Evolução da burguesia – uma solução cultural para a crise planetária


Somos uma sociedade materialista que perverteu o tradicional conceito de evolução sóciocultural por uma simples ascensão econômica, fixando os esforços no enriquecimento perpétuo ou, na outra ponta, na latente luta-de-classes. A imago homini resultante soa daí patética à luz do todo existencial, e os resultados ambientais não tardam em aparecer. Estamos destruindo rapidamente a nossa eco, a casa comum, apenas para alimentar valores limitados e irracionais ao deixar uma pegada tão pesada sobre a Terra...
Enquanto os materialistas tentam administrar o embróglio modernista, existem outros padrões-de-consciência –porque é isto que define basicamente as classes sociais- querendo redespertar no planeta, em busca de soluções mais refinadas para os graves problemas existentes, em grande parte resultantes destas visões-de-mundo limitadas, neuróticas e insustentáveis.
Muita gente não quer se identificar com a burguesia –uma classe que tem por meta essencial o hedonismo e a prosperidade material-, e tampouco “migrar” para o proletariado –onde é comum a pobreza e a ignorância-, ficando sem saber então o que fazer, como se não existisse nada mais no universo além desta miséria materialista!
As pessoas mal conseguem admitir que a superação dos valores materialistas as coloca numa outra condição sóciocultural, para a qual já não encontram nomes ou contextos, pairando antes uma mistura conceitual sem nexo e em boa parte estéril e contraditória. Mais ou menos como num parto onde a mãe se recusa a parir, resultando numa espécie de castração cultural e suicídio social, onde se tenta canalizar novas ideias através de antigos valores, ao passo que estes impedem que o novo realmente abra as suas asas e alcance os céus como lhe está destinado fazer...
Estes filhos da burguesia, que deveriam dedicar-se à construção de uma nova etapa cultural superior para não repetir os esforços de seus pais estagnando assim a cultura, terminam por canalizar os seus potenciais em atividades destrutivas como serem playboys ou aventureiros e abusarem das drogas, ou simplesmente passar o tempo de forma pouco edificante através de atividades semi-profissionais sem maior impacto ou significado.
Tais pessoas são românticas e sonham com o holismo, com a Natureza e com o espiritual. Porém, na hora de expressar as suas opções políticas elas são constrangidas e reduzir suas opções dentro do dualismo materialista burguês-proletário –por assim dizer- vindo das ideologias colonialistas alienantes. 
Teoricamente seria positivo que estes jovens ingressassem nos colégios militares, na política e no magistério, porém a situação ideológica destas instituições se acha hoje tão alienada que sente-se dúvida em fazer tais prescrições, com temor de que os seus freqüentadores se tornem fascistas, corruptos ou marxistas. Por isto uma opção tem sido mesmo as vias outsiders, que não obstante necessitam ser melhor organizadas.
Mister é dizer que esta situação não existia até algumas décadas atrás, quando o nacionalismo era visto como uma terceira via dentro da dicotomia imperialista da Guerra Fria capitalista-socialista. Depois das ditaduras a carga ideológica neo-colonialista chegou com força total e as pessoas ficaram sem rumo, quando não aderiram por equívoco e pressão às ideologias alienadas de matriz francamente européia.
A crise ambiental suscitada pelo materialismo (e também por certa religiosidade alienada) deve ser superada pelo avanço cultural e pelo refinamento dos valores. O materialismo deseja acaso que a burguesia “evolua”? Não, ele quer apenas que esta distribua os seus recursos para que o trabalhador possa ter algum progresso. A ideia da evolução geral não está realmente em pauta para eles, e sim a concorrência. Por isto as coisas dependem para mudar de uma outra forma de consciência e de novas dinâmicas sociais.
Nós não estamos propugnando o igualitarismo dos fins, apenas das origens e quiçá dos meios, e combatemos a desigualdade arbitrária. Não consideramos legítimo ao próprio homem querer definir o destino dos homens. Esperamos antes que todos os seres humanos possam desabrochar em seus potenciais sob a força dos elementos naturais e os estímulos da cultura universal.
Supõe-se então que a ideia da evolução cultural seja menos “afrontosa” para a burguesia do que a divisão patrimonial pura e simples com as classes “inferiores”, e certamente mais natural e positiva num contexto de construção social. Mesmo os pobres podem se beneficiar das alternativas que se abrem nas novas sociedades, uma vez que podemos comparar esta questão com a possibilidade existente no hinduísmo de sair do sistema de castas através da opção pelo monacato, onde se adquire novo status social; lembrando uma vez mais que a estrutura social tradicional tem base cultural e não econômica

Um novo estamento social

A ordem social se baseia na construção dos valores.* Para o guerreiro espiritual, o valor maior é a cultura. Nietzsche resume o sentir do espírito aristocrático ante o aviltamento da cultura e a apropriação da educação pelo Estado:

