As Esquerdas” do Século XXI

Aqueles que associam o avanço social a classes fixas e definidas, poderão estar praticando alguma forma de reducionismo histórico (fixado em circunstâncias momentâneas), uma vez que tradicionalmente as classes sociais emergentes são apenas veículos para o avanço e as mudanças sociais em qualquer tipo de sociedade. Uma revolução significa um salto de dinamização social coletiva em favor de uma classe emergente. Ademais, as frentes que compõe as chamadas “classes revolucionárias” nunca são socialmente homogêneas como se quer imaginar.

Assim -e para limitar-nos ao contexto ideológico assim definido-, a ideia de “Esquerda” surgiu quando a burguesia vitoriosa quis se contrapor à aristocracia (e eventualmente ao clero)* depois da Revolução Francesa. Mais tarde, sob o contexto opressivo da revolução industrial (e quando a aristocracia havia se fundido ainda mais profundamente à burguesia), o proletariado se levantou para ocupar a posição das Esquerdas, ao mesmo tempo em que desponta o Anarquismo como visão política alternativa
, e já como semente de uma etapa futura da humanidade. O processo poderia ser estendido para momentos anteriores da desconstrução da civilização europeia, quando por exemplo a organização da própria aristocracia também representou um avanço social em relação ao status social medieval através da formação das nações.

Historiadores e sociólogos tem observado a existência de um ciclo de 200 anos nestas mudanças sociais, ao menos desde o final da Idade Média. O mesmo ciclo pode ser notado nas sociedades em construção, como aquelas do Novo Mundo, onde no Brasil por exemplo, as capitais federais mudam de região a cada 200 anos para acompanhar as evoluções sociais deste continente –pois aqui ainda não falamos de “revoluções” por se tratar de um quadro de construção social e não de desconstrução. Nestas sociedades em organização, as classes ainda se acham em construção, de modo que este constructio é que representa suas transformações socioculturais. Aqueles que jugam que as classes simplesmente não devem existir, não compreendem o componente cultural vital que se acha na raiz das estruturas sociais, para além das circunstâncias históricas.

Então, estas mudanças sociais representam a transformação do controle do poder da civilização através de uma nova classe social emergente, quando a antiga classe que está no poder passa a manifestar também os vícios da corrupção e da opressão.

Os marxistas costumam dizer que, uma vez que o proletariado realiza a sua revolução, então tudo está resolvido porque já não haverá classe a ser oprimida. Nisto falta, porém, atar vários pontos, tais como.

1. PÓS-CLASSE. Considerar devidamente a visão "pós-classes" que traz o anarquismo, como etapa revolucionária pós-estado. De modo que isto concentraria o cerne das mudanças socioculturais da Europa pós União Soviética
, num quadro de verdadeiro “final da História” (européia ou hemisférica) portanto.

2. TRANS-CLASSE. Respeitar as essências culturais das restantes classes sociais, como estruturas de consciência, para além das problemáticas econômicas e das circunstâncias históricas.

3. PRÉ-CLASSSE. O quadro “pré-classes” da exclusão social nas “sociedades periféricas”, uma vez que a problemática social do mundo não começa com os “proletários explorados” e sim com a exclusão aviltante existente sobretudo nas sociedades colonizadas ou pós-colonizadas.


O avanço do Novo Mundo

Neste último item, voltamos a tratar então das citadas “nações em construção” onde, apesar de permanecer parcelas significativas de exclusão social, também existe uma relativa evolução social. Ocorre que neste processo formativo, dá-se igual ou maior ênfase ao cultural que ao econômico.

