ter destino semelhante. Mesmo aceitando que os meridionais seriam assim tão impotentes para reagir ante nações de tal forma arrasadas, soa complicado crer num compartilhamento geral destas terras entre as grandes potencias, mais fácil seria imaginar a tendência delas meramente “atravessar o Equador” –por assim dizer- como fizeram em outras ocasiões.

Classes sociais & estados-de-consciência: “correlações originais”

Da mesma forma como uma fruta ao secar expõe o seu caroço duro, as instituições também perdem a sua essência ou fundamento com o passar do tempo, mostrando apenas as suas formalidades exteriores e perdendo assim a sua legitimidade social.
Soa um pouco difícil ao ser humano moderno imaginar que as classes sociais tenham uma relação de origem com os estados-de-consciência humanos, talvez falar de vocação soe mais fácil, embora não seja algo tão “simples”. A mobilidade social e a evolução cultural teriam mais relação com o assunto.


Uma das longínquas sociedades que levou este tema às suas últimas consequências foi a hindu. Pouca gente sabe que o hoje deturpado sistema-de-castas possui por detrás um método de educação (ashramas) específico e gradual para capacitar as castas (varnas), e que pode ser até permanente para a casta mais elevada. Aquilo que valia realmente ali era a vocação das pessoas, sem acepções de nenhuma espécie.


Tais sociedades originárias visavam um dinamismo social de base não meramente econômica, mas sobretudo cultural. Tanto que os Brahmanes (sacerdotes) encabeçavam o sistema, e pelo que se sabe eles nunca armazenaram maiores riquezas ou mantiveram exércitos.
Sucede porém que esta correlação se inverteu mais tarde ao se determinar as castas pelo nascimento; ainda assim se manteve os ashramas, com certas deformações.

Estas são pois as correlações existentes no varnashramadharma:*

Grau ou condição estágio (ashrama) casta (varna)

1ª iniciação (noviciado) estudante proletariado
2ª iniciação (discipulado) doméstico burguesia
3ª iniciação (iniciado) instrutor aristocracia
4ª iniciação (iluminado) renunciante clero

Assim, estava prescrito de início através de uma educação universal, que todo estudante também trabalharia ou serviria, como é natural pedir desta faixa etária jovem e inexperiente.


Porém, a certa altura o egoísmo e a vaidade, agravados pela questão racial, não permitiu mais que os filhos das castas mais “nobres” se sujeitassem a maiores esforços físicos –que na verdade apenas se tornaram realmente pesados porque nem todos estavam participando disto. Não é preciso insistir muito neste assunto, porque entre nós “modernos” também prevalece este tipo de preconceito contra o trabalho físico e a rígida diferença de classes, acarretando em várias deformações de consciência, onde ao pobre é vetado o conhecimento e ao rico é vetada a humildade –entre outras coisas.


Limitamos acima o nosso exemplo ao sudra (proletário) porque ele é de longe o mais prejudicado. Se tratou de privar esta classe do seu ashram de estudante, estancando assim radicalmente o dinamismo na sociedade hindu. Pois isto é como arrancar uma árvore pelas suas raízes: todo o resto do edifício social fica assim comprometido, e apenas se salva alguma coisa pelas brechas sociais oferecida pelos sistemas clássicos do Oriente. A estratificação social contudo é apenas uma resposta muito “meia-sola“, se a ideia era preservar o sistema.


Situações como estas provocam a revolta do leigo, que facilmente pode querer destruir toda a estrutura social. Contudo, tal como acontece no plano espiritual, a esfera social também é contemplada ciclicamente por reformadores e por restauradores. O próprio Buda fez na sua época um forte trabalho nos dois campos, e como tal não propôs a extinção do sistema de castas mas sim a sua relegitimação (ou refundamentação). A integração e a dinamização ideal deste quadro pode ser representada pela suástica, agilizando a dinâmica dos quatro elementos da Natureza. Outro símbolo do tema é aquele de “recolocar a roda do dharma em movimento”, tarefa dos chakravartins.

Os ashramas ou estágios cuturais: "educação permanente"

Contudo, aqueles que desejam aniquilar profundamente as estruturas sociais, também correm o risco de complicar a evolução da consciência coletiva. A falsa presunção de que todos devem ou podem fazer de tudo mais ou menos ao mesmo tempo, é ridícula e absurda. Quando se tem este tipo de pretensão nada é realizado com profundidade -e não estamos falando exatamente de “especializações”, mas sim de tempo e dedicação para se deter nas coisas, a fim de superar o amadorismo e conquistar o profissionalismo. Nem mesmo bons orientadores se teria de outra forma.


As escolas esotéricas terminam sendo muitas vezes redutos onde a evolução da consciência pode ser praticada através de uma reeducação profunda (donde Jesus pedir para as pessoas “renascer”). Ali nós observamos, através das sucessivas iniciações, a presença destas etapas sociais –comumente minimizadas ou atomizadas, naturalmente, uma vez que objetivos mais avançados se encontram bem definidos. Para que haja esta evolução, é preciso o constante ingresso de novos membros, liberando os mais antigos para novas funções.