“Para que a educação e a própria cultura sejam o fim –e não o império-, são necessários educadores e não catedráticos do Instituto e sábios da Universidade. Faltam educadores, e abstração feita das exceções, falta a condição primeira da educação (...). O que as escolas superiores sabem fazer efetivamente é um adestramento brutal a fim de tornar útil e explorável ao serviço do Estado uma legião de jovens no tempo mais curto possível (...). Existe porém uma espécie superior de homens que -seja permitido dizer-, não gosta de carreiras, precisamente porque se sentem convocados.” (F. Nietzsche, “Crepúsculo dos Ídolos”)
Ou seja, este “homem superior” sabe-se convocado para uma tarefa maior que a simples carreira (que Nietzsche acentua o sentido de “corrida”) profissional. Diz-se comumente que “o aristocrata não trabalha”, reflexo de um período de progressiva decadência desta categoria, quando a aristocracia cada vez mais passou a se dedicar ao simples usufruto das riquezas hereditárias. Sua tarefa original era administrar as terras recebidas, estimular a produção rural de subsistência e cuidar da segurança, enquanto dedicava-se intensamente à cultura. Contudo, a classe emerge da consciência da necessidade do refinamento dos valores e como um gesto ao imponderável, recusando-se ao trabalho comum mercenário, pessoal e individualista. 
Para Nietzsche, o grande objetivo da cultura aristocrática está na educação do espírito”: aprender a “pensar”, “falar” e “escrever”, coisas que colocam a pessoa numa posição culta e socialmente hábil. Aquele que recebe uma vocação interior deve dar início aos esforços de auto-reeducação, até que paulatinamente se comece a organizar de forma independente uma nova e superior cultura, capaz de servi como nova referência para um mundo em franca decadência.

Tradicionalmente, existem quatro divisões socioculturais, reflexo dos mesmos estados-de-consciência humanos que se cristalizam amiúde como classes. São elas: proletariado, burguesia, aristocracia e clero. A dogmática modernista –mais especialmente a marxista- decretou que as últimas “pertencem ao passado” –o que até teria algum fundamento histórico uma vez que o poder destas classes tem ruído no Velho Mundo.
Porém, as coisas também são cíclicas e podem ser refundamentadas. Acaso hoje a antiga burguesia revolucionária iluminista não deixou de ser uma classe socialmente dinâmica? O próprio proletariado vem sendo questionado em sua capacidade universalista, através das distopias socialistas existentes no mundo. Afinal, como esperar uma evolução cultural dentro de concepções sociais tão limitadas? Ademais, o curso histórico do Novo Mundo é distinto do europeu, pois se este é desconstrutivo aquele é construtivo.
Dentro dos conhecidos ciclos sociais de 200 anos, as Américas estão organizando um plano-de-consciência terciário e portanto de perfil mental, associado à progressiva formação de uma aristocracia



Ou seja, os mesmos ciclos sociais observados na desconstrução cultural da Europa, ocorrem nas Américas num sentido inverso e construtivo por se tratar de uma civilização nova em organização, obedecendo tudo isto os planos naturais dos ciclos tradicionais das civilizações.
Hoje existe o caldo-de-cultura planetário necessário para prover esta terceira etapa do nacionalismo ou da aristocracia iniciática, contudo cabe organizar os seus ambientes de evolução social. As comunidades alternativas dos anos 70 foram pequenas sementes para futuros experimentos de maior escala que devem agora florescer na forma de cidades autônomas e sustentáveis.
Todo este processo faz parte portanto das camadas sociais emergentes do Novo Mundo, onde não faz sentido a ideia da luta-de-classes, e não apenas porque as classes ainda estão se organizando como também por ser sua meta a harmonia social através do nacionalismo social.
Os sucessivos golpes neocolonialistas sofridos na América Latina (e em outras Continentes) durante a Guerra Fria, soa à primeira vista como uma grande fatalidade; por outro lado ele também representa o adversário a ser vencido com grande inteligência, estratégia, determinação, ousadia, desprendimento, percepção, unidade, historicidade -enfim, algo que pode ser sabiamente empregado na organização e manifestação desta última etapa heroica da nascente aristocracia novomundista, como um desafio à sua estatura visando conformar a “casta de heróis” necessária como referência para toda e qualquer nova civilização holística. Em “O Fogo Interior”, Carlos Castañeda cita o uso dos tiranos na evolução da consciência; quanto piores eles são, mais podem ajudar contra o ego. Trata-se daí de ter consciência da tirania e empregar fórmulas para contorná-la, inclusive socialmente, sem pretender entrar em embates frontais desnecessários e fadados ao fracasso.
Todas as novas civilizações têm como meta natural a manifestação de um novo modelo de humanidade, e isto é muito distinto da distopia rasa da luta-de-classes. A visão-de-mundo aristocrática não está atada à lógica cartesiana, ainda que tampouco ignore as evidências. O seu campo de experiências é muito mais amplo e rico: o iniciado leva a sério o casamento do céu e da terra visando a libertação do espírito, e sabe que o caminho para isto passa pelo heroísmo.
O autêntico aristocrata tem acesso a outros recursos, saberes, forças e energias. Ele conhece os ciclos da humanidade e das nações, e atualmente está dedicado a cumprir os grandes decretos sagrados do Destino Planetário, tais como: “-Edificai os ninhos dos homens-pássaros do amanhã!” Esta frase que à primeira vista pode nada significar ao vulgo, para os filósofos iniciados está repleta de sentido. As nossas propostas seriam daí pela criação de novas comunidades fortes –ou novas cidades sustentáveis-, onde se começaria um socialismo verde e experimentos educacionais holísticos, visando sanear o quadro social e explorar os potenciais das novas gerações.
A importância destes ambientes se deve ao fato de quanto mais elevada for a camada social, mais necessita de locais específicos para a sua organização. Isto é semelhante à clássica necessidade do retiro espiritual prolongado quando alguém sente possuir uma autêntica vocação espiritual, a fim de afirmar devidamente os novos paradigmas de consciência. O mesmo acontece quando as pessoas sentem uma vocação iniciática ou aristocrática, sendo levadas então a investir criativamente no imaginário social, através da fraternidade, do ambientalismo e da cultura.