Considerando os ciclos sociais de 200 anos antevistos, o Novo Mundo acha-se na atualidade organizando a sua terceira classe social, aquela que recebe no jargão sociológico tradicional o nome de “aristocracia”, ou a cultura dos guerreiros, como classe idealista e esclarecida, com capacidade de consciência de nação ou de sociedade unida. 
A aristocracia tradicional não é uma classe voltada para administrar herdades nababescas, e sim uma categoria de idealistas geralmente militarizada e despojada, que vivem em vilas e nos acampamentos militares, ainda que as relações com o poder terminem por descaracterizar até as melhores vocações, mesmo as religiosas.
Na verdade, este é o grande contexto cultural do socioambientalismo, filosofia emergente e original do nosso país e que representa a sua grande vocação sociocultural, através de modelos sociais populares inspirados nos campesinos, quilombolas, caiçaras, indígenas – e ecologistas. Podemos observar inclusive, que o Fórum Social Mundial cada vez mais vem sendo ocupado por estes atores em todo o mundo, seja porque as “Esquerdas tradicionais” têm chegado ao poder e se desgastado, seja porque estes movimentos socioambientais realmente representam melhor as novas urgências planetárias.

Esta classe de nobreza d'alma pode se expressar através do nacionalismo social ou do socialismo nacional, inclusive naqueles moldes que o marxismo definiu como “utópico” (em função das formulações idealistas de “Utopia” de Thomas More), assim como do ambientalismo e da espiritualidade.
Neste aspecto, caberia sobretudo à burguesia novomundista esclarecida buscar esta evolução ou promoção sociocultural em prol desta nova etapa aristocrática, tratando de fazer avançar a justiça social e a própria consciência humana; coisa que tendem a fazer alguns dos mais ricos e também muitos filhos da burguesia e da classe média. Podemos entender a opção alternativa do Movimento Hippie e derivados como perfeitamente representativo deste processo histórico novomundista.

O nacionalismo social tem realizado conquistas já no Novo Mundo, uma vez que tem passado já um século da sua existência. Prova disto é a construção de Brasília, segundo o avanço do calendário sociocultural do Hemisfério ou do Continente.


Cada etapa social de 200 anos cobre três gerações destinadas a fundar, consolidar e transformar uma dada cultura social. As três naturezas da aristocracia tradicional são definidas como militar, política e filosófica, constituindo também a cultura nacionalista das gerações dos guerreiros. A etapa “militar” é fundacional, como aquela que implantou a República no Brasil. A etapa “política” valoriza a polis e as instituições sociais, por isto as novas capitais são criadas nesta etapa média de consolidação. A nova e última etapa do nacionalismo social é a “filosófica” de adaptação e resgate de valores, encampando o ideal comunitário e, através disto, os modelos sociais nativos tradicionais; donde também as “utopias” das novas cidades sustentáveis e socialistas ou fraternais, laboratórios para uma efetiva renovação sócio cultural no mundo. Mais uma vez vale a menção aos Movimentos Hippies e derivações dentro destas novas aspirações socioculturais ambientalistas.

E assim, tratemos de resumir os quadros ideológicos aqui delineados para fins de avanços socioculturais no Século XXI
, elegendo para a sub-etapa novomundista um termo específico para a geração em pauta:

Europa (ou Hemisférios Norte/Oriental) = ANARQUISMO (Desconstrução)
Américas (ou Hemisférios Sul/Ocidental) = SOCIOAMBIENTALISMO (Construção)

Soa evidente que algumas regiões serão mais representativas do que outras, achando-se algumas também posicionadas como “zonas-de-transição”.


Desentranhando o caos ideológico

Não poderíamos deixar de observar a grande confusão e perda de rumos que os cenários ideológicos cruzados do mundo produzem amiúde, com especial prejuízo para os povos em formação. Como parte de uma guerra de propagandas, a cooptação ideológica é imensa e cruel; o falso discurso humanista impera em todos os espectros políticos, e o materialismo termina por devassar mentes que a rigor buscariam o espiritual e o universal. Com isto muitas nobres vocações são desviadas e terminam reduzidas em suas aspirações; o espiritual se confunde com a simples terapia e intelectualismo e o universal se substitui pela mera tolerância desengajada.

