Sabemos que o
anarquismo enfatiza a desconstrução das estruturas culturais rígidas, dos
condicionamentos e da submissão humana. Contudo, a ciência demonstra que a
consciência da criança necessita ser construída por etapas –e esta é uma das tantas descobertas recentes da
Ciência, posteriores aos grandes teóricos anarquistas do século XIX.
Como se
comporta o anarquista diante desta delicada questão? A resposta dependerá de
sua própria habilidade e discernimento, assim como das “linhas” anarquistas a
serem seguidas.
O anarquista
radical buscará apenas proteger a infância, podendo “carregar” na ideologia na
educação e formar crianças rebeldes ou omitir-se e sequer dar uma educação mais
consistente, ou mesmo fomentar uma educação longe das escolas e até da
sociedade.
O anarquista
moderado (leia-se: equilibrado) buscará preparar a infância, podendo livrar a
criança dos conteúdos massificados da educação oficial e conferir currículos mais
apropriados a cada faixa etária e cuidando para evitar maiores contradições
entre o meio social e doméstico e a escola.
E o
anarquista light buscará adaptar a
infância, podendo adotar provisoriamente algum sistema de educação alternativo,
sem cuidar maiormente do conjunto do ambiente educacional mais amplo da criança
como família e sociedade.
Da atuação social
Posto isto, é
importante notar que também existem sociedades-em-construção como são as do Novo
Mundo, nas quais o papel do anarquismo deve ser criteriosamente medido,
voltando-se mais para o combate do colonialismo e a alienação do que realmente
à desestruturar as instituições.
Os
anarquistas são comumente arautos da morte da civilização e da desconstrução
das estruturas culturais humanas. E isto é muito complicado quando temos um
novo mundo em construção como ocorre nas Américas. A Eurásia integra uma
cultura que teve já o seu apogeu e vive uma longa desconstrução rumando para o
ponto-omega da sua própria evolução. Ali o anarquismo nasceu, floresceu e
possui o seu papel-de-excelência.
O Velho Mundo
é como se fosse um homem completo rumando para a sua decrepitude já, buscando a
sua volta à infância espiritual para ingressar de alma limpa no Além, ou no
Todo. Porém, no Novo Mundo nós sequer temos ainda um homem (social) formado,
então não há o que realmente “purificar” e sim o que proteger.
Assim, neste Novo Mundo a grande luta se dá contra o colonialismo opressor, e não contra estruturas sociais legítimas que ainda precisam ser construídas, para obtermos a integridade sócio-cultural necessária. Soberania, nação e dignidade, ainda são causas a ser batalhadas no Novo Mundo, sob pena de ter a sua existência virtualmente abortada.
O anarquismo
visa solapar estruturas sociais, porém o que quer que isto possa significar na
prática, deve-se minimamente precaver contra a possibilidade de que todas as
pessoas virem escravas dos mais alienados interesses externos por falta de
unidade e de organização própria. Do contrário, o único destino da Anarquia
será simplesmente sonhar com a extinção da humanidade ou do planeta...
O Estado também deve possuir a função de proteger a sociedade, porém esta também deve estar suficientemente mobilizada para controlar o Estado, o que inclui contar com bases autônomas produtivas eficientes onde a Anarquia poderá ser predominante. Sem uma forte mobilização e organização social o Estado cresce, oprime e aliena, deixando de ser representativo dos interesses sociais. Quanto mais autonomia o povo alcance, menos ele necessitará do Estado, que deve ser progressivamente reduzido a funções mínimas reguladoras, provedoras e administrativas da cultura-de-massas remanescente, tornando assim possível esta Minarquia.
O controle do
Estado será alcançado quando o Estado contar e mantiver princípios
auto-reguladores eficazes, e até mesmo mecanismos “autofágicos” capazes de
promover a plena liberdade humana através da autonomia econômica e cultural.
Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.
Contatos: webersalvi@yahoo.com.br
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