Iniciação solar e aristocracia 

O termo “aristocracia” tem sido mais associado a estamentos sociais europeus de grandes posses e privilégios até faz alguns séculos, em função do contexto histórico de empoderamento que esta classe atravessou na Idade Média e também no Renascimento. Curiosamente, pouco se fala dos mil anos que passaram de civilização cristã, especialmente na própria Europa, se preferindo antes tratar do chamado “apogeu” medieval quando também se manifestaram as suas grandes crises e transformações, através das Cruzadas em especial.
Este desgaste da imagem ocorreu, portanto, seja em função da acomodação de estruturas sociais consolidadas no passado, seja por causa da propaganda ideológica contrária da parte dos seus adversários históricos. A verdadeira cultura da nobreza está hoje depreciada em função sobretudo desta lavagem cerebral ideológica, mas os seus traços abundam pela força que tiveram na civilização mundial nos últimos milênios. Vale para isto estudar a boa literatura existente, especialmente os clássicos como o Bhagavad Gita e todo o ciclo do Santo Graal, onde as raízes espirituais e sociais desta classe se acham satisfatoriamente disseminadas.
A essência da “Sublime Canção” (Bhagavad Gita) está na consciência-do-dever como essência do guerreiro espiritual, havendo neste sentido o conhecido noblesse oblige (“a nobreza obriga”), ditado aristocrático europeu. Sem discernimento, responsabilidade e ação, ninguém pode alcançar a condição do guerreiro espiritual.
“Melhor morrer no cumprimento do próprio dever do que viver para realizar o dharma (dever) de outrem”, diz o sagrado clássico. E isto vale para todo e qualquer ser humano, seja o humilde trabalhador ou o abnegado sacerdote, tocando porém para tal elaborar sistemas adequados de educação social para desenvolver as vocações naturais que passam por oferecer possibilidades universais para todos como fizeram os hindus através dos chaturashramas, e não através de castas de nascimento (varnajati) como veio mais tarde a incluir este sistema por simples acomodação ou mesmo na piedosa esperança de preservar a estrutura social ante as transformações do tempo. 
Outra questão importante presente na mesma antiga instrução social, diz respeito ao trabalho desinteressado ou karma ioga. O guerreiro deve consagrar os seus serviços ao Altíssimo, sem colocar preço na sua criatividade, de modo que o seu tempo se torne também sagrado e imensurável. Muitos que recebem um chamamento interior, realizam espontaneamente este comportamento.  

O que representa realmente a aristocracia? O termo vem do grego areté, “nobreza”, denotando um estado-de-consciência mais amplo e não-materialista, seja pelo aspecto social como pelo ambiental e também o espiritual. É uma noção semelhante à dos kshatryas no hinduísmo, relacionados à administração política e associados ao grau do instrutor espiritual.
Ao perceber o estado caótico generalizado das coisas, o guerreiro da paz deixa de lado até as pressões sobre o governo e assume sobre si as responsabilidades dizendo: “Não pergunto o que a sociedade pode fazer por mim, e sim o que eu posso fazer pela sociedade.” Para isto, naturalmente ele começa as coisas através da reforma de si mesmo, num processo autonomista que até se poderia chamar de Autarquia, o governo-de-si (um termo de ampla aplicação), o qual não representa uma Anarquia porque todo o legítimo auto-aperfeiçoamento denota forçosamente a adoção de modelos e de autoridades, no caso, rigorosamente selecionadas pelo próprio autonomista através da regra oriental de que “o discípulo escolhe o seu próprio mestre”. O verdadeiro guerreiro sabe que o si-mesmo não pode ser reduzido ao ego ou ao particular, tratando-se antes de uma busca pelo equilíbrio universal, para dizer o mínimo.
Para isto ele também passa a atuar em sociedades intencionais de diferentes escalas, regidas por seres de consciência avançada, inicialmente como aprendiz e depois como instrutor. O guerreiro iniciado trabalha com a ideia da sociedade holística e universalista, onde as classes sociais são derivações de estados-de-consciência manifestos através de atividades profissionais. Empregando daí as correlações hindus entre ashramas (etapas-de-vida evolucionárias) e castas (as quais originalmente não estavam marcadas pelo nascimento), teremos o seguinte quadro:

a. Estudante (brahmacharya) .......................... proletário (sudra)
b. Doméstico (grihasta) ................................... burguês (vaishya)
c. Instrutor (vanaprastha) ................................ político (kshatrya)
d. Renunciante (sanyasin) ............................... sacerdote (brahmane)