A perseguição e o patrulhamento ideológicos são atrozes, geralmente atirando pechas injustas e injustificáveis, na tentativa de nivelar tudo por baixo. Como qualquer ideologia, o Nacionalismo possui muitos vieses, e a legitimidade de cada ideologia depende inteiramente das circunstâncias históricas. Porém, não é incomum um esquerdista radical rotular com uma face um nacionalista de “fascista”, e com a outra face usar as ideias e conquistas nacionalistas para as suas próprias causas. Contudo, podemos demonstrar que, hoje, a Esquerda marxista também se confundiu com a situação e com o poder, perdendo a sua legitimidade como dinamizador de avanço social mesmo na Europa.


Neste sentido, o colonialismo ideológico não atinge apenas as Direitas –e isso vale também para os próprios núcleos dos impérios socialistas, cujas nações de entorno são profundamente oprimidas e espoliadas até o nível da escravidão. Como sucede nas críticas realizadas pelas ideologias européias a modelos sociais, culturais e econômicos que para elas são considerados passados, mas que para as sociedades em formação ainda são coisas que pertencem sine qua non ao seu próprio futuro. Endossar cosmovisões alheias acriticamente, representa alienação das mais graves e fatais para cada indivíduo, para a sociedade e para o próprio destino do planeta.

O conhecimento dos calendários sociais tradicionais, tal como trazemos nesta matéria, é fundamental para a detenção uma precisa Ciência da História. Estes calendários tendem a não desmentir as grandes ideologias, mas ajudam a discernir quadros complexo como o do multiculturalismo e da globalização, assim como situações desafiadoras como o “final da história” hoje em processo na Europa, quando as dinâmicas sociais internas deverão encontrar um repouso final, assim como questões refinadas como é a organização prática do Nacionalismo Filosófico na América do Sul em especial.
Quanto mais complexas e sutis são as situações, mais convém contar com instrumentos específicos para a sua análise e administração. A sociologia europeia, para exemplificar, trabalha com uma dialética histórica local, porém também existem “dialéticas” noutros continentes e até questões 
mais amplas de âmbito planetário.

* Maliciosamente, a burguesia impôs um modelo político de conciliação que lhe era afim, mais ou menos como atrair (e manter) o adversário para o seu próprio campo de batalha. A melhor aristocracia teria sempre dificuldades para encarar os jogos políticos ou convencer as plebes da nobreza das suas causas; mesmo porque a democracia aristocrática não é a representativa e sim a direta.
** Podemos dizer aqui que o socioambientalismo se completa com a espiritualidade, tudo isto perfeitamente representado pelo arquétipo tríplice que simboliza a terceira geração da aristocracia, que é o do signo de Sagitário, por se tratar da nona geração na formação do Novo Mundo, ou na completação da terceira classe social.

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Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com
 cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.

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Porque o Brasil consegue se ferrar sozinho, sem ajuda estrangeira?

Combatentes da Guerra de Canudos (1897)
Volto a este assunto apenas para desenvolver melhor alguns tópicos: o nosso país nunca alcança vitórias sociais definitivas, sequer localizadas, porque o Estado sempre conclama as forças nacionais para combatê-las. E isto substitui na prática a intervenção internacional, mas acaba quase como sendo o mesmo, e um problema que países de menor porte não precisam muitas vezes sofrer –coisas que em parte justificariam as aspirações separatistas de alguns estados da nação.
Vamos agora a outros tópicos para refletir.



Revolução russa, 1917

1. Outras grandes nações fizeram revoluções! Sim, e daí se pergunta: como fizeram os grandes países que realizaram revoluções?? Aqui caberia observar que, por regra geral, as revoluções apenas podem surgir quando existe um treinamento incidental do povo em armas, através de alguma guerra externa. No Brasil, o mito do país-de-paz (entre tantos outros que o completam, como o do não-racismo) mantém o povo alienado das coisas. E se as coisas realmente chegar a um grau de tensão no país, a ameaça de intervenção externa pode se tornar real, como ocorreu em 1964 no Brasil, sob o golpe militar mascarado de “revolução”.