Nada disto significa que as estruturas sociais tenham tido uma origem única, muitas vezes as “peças” foram se unindo naturalmente, e em dado momento se resolveu aproveitar estas estruturas para a evolução da consciência através do refinamento das instituições. Por certo tempo este quadro de iniciações coletivas pode ter dado certo, fundamentando as chamadas raças-raízes e configurando as Idades de Ouro e de Prata das sociedades e das civilizações.


* Este quadro pode estar sujeito a certas polêmicas especiais, uma vez que retrata situações ideais e nem sempre reais. A iluminação dos sacerdotes, em especial, somente agora será realmente possível alcançar, até então a humanidade não estava realmente preparada para tal.

Lei também

Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.
Editorial Agartha: www.agartha.com.br
Contatos: webersalvi@yahoo.com.br 
Fones (51) 9861-5178 e (62) 9776-8957



Os Dois Pilares da Nova Sociedade



Neste artigo trataremos de resumir aquilo que seriam os Dois Pilares da Nova Sociedade, visando uma renovação sócio-cultural definitiva no mundo e, em particular, no Novo Mundo em especial o Brasil. 

Faremos isto pois através de dois itens, e nada disto significa “pretender reinventar a roda”, mas apenas “recolocá-la em movimento” como prescrevem os orientais. Da seguinte forma:

1. Restabelecer o “Fluxo da Vida” – a medida “social”
2. Estabelecer a “Revolução-do-Meio” – a medida “cultural”

Passamos pois a analisar os temas –que representam “medidas indissociáveis”-, concluindo ao final com algumas observações gerais.

 1. Restabelecer o “Fluxo da Vida” – a medida social

O “Fluxo da Vida” é um nome mais genérico para aquilo que Hegel chamou de mobilidade social, porém com um sentido não tão econômico como tinha para os filósofos modernos. Vamos a um exemplo tradicional.
Note-se que, pese todas as críticas que se possa fazer do modelo social hindu, a pirâmide social hinduísta possui estrutura basicamente cultural e axiológica, e não tanto econômica. Por esta razão a “burguesia” está nas bases e os sacerdotes estão no topo, eles que não costumam deter maior poder econômico na Índia, mesmo que os brahmanes não sejam exatamente monges.

Claro que muito disto tudo está hoje corrompido. Vale notar porém que, por detrás deste sistema social, existe uma estrutura cultural de educação-permanente chamada ashramas, que determinava as castas (varnas) pela formação cultural e pela vocação das pessoas, sem quaisquer considerações outras. Só depois o sistema foi distorcido, estabelecendo o nascimento acima da educação e da vocação. O Varnashramadharma (“lei das castas cíclicas”) era, pois, uma espécie de sistema iniciático coletivo ou social.

Enfim, o “Fluxo da Vida” é apenas deixar as coisas fluir naturalmente, sem privilégios nem preconceitos de nenhuma natureza, e sem empecilhos para ninguém avançar, estabelecendo solidamente os alicerces da Fraternidade Universal.

Para isto as pessoas devem estar preparadas para a universalização da educação permanente em termos holísticos e integrais, o que implica em superar certos preconceitos elitistas contra ou a favor de coisas como trabalho físico e intelectual, especialmente naquilo que diz respeito às novas gerações.
Isto não significa que as pessoas deverão fazer “de tudo” o tempo todo (embora isto também deva estar disponível) como propugnam alguns, mas elas deverão sim ser estimuladas a fazer de tudo (forma de dizer, na verdade se trata mais de posições sociais e hierarquias de tarefas) por etapas.


2. Estabelecer a “Revolução-do-Meio” – a medida cultural

Vamos fazer aqui uma leitura desta expressão em três níveis.
Primeiramente, naquilo que pode soar mais óbvio, o termo “Revolução-do-Meio” implica em enfatizar e qualificar o meio-ambiente na sociedade humana. Este é um ponto pacífico e consensual em todos os projetos de sociedades futura, restando apenas discutir detalhes a respeito. 


Contudo, a palavra “meio” aqui não significa apenas ambientalismo, mas todo o ambiente em si. Cabe criar um novo modelo cultural para a sociedade humana. Afinal, como dizia o filósofo midiático MacLuhan, “o meio é a mensagem”. 
Adaptando esta ideia para toda a cultura, o ambiente no qual vivemos nos diz coisas todo o tempo (fenomenologia social interacionista). Por isto a educação e a cultura não podem estar divorciadas do nosso cotidiano. Enfim, não adianta muito apenas “pintar de verde” a nossa vida se não mudamos também hábitos e valores. A mudança da moldura deve refletir a mudança de todo o quadro, ainda que o stablishment venha obviamente a tentar mudar apenas aquela e não este.


Mas acima de tudo, o termo “Revolução-do-Meio” diz mesmo respeito à procura pela
Meso-Revolução. Este é um caminho central –e como tal realmente fértil e equilibrado-, em relação às duas vias de transição buscadas sob a Guerra Fria, uma interior “alternativa” e mais espiritual pelos “novos sábios” e “sábios guerreiros”, e outra exterior “guerrilheira” e mais física pelos “novos guerreiros” e “guerreiros-sábios”. A proposta média hoje em curso é a integrativa, sendo aquela que nasce da alma, reunindo enfim definitivamente sábios e guerreiros. E nisto, toca a estas categorias atuar conjunta mas prioritariamente em duas frentes: a desconstrução dos velhos ambientes e a construção dos novos ambientes.