Na prática espiritual, o terceiro estágio é o da iniciação solar, simbolizado no hinduísmo por hamsa (o cisne, veículo do deus Brahma), reunindo beleza e alinhamento interior. O símbolo denota a capacidade de “andar sobre as águas” com elegância, de conviver com o psiquismo (marca do grau burguês anterior) sem se afogar nas paixões, daí as técnicas tântricas comuns a este estágio. O elemento deste grau é Ar e sua técnica básica é a meditação.
O aristocrata possui a noção de evolução-da-consciência e do ambiente a ser trabalhado para tal, ele quer ver o ideal florescer e construir o paraíso-na-terra. Platão e Aristóteles propugnavam o governo da aristocracia cultural, dos mais instruídos, dos filósofos enfim. A aristocracia moral não está presa ao inatismo e à posição de nascimento, ele almeja que todos possam ascender à luz do conhecimento e adquirir a grandeza d’alma.
Muita gente possui uma inclinação aristocrática sem saber ou sem admitir, em função da pressão contínua da doutrinação ideológica burguesa-materialista. Estas pessoas permanecem daí numa grande confusão ideológica, sem saber exatamente o que querem e a que elas pertencem realmente...
Tais amarras devem ser vencidas em prol da renovação sócio-cultural. O ciclo nacionalista do Novo Mundo iniciado no século XX tem direta relação com a formação desta nova aristocracia. Como expressão das três gerações que organizam este ciclo social de 200 anos, primeiramente ele foi mais militarizado, depois mais socialista e agora será mais ambientalista e “filosófico”. As manifestações sociais que resultaram na Cultura Alternativa, têm direta relação com esta etapa final de consolidação da aristocracia americana, que representa a grande tarefa social do século XXI.
Isto significa que a organização da burguesia já se encontra mais do que atrofiada no Novo Mundo, havendo dado lugar grandemente ao nacionalismo social, cabendo agora a sua aristocracia nascente realizar um último esforço heroico para reduzir a difusão desta cultura aberrante e incrementar uma nova cultura de fraternidade, ambientalismo e espiritualidade. Apenas o Novo Mundo pode apontar hoje um caminho para uma evolução cultural holística no planeta, uma vez que no Velho Mundo as coisas tendem ao materialismo.
Obviamente muitos porta-vozes mansos de ideologias colonialistas podem protestar contra isto, com sua postura alienada comum. Contrapõem inclusive teorias estapafúrdias como da “extinção das classes sociais” ou a distinção artificial ente classes e atividades profissionais, propondo a homogeneização social reducionista e antiprofissional –coisa de resto cômoda quando se tem por detrás uma rica história social e uma estrutura sócio-econômica bem consolidada.
Na Europa atual em final-de-ciclo civilizatório (demonstrado pelos calendários sociais e pelos cursos históricos em vista), estas visões utópicas são moeda corrente e perfeitamente naturais. Já para as nações em formação, lutando para se emancipar e organizar, tal discurso serve apenas para debilitar as suas forças sociais e tornar as novas sociedades dóceis aos interesses colonialistas de toda a natureza, seja de esquerda ou de direita.
Desde a segunda Grande Guerra, não é nenhuma raridade ver o capitalismo e o colonialismo fomentando o marxismo para auxiliar na alienação das forças sociais nacionalistas. Estes conflitos ideológicos fazem porém parte das coisas, já que se almeja o heroico e o alternativo; outras pessoas devem ser esclarecidas dos fatos à luz dos ciclos sociais naturais e dos melhores e mais belos caminhos de evolução.
Em última análise, a sociologia idealista busca vincular os extratos sociais a estados-de-consciência e a graus de iniciações, razão pela qual as tentativas utópicas de homogeneização social se revelam contraproducentes. Os iniciados sempre podem preservar as suas práticas em ordens secretas, porém as idades de ouro da civilização dependem que seus saberes sejam devidamente socializados.