Os golpistas de 1964
2. O estrangeiro realmente não participa? Na verdade o estrangeiro já está presente todo o tempo, diluído e poderoso na própria máquina do Estado e no cotidiano das pessoas. Já faz muito que o imperialismo estuda forma para prevenir revoluções, e a mais eficaz delas é justamente manipulando e administrando golpes e revoluções a seu favor, como ocorreu entre nós desde a proclamação da República. As revoluções republicanas são os maiores golpes-de-marketing da burguesia na História moderna do planeta. Uma vez consolidado o golpe, a chamada “ordem de direito” pode retornar, seja porque as instituições terão sido já suficientemente minadas, seja porque é melhor para os negócios, evitando revoltas e instabilidades, através do mito da democracia representativa da cultura de massas.


Chacina de Vigário Geral, 1993

3. A revolução ou guerra civil não acontecerá no país? Muitas vezes as nossas lideranças sociais preferiram abdicar a aceitar a Guerra Civil, como ocorreu sob João Goulart e talvez com Dom Pedro II. Contudo, é mister saber que o Brasil sempre fez a Guerra Civil preventiva, através da chacina cotidiana de pobres e negros por exemplo. Mesmo que o crime organizado seja muitas vezes armado, ele não possui substrato ideológico para buscar uma revolução. Ademais, as ideologias sociais estão em crise no planeta todo, e aquilo que vaga e lentamente a vem substituindo está muito mais relacionado ao ambientalismo e à uma “cultura de paz”.



4. Existem alternativas à vista? Alternativas à violência da revolução social foi uma opção de muitos desde os primeiros tempos da Guerra Fria. E os horizontes atuais da crise ambiental trazem maiores perspectivas de uma revolução cultural progressiva do que realmente social e violenta. Se formos capazes de perseguir as raízes e as origens da democracia nas sociedades de médio porte (ao invés da utopia da microsociedade ou da ilusão da macrosociedade), através do fomento da cidadania em nossas cidades mais humanas, é possível que alcancemos criar ilhas de esperança que podem pouco a pouco podem contaminar toda a nação. Talvez até convivamos por muito tempo com o fantasma do golpe e da perseguição, caso avancemos para algo mais digno e humano, mas este pode ser um preço a pagar no aprendizado de ser humano.
O primado da meso-revolução -que é a revolução cultural, não comportamental e nem civilizatória-, tem sido a grande chave das mudanças duradouras das sociedades através dos tempos, porque sintetiza todas as coisas. 

Leia também
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* Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.
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Comuncidades - a nova face da Utopia



A utopia soft tomou a forma da comunidade alternativa desde os primórdios da Revolução Industrial, que também incrementou a urbanização maciça visando concentrar trabalhadores industriais, servidores e consumidores potenciais em torno das cidades como polos da nova etapa da economia global.

Projeto "New-Harmony", Robert Owen, Indiana,1838.
O idílio social rural era o contraponto natural a esta situação opressiva, e inspirou as primeiras propostas de contestação através do “socialismo utópico” de Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e Robert Owen (1771-1858). O termo foi forjado por Engels, quem pretendeu trazer depois, juntamente com Marx, o “socialismo científico” através do envolvimento das massas trabalhadoras na revolução violenta, para implantar a ditadura do proletariado –ou aquilo que se poderia chamar hoje de utopia hard.
Os hippies dos anos 60 seguiram mais ou menos a linha dos utópicos originais, buscando organizar comunidades rurais, embora não fossem raras as comunas urbanas. Este movimento alcançou o Brasil nos anos 70, já adaptado às circunstâncias locais de ditadura militar. Havia modelos inspiradores como Findhorn (1962) na Europa e The Farm (1971) nos Estados Unidos -além das comunidades de artistas e naturalistas como Monte Veritas, e nascida ainda sob a égide do “socialismo utópico” (falanstérios, etc.) em 1900.