Através isto, se trata por um lado (“alternativo”, através de sábios e de sábios-guerreiros sobretudo) de socializar os recursos e a experiências alternativas através de:
a. criação de estruturas sociais novas de alcance social, na expansão da comunidade alternativa ou da ecovila (embora estas também possam seguir existindo para certas finalidades) para a cidade sustentável e holística;
b. a formação ou a expressão social de agentes pedagógicos para difundir socialmente os conhecimentos adquiridos de forma mais ou menos autônoma, autodidata e underground nas recentes gerações.


Por outro lado (“guerrilheiro”, através de guerreiros e de guerreiros-sábios sobretudo), cabe canalizar a militância para a criação destes novos modelos sociais, atuando:
a. na denúncia do velho e na conscientização do novo;
b. coordenação dos comitês de êxodo urbano.

Não obstante, o engajamento interno também é essencial, para evitar o isolamento e o dualismo cultural. O engajamento sincero e profundo é a grande chave para o sucesso de todas as revoluções culturas profundas na História da humanidade. E isto pode ser feito especialmente por aquelas pessoas que por qualquer razão não podem ainda se desligar do velho sistema, e também por quem se acha capacitado a atuar ali de forma mais o menos contínua. A penetração no velho sistema deve ser profunda, com ênfase nos meios mais carentes e populares.
 
Assim, de maneira complementar, estes dois grupos principais também saberão dar uma atenção especial para melhorar o antigo modelo social, realizado atividades positivas também nas velhas cidades, como:
a. mobilizações sociais reivindicativas, conscientização midiática de cidadania e soberania;
b. replanejamento ambientalista e social, criação de comunidades urbanas fixas ou de transição, projetos sociais ambientais.
c. ensino e orientação social, cultural, terapêutica e espiritual. Etc.

Observações gerais

O leitor notará certamente que no item inicial “Restabelecer o ‘Fluxo da Vida’”, falamos sobre estruturas sociais holísticas, mas depois no item seguinte “Estabelecer a ‘Revolução-do-Meio’”, a ênfase foi quase toda para os sábios os guerreiros.
Tal coisa deriva da natureza da Nova Sociologia ou da Sociologia Novomundista, afeita para os estágios do constructo sócio-cultural do Novo Mundo, as Américas, especialmente as América Latina.


Sucede que, se numa Europa em desconstrução se tratou de ideologizar as classes materialistas emergentes em franco detrimento das classes idealistas que regeram aquela sociedade até o Renascimento, nas Américas a situação é francamente oposta, uma vez que já ultrapassamos aquela formação básica das classes materiais, tocando agora consumar a classe idealista e preparar a espiritual, tudo isto com todo o viço e inexperiência dos novos movimentos sociais.
Estes novos sábios e guerreiros são pessoas que aprenderam muita coisa na prática e não são pessoas elitistas, mesmo muitas vezes oriundos das elites. Ainda que não raro padeçam de alguma confusão natural sob a carga das ideologias alienígenas que buscam fraccionar socialmente -ou até “desconstruir” anarquicamente- a sociedade, coisas impossíveis todavia de fazer num mundo ainda em formação como o das Américas
Houve de fato entre nós também movimentos proletários e guerrilhas proletaristas nem sempre bem orientados. Hoje estas tendências são importantes na nação por causa do vácuo político deixado no país pelas intensas atividades retrógradas da Ditadura. Contudo, estas forças não ajudam realmente no avanço da nação, especialmente quando estas ideologias têm sucumbido já nas suas matrizes restando apenas a caricatura, o mito e o oportunismo.

De resto a proposta é que estas pessoas penetrem na sociedade em geral para trabalhar pelo direcionamento para as novas coisas, cientes que toda a ênfase materialista reforçará apenas duas coisas:
a. a atrofia cultural materialista (Ieia-se: burguesa-proletária) detendo o avanço sócio-cultural do Novo Mundo (que inclui o ambientalismo, o fraternalismo e a nova espiritualidade), e
b. o empoderamento das forças alienígenas predatórias, os chamados “interesses internacionais” de exploração (neo) colonialista, que tendem a instrumentalizar a seu favor especialmente as classes materiais, uma vez que estas possuem afinidades com os cursos da Sociologia do Velho Mundo - os quais não obstante já se acham muitas vezes defasadas e atrofiadas.


Com isto tudo estaremos finalmente dando “nome aos bois” quanto à nossa verdadeira identidade social americanista, e discernindo a nossa própria função daquela outra que prevalece na Europa, onde não existe interesse para o fomento de algo tão amplo e libertário como existe entre nós.
O Velho Mundo ruma hoje para uma Anarquia quantitativa/materialista, mas o Novo Mundo entrevê no seu “remoto horizonte” a grande estrela de uma Anarquia qualitativa/holística realmente renovadora para toda a humanidade.