Desafios da evolução superior

A construção social idealista é evolucionária e refinante, enquanto que a desconstrução social materialista é revolucionária e densificante. Para a mentalidade revolucionária, o único trabalho legítimo é o dos camponeses/proletários, extensível naturalmente aos comerciantes/industriais que afinal criam empregos e fazem girar a produção.
Os sacerdotes e os guerreiros são ali simples parasitas sociais, e não profissionais úteis e especializados nas suas áreas. Tais atividades -dizem- não possui valor-de-troca -; mesmo porque valorizá-las soaria a conferir “autoridade e poder” (sic) a elas. Nada de aventurar-se em buscar algo como “consciência superior” e perder o pé-no-chão, a segurança cotidiana e o solo firme da “razão”...
Para os positivistas todo o valor absoluto depende do trabalho físico (produção & comércio), o resto seria apenas especulativo e exploratório. A espiritualidade não seria uma função social especializada ou essencial, nem legítima ou necessária a aristocracia que protege a identidade nacional. Não importam a alta transcendência e nem a defesa pátria.
Não se compreende que a religião possa ser uma escola social e a espiritualidade uma atividade que demanda dedicação integral. Os próprios ativistas ambientais burgueses não percebem que um franciscanismo poderia, com sua ampla penetração social, fazer muito mais pelo meio-ambiente do que todos estes técnicos-de-gabinete que só querem pintar o mundo de verde sem mudar os valores mais profundos da sociedade. Estes ambientalistas construirão o “Admirável Mundo Novo” huxleyano do homem mecânico-consumista, frio e vazio, enquanto outros quererão o verdadeiro mundo vivo e natural, com um ser humano semelhante nele vivendo.
Para os materialistas, as classes materiais mesmas devem prover a defesa e alguma espiritualidade, mesmo de forma laica e não-especializada. O materialista se contenta com a perfumaria mística e com sua terapia psíquica (como evitar afinal a neurose mental, quando o pássaro da alma é confinado na matéria?), além é claro de acatar mansamente uma dependência crônica das drogas -cada vez mais a sociedade burguesa é drogada, coisa que hoje já invade a própria infância. A espiritualidade verdadeira não é todavia para amadores, e quanto mais elevada a classe social mais especializada e instruída ela se destina a ser.
O heroísmo seria outro valor vão: “-Deixemos as guerras para os exércitos profissionais e mercenários”, dizem; “a soberania, a cultura e a identidade nacional não importam, e sim a riqueza material e a luta-de-classes”. Contudo, a ótica idealista não passa pela luta-de-classes, e sim pela formação integral do homem e da nação.
Ora, o culto do “óbvio ululante” pertence às bases físicas e primitivas da existência, e não integram a superior evolução cultural, aquela que vara a esfera da consciência-em-si. Sutilezas é para pessoas cultas e evoluídas, disciplinadas e humildes. Quem acha que pode tudo sozinho, sem ajuda de ninguém mais especializado, só enxerga na verdade o próprio umbigo – e não participa do Mais Alto sequer por procuração!
A aristocracia moral é uma elite autocultivada perfeitamente capaz de ser infensa ao elitismo, uma vez que se pauta sobre a partilha e a disciplina, razão pela qual muitas vezes se detectou através dos tempos o “socialismo aristocrático” (e mais ainda o “socialismo religioso”); desnecessário dizer que as classes guerreira e clerical costumam acatar de bom grado a vida comunitária. Podemos ademais desmerecer o patrimônio estético da aristocracia e do clero? Seguramente jamais.
Ainda assim, a nobreza necessita comumente do suporte e da orientação do clero para superar os seus limites conscienciais naturais (orgulho, separatismo, sectarismo) trazidos às vezes pelo próprio crescimento da força e da visão interior, ao passo que os religiosos se inspiram por sua vez em figuras de transcendência ainda mais completa como são os avatares, mantendo daí um contato mais direto com o Absoluto.
Por isto existe esta “dialética idealista” particular travada entre a aristocracia e o clero a título de complementaridade, da mesma forma como existe uma “dialética materialista” entre a burguesia e o proletariado. Nas sociedades feudais não havia uma burguesia, e para alguns sequer existia um proletariado. Hoje o quadro praticamente se inverte na Europa, porém o plano ideal é o da harmonia da estrutura social quaternária “das Origens”...
É certo que a cultura da aristocracia representa um desafio, por tratar com valores subjetivos, mas este é um desafio a ser encarado pela criatividade própria desta categoria social. A ascensão cultural demanda olhar além dos limites físicos, dar um salto no mistério para adquirir asas e fazer o seu voto no secreto para enxergar além do visível. Como efeito natural, os grandes ensinamentos espirituais auxiliaram o proletariado a compartir seu tempo criativo com a fé, e a burguesia e consagrar os seus excedentes em favor de novas propostas culturais, uma vez que estas oferecem uma rica visão-do-todo. As novas religiões como o Budismo e o Cristianismo o fizeram nas suas origens, entre outras medidas complementares.
Os ricos deveriam assim não apenas se dedicar ao conhecimento, como também investir em novas estruturas socioculturais, convidando ambientalistas e monges para coordená-las. Os filhos de famílias ricas, em especial, deveriam se consagrar eles mesmos à busca inverterada da Verdade, a fim de promover a evolução cultural no seio da humanidade.
A cultura superior não admite afinal o acaso e a fatalidade, ela quer dar um sentido e um objetivo às coisas. Por isto o planejamento está na sua essência. Como tampouco se inclina pela presunção e a desordem, mas se pauta pela disciplina e a impessoalidade, busca a via do serviço superior acatando os planos revelados pela deidade e pelos grandes mensageiros inspirados pela conexão segura com o todo, responsáveis por trazer ao mundo as grandes verdades da evolução.
Assim, através do contato nutridor com a Natureza, da aspiração fraternal que engrandece a alma e do serviço consagrado às grandes revelações que trazem a visão do espírito, a nobreza d’alma ergue o seu universo mágico e transforma a face da terra em direção aos grandes ideais de integridade e de perfeição.

* A evolução ou as transformações econômicas da humanidade sempre foram acompanhadas por avanços e mudanças nos seus valores culturais e até espirituais, havendo aliás uma “História Oculta” por detrás disto (concentrada nos esforços espirituais e culturais grandemente anônimos) à qual a humanidade pouco tem se dedicada, especialmente sob a cultura materialista moderna que tem inclusive trabalhado para ocultar e denegrir estes valores holísticos tradicionais.

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Anti-colonialismo versus luta-de-classes - qual via social leva ao progresso ou à estagnação?



Duas formas de atuação política e social –o anti-colonialismo e a luta-de-classes- marcaram as visões socialistas do século XX, sendo uma mais forte na Eurásia (luta-de-classes ou marxismo) e outra mais forte na América Latina (anti-colonialismo ou nacionalismo).
Quer parecer às vezes que estas lutas se confundem, porém essencialmente elas divergem entre si, inclusive no próprio campo-de-batalha, como demonstraram as últimas grandes guerras e sobretudo a Guerra Fria, cuja maior vítima foi o nacionalismo em toda parte.
Tarsila do Amaral, "Abapuru"
O marxismo e o nacionalismo divergem como visões-de-mundo, pois aquele é economicista-materialista e este é cultural-holístico. Existem também dinâmicas sociais e econômicas muito distintas em ambos.
A luta-de-classes representa atuar com um capital passivo, buscando dividir melhor o pouco que resta da exploração internacional num país. Mesmo considerando que as classes abastadas dividirão a contragosto os recursos adquiridos da exploração sócio-ambiental com as classes mais humildes, isto ainda limita enormemente os recursos que são continuamente drenados para o exterior.
A visão do conflito social é definitivamente muito rala diante da visão da defesa dos recursos da nação. A ideologia de luta-de-classes pode até ser cômoda em sociedades capitalistas antigas, bem defendidas e bem estruturadas, porém nas novas sociedades servem apenas para debilitar a sociedade ante o colonialismo, no caso, capitalista. Povo dividido não enxerga o mal que vem de fora e nem tem força para combatê-lo.

O marxismo não almeja conter o colonialismo econômico do capitalismo (ver apologias da exploração internacional no “Manifesto Comunista”), pois o marxismo está tão focado nos benefícios da classe proletária quanto o capitalismo está focado nos benefícios da burguesia. A rigor, o marxismo tampouco se escusa da exploração colonialista. Ambos rejeitam –em tese- o apólogo nacionalista, porém na prática tal coisa funciona bem como o liberalismo, qual discurso-de-exportação e propaganda ideológica para exploração internacional, onde os cartéis poderosos possam dominar as economias do mundo. O nacionalismo tácito e o próprio racismo sempre permaneceram forte nos grandes polos capitalistas e comunistas, não sendo rara sequer a escravidão (vide México e China).
O marxismo é assim um sócio mal-disfarçado do capitalismo, como uma antítese filosófica que depende inteiramente da tese original. O neo-marxismo é, da mesma forma, um sócio ativo do neo-colonialismo capitalista, para o qual escancara as portas das nações em troca da exploração desmedida de riquezas visando obter lucro fácil com commodities (matéria-prima), além de praticar o arrocho fiscal sobre a classe média (a qual costuma confundir com “burguesia”!).
Ademais, ao apropriar-se dos meios capitalistas de produção, o marxista poda o fluxo das iniciativas capitalistas que Marx tanto exaltou, então necessita correr atrás (espionagem industrial e militar, etc.) e cada vez mais se igualar ao próprio capitalismo.
O neo-marxismo (radicalização da social-democracia) alcança a proeza de desestimular tanto os empresários através dos impostos e da alta dos salários, quanto os trabalhadores através do assistencialismo, paralisando assim a economia e estimulando a inflação. Consegue assim transformar a própria classe trabalhadora em novos parasitas da nação, a par com os capitalistas exploradores “de sempre”.
Ora, se mesmo quando os trabalhadores alcançam se apropriar dos meios-de-produção as coisas já são bastante complexas e desafiadoras, que dizer quando o marxismo abdica desta “revolução permanente” para se reduzir ao assistencialismo? Tal coisa é patética e não serve para nada mais que a tentativa de perpetuar um projeto-de-poder, como acontece hoje no Brasil do PT.
Logo ao chegar ao poder, Lula acenou com esta renúncia à soberania nacional pela desistência de realizar a auditoria da dívida externa propugnada historicamente pelo seu próprio partido. Resolveu pedir aos banqueiros internos que a pagassem, a fim de transformar a dívida externa em dívida pública ou interna, o que lhe assegurou um lugar à mesa no festim internacional e a possibilidade de transformar a crise internacional em crise social, bem ao estilo (neo) marxista. Provavelmente este procedimento ainda merecerá alguma auditoria ou investigação, agora que se descobre o tamanho da corrupção protagonizada pelos governos do PT.
Em suma, o marxismo não favorece o trabalho e nem progresso e o aumento da riqueza, apenas empobrece os ricos para diminuir temporariamente a miséria dos pobres, a um alto custo para o meio-ambiente e as gerações futuras, desestimulando a produção da riqueza e da cultura. O marxismo existe apenas para contrastar a falácia capitalista, que tenta propor uma via de progresso através do crescimento da produção, onde a riqueza resultante se destina na prática apenas às elites.
O nacionalismo por sua vez, trata de estancar a sangria econômica (que ademais apenas fortalece o opressor) no país, permitindo o crescimento equânime e igualitário da sociedade. A proteção nacionalista assegura a contenção da riqueza permitindo haver recursos para a distribuição de bens para todos dentro da nação, afastando o fantasma bastardo da luta-de-classes. É por esta razão que os imperialistas e seus sócios capitalistas perseguem tanto o nacionalismo.

Os marxistas tampouco simpatizam com o nacionalismo porque os marxistas confundem apressadamente nacionalismo com xenofobia, coisa que apenas pode acontecer dentro das próprias nações imperialistas... Como o medicamento, o Nacionalismo –como talvez qualquer outra ideologia- pode ser remédio numa situação e veneno em outra. Consideramos por isto marxismo estrito colonialismo cultural em países novos. Socialismo é muito mais do que isto, basta conhecer a História, que nem passa pelo fascismo - aliás não seria nada difícil identificar este DNA independente na História do país se houvesse boa vontade, ainda que busquemos hoje inovações. 
Na verdade os nacionalistas é que possuem fartas razões para detestar o marxismo, pelas razões acima arroladas e outras, uma vez que o marxismo tampouco respeita a cultura e a identidade tradicional das nações. No fundo, os nacionalistas sabem que os marxistas também são imperialistas, e fazem o mesmo trabalho sujo dos capitalistas de invadir as nações e explorar o seu povo e a terra até a exaustão.

a falsa  "missão" civilizatória do imperialismo

Em última análise, o marxista participa da mesma ideologia iluminista e modernista de redimir as nações das “trevas” do passado, com suas crenças, superstições e estruturas sociais, levando a humanidade “ilustradamente” para as “luzes da civilização”! E nesta mais que duvidosa “boa intenção” sobressai toda a forma de exploração social, onde ademais o colonizado sempre será um sócio menor do próprio colonizador.
Pois que nos esqueçam apenas e nos deixem em paz todos estes parasitas materialistas. Nós saberemos separar perfeitamente o joio do trigo -seja do nosso próprio passado como daquilo tudo que oferece o colonizador-, ainda que a alienação ideológica alcance confundir muitas mentes desavisadas entre nós.
O nacionalismo não representa meramente uma opção nas lutas do socialismo, ele significa uma via autônoma e independente em seus valores e perspectivas sociais. Fala-se hoje sobre uma “terceira via” na esfera política, associada à Social-Democracia, mas na verdade esta mal passa de uma combinação híbrida entre ideias marxistas e capitalistas. A verdadeira terceira via sempre teve exposta através do próprio nacionalismo, constituindo uma síntese soberana que olha para além dos conflitos sociais, protagonizada inclusive por um novo extrato social, emergente especialmente no Novo Mundo onde a estrutura social ainda está em processo de construção. Este extrato social emergente sabe olhar pois para a unidade da nação e para as metas luminosas de um novo modelo de humanidade, acompanhando a evolução das coisas, sem perder suas raízes profundas cavadas na história e na evolução plena do ser humano.

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Sociedade-sem-classes ou sociedade-sem-privilégios-natos? A verdade sobre os alicerces das “utopias”


Uma das maiores dificuldades para colocar em prática os grandes ideais, está na deformação das ideias criando mitos inatingíveis, gerando frustrações sobre expectativas vãs. Parece que as doutrinas materialistas dos últimos séculos empobreceram o discurso social criando óticas simplistas e infundadas, sob os aplausos dos “pragmáticos” da teoria rival do darwinismo social que preferem usufruir as coisas da forma mais crua, e do qual o marxismo terminou por beber através da proposta da luta-de-classes.
O mito da sociedade sem-classes vem assombrando a humanidade há séculos, porém tal coisa não passa de sombra do grande ideal sociológico da sociedade sem privilégios natos –e a rigor sequer adquiridos, na medida em que não se deve contar com verdadeiros privilégios, salvo o livre exercício das vocações e das habilidades natas ou adquiridas.
A ideia da sociedade-sem-classes representa em si uma aberração, posto que as classes representam funções especializadas e setores organizados da sociedade, nos quais os indivíduos devem poder entrar e sair à vontade; servindo ademais para a evolução da experiência e da consciência. Afinal, tampouco se pode esperar igualdade de deveres, mas sim oferecer igualdade de direitos ou de oportunidades.
Existem muitas ordens de classes sociais na História, dizer que os guerreiros são meros exploradores do trabalho proletário é de um reducionismo espantoso que quer desconhecer o rol dos valores de uma classe e até de civilizações inteiras! Houve etapas da História onde prevalecia a inteligência e o idealismo sobre o interesse imediatista, e concepções elevadas eram realizadas. Sem buscar generalizações, digo que as classes expressaram basicamente estados-de-consciência e funções profissionais genéricas, e se existem degenerações isto já são coisas humanas e muitas vezes posteriores. Se estudamos o hinduísmo mais a fundo iremos descobrir até que as castas possuem escolas de formação por detrás (chamadas ashramas), e poderemos desconfiar que ali estão as suas raízes antes que o apego humano tenha cristalizado estes extratos culturais em condições-de-nascimento. Isto é apenas para lembrarmos que “existe muito mais coisa entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”. Hoje toda a nossa cultura não passa de uma sombra das luzes que um dia foram acessas no planeta.
Há quem imagine que as “sociedades indígenas” não possuem classes sociais, o que não representa exatamente uma verdade. Apesar de fragmentadas e diminutas, estas sociedades não só possuem classes (xamãs, tuxauas e guerreiros) como não raro elas também são hereditárias. Em muitas tribos os filhos herdam a condição de reis tribais e também os xamãs. Os guerreiros são o setor que mais representam uma classe (em número) nas sociedades tribais. De toda forma estas não são realidades que se aplicam a nós como sociedade-de-massa em transição, embora possam nos aportar certas referências positivas.
A pulverização das sociedades tribais se deve basicamente a fatores ambientais de sobrevivência -é a estrutura econômica mista de subsistência que remonta ao neolítico. Esta fragmentação também previne o excesso de poderes das classes mais sofisticadas, que ficam assim sob o “controle popular”, já que a tribo não pode ser considerada o “exército” de um rei ou de um sacerdote. Pelo visto, os bosquímonos da África e da América do Sul –cultura caçadota/coletora que remonta ao paleolítico- também sustentam uma estrutura social semelhante.
Afinal, como funcionaria uma suposta sociedade-sem-classes -de preferência que não fosse uma tentativa vã de voltar às tribos? Esta é uma questão real, porque se lê sobre utopias com visões impossíveis/inconvenientes como “todos devem fazer de tudo”, impedindo um aprofundamento mínimo nas atividades. Valorizamos especialmente aqueles sistemas sociais de educação permanente/integral que chamamos de “classes cíclicas”, onde a ascensão social acontece mediante o avanço cultural (refinamento da consciência) livre e universal (mas não compulsório) e não tanto pelo aspecto econômico, coisa que ao que parece seria bastante comum na Antiguidade, quando a sociedade visava mais os ideais humanos e não a simples experiência do “livre-arbítrio”.
Quanto ao caminho para buscar realizar isto, acreditamos que o melhor seriam organizar laboratórios sociais completos, para além dos falanstérios simples, e sim mediante cidades novas completas, pois o papel fundador das cidades possui grande prestígio e tradição. Adiante voltaremos a isto.

A qualidade do trabalho

Cada ser humano traz ou adquire naturalmente certas características, que o faz tender para esta ou para aquela atividade, ao mesmo tempo em que ele pode desejar mudar de atividade com o passar dos anos em nome do refinamento da experiência. Tal coisa pode ser realizada mais ou menos dentro do mesmo reduto social.
As atividades nem sempre diferem na sua forma exterior, mas também nos seus conteúdos. Um lavrador que trabalha em sociedade com um burguês poderá ter a sua atividade qualificada de modo distinto em relação ao trabalho de quem atua em sociedade com um religioso (“a religião não é em si um mal, o mal é a má religião”). Esta axiologia-do-trabalho é muito valorizada no hinduísmo, onde o trabalho “gratuito” ou “desinteressado” (aquele que não objetiva recompensas pessoais e nem coloca valor limitado ao tempo-de-dedicação) recebe o nome de carma-ioga (serviço espiritual, consagrado ou impessoal).
Por “osmose”, o servidor e o aprendiz irão adquirindo as características dos setores por eles escolhidos ou destinados, e naturalmente poderão ascender socialmente dentro desta categoria social, o que representa uma forma de evolução social e cultural. Alguém também poderia preferir supostamente mudar radicalmente de estrato social. Porém a educação é muito importante neste aspecto, e nem sempre é fácil escapar das impressões da fase inicial da vida quando importantes questões são impressas nas bases-da-consciência, ainda que na vida de muita gente brilhe uma “estrela” que o auxilie a se libertar das influências mais nefastas ou a fazer um bom uso das experiências adquiridas.
Naturalmente, a verdadeira "estrela" há de ser o sistema social igualitário-de-raiz, e com metas de ascensão cultural. As classes sociais tradicionais não possuem base econômica (mas cultural), embora isto facilmente resulte por degeneração dos sistemas. 
Contudo, o tema da “predestinação” também pode representar um problema, estando bastante sujeito a desvios e a crendices. Uma das principais fontes pseudo-filosóficas da cristalização das funções sociais, é a deturpação (ou a radicalização) da ideia de predestinação, através da reencarnação em função dos méritos adquiridos. Tais concepções terminariam originando o sistema de castas da Índia (entre outros), sistema social que na verdade era de início infenso a este tipo de desvio, uma vez que estava baseado nos ashramas ou etapas educacionais como base das classes, num sistema social precioso que misturava escola iniciática com estruturas sociais. Para alguns analistas, o Brahmanismo áryo tardio representou a deturpação do sistema védico das origens. O racismo seria uma das causas disto, uma vez que os invasores áryos eram brancos enquanto que os drávidas eram negroides, e estes foram expulsos tanto para o sul da Índia como para os fundos do sistema social.
O direito à ascensão social deveria ser uma norma universal. Contudo, o contraste racial –geralmente provocado pelo colonialismo- representa sempre um forte desafio. Nas sociedades colonizadas o caminho natural será a miscigenação, porém nas metrópoles os problemas se agravam através da xenofobia. O convívio do "outro" é tolerado nestas apenas para prover a mão-de-obra servil "necessária", com escassa permeabilidade social, de modo que o quadro pode soar ainda mais desafiador. Tudo isto apenas acrescenta a importância de se organizar ambientes especiais para a harmonia social.

Os laboratórios sociais

Enfim, para concluir esta matéria com uma nota propositiva, vale lembrar sempre a importância dos laboratórios sociais. Nossas propostas são mesosociedades rurubanas federativas, onde funcione a democracia direta e orgânica. Elas não contradizem a existência da macropolítica de massas, mas afirmamos veementemente que é sempre mais sábio criar o novo do que curar o velho, e a melhor forma de renovar o velho é também afirmando o novo. 
Tende a ser muito mais fácil fazer avançar as coisas criando novos ambientes sociais do que tentando modificar os antigos, seja por qual via for. Porém não bastaria para isto a escola, por mais importante que esta seja. A comunidade ou a sociedade deve ser totalmente remodelada, para não oferecer contrastes (ou contradições) demasiadas que possam comprometer os objetivos da escola através do convívio desnecessário com informações negativas e com pessoas de outras formações culturais, antes que a pessoa esteja realmente preparada para tal, momento quando poderá passar a ajudar estas outras pessoas ao invés de ser por elas prejudicada.
Para estes efeitos, a grande proposta é criar comunidades e cidades inteiras novas, onde as “más influências” (violência, consumismo, drogas, etc.) sejam simplesmente mantidas do lado de fora. Tal coisa representa a forma mais direta, clássica e viável para a revolução, colocando a cultura e os valores na raiz da sociedade como deve ser, e não o oposto como pretende fazer o fetiche humanista. A cidade é perfeitamente capaz de oferecer aquele “todo” que o ser humano necessita, sem a necessidade de incluir negatividades. Por isto há tempos já que as imagens das Cidades míticas têm substituído a Natureza simples e os Templos no imaginário utópico das idades.


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