Membros destas comunidades originais fizeram parte das fundações da cultura espiritual alternativa e comunitária brasileira, como Sara Marriot (de Findhorn, Escócia, para Nazaré Paulista, SP, com Trigueirinho), Ida Hofmann (fundadora de Monte Veritas, Itália, para Monte Sol, Palmital, Paraná) e Emma C. de Mascheville (de Monte Veritas para a Comuna de Cristalina, Goiás), quem foi madrasta de Swami Sevananda (Sítio Mãe d’Água, Belo Horizonte).
Estas e outras correntes–como a Antroposofia, a Ananda Amarga e a Grande Fraternidade Universal- apadrinharam o nascimento do Movimento Comunitário no Brasil. Contudo, este movimento –“organizado” pela ABRASCA- sempre abrigou distintas correntes “complementares”, e naturalmente se manteve associado também às cidades.

Durante a Ditadura, as Comunidades rurais eram uma alternativa orgânica ao fechamento político. Porém, após a Guerra Fria em especial, este movimento sofreu transformações, pois imaginava-se que a própria política pudesse voltar a alimentar as utopias sociais – com destaque para a reforma agrária. E assim, as comunidades cederam lugar para as ecovilas, onde geralmente existe maior ênfase na propriedade e uma oferta de serviços especializados. 
Com isto, percebe-se uma clara aproximação daquilo que sempre se soube: “as únicas comunidades que realmente funcionam são aquelas que possuem uma filosofia definida por detrás, senão mesmo uma hierarquia interna.” Com isto, o aspecto anárquico reduz-se quase somente ao individual...

Um novo olhar para as cidades

Apesar das tendências anarquistas, o movimento comunitário cedo tendeu para as ideias de centro e unidade, seja convergindo para os “corações das terras” (Chapada dos Guimarães, Chapada dos Veadeiros, etc.), ou “flertando” com as cidades sob diferentes formas e circunstâncias. 



O próprio conjunto de desafios da vida rural (que recebe ainda tão pouco apoio do Estado), fez as pessoas olharem com mais carinho para os problemas das cidades. Não obstante, as relações urbanas seguem mal definidas, como um verdadeiro “elo perdido” das ideias alternativas. Enxerga-se ainda as cidades como “males necessários”, para situações-de-transição e fontes de recursos. 
Talvez se intua a dimensão dos desafios que representa transformar uma cidade, e talvez as pessoas não se sintam capacitadas para assumi-lo. Nisto, emerge não obstante paralelamente novas utopias -para além da distopia” da ecovila-, com destaque para as Cidades Novas!
De fato, mais que “um novo olhar para as cidades”, mereceria a nossa atenção hoje um olhar para a proposta de Novas Cidades. Começar as coisas do nada pode parecer difícil, mas ainda assim costuma ser mais fácil do que mudar o velho.

Ora, se a vida rural se apresenta tão difícil e as cidades representam um polo de atração tão forte para as pessoas, nada mais lógico do que buscar uma síntese entre estas propostas! Comumente o caminho-do-meio traz as verdadeiras respostas para as nossas angústias.
Até agora, muitos têm se abrigado no reducionismo, como antídoto ao gigantismo do sistema global. Primeiro foram as comunidades rurais, depois foram as pequenas cidades. Além, é claro, dos centros urbanos de serviços especializados –lojas naturais, oficinas de ioga e meditação, etc.
Podemos considerar que o abrigo das pequenas cidades –Alto Paraíso, São Lourenço, São Tomé das Letras, etc.-, representou a grande surpresa e a inesperada “inovação” dos movimentos comunitários, modificando o perfil cultural destes locais e redespertando nas pessoas o antigo ideal rururbano que constitui a mais antiga face das utopias da Era da Civilização.


Contudo, estas pequenas localidades ainda dominadas pela cultura tradicional podem representar apenas o meio-do-caminho, e não um verdadeiro caminho-do-meio. Para conseguir fazer “virar a correnteza” a favor do novo, seria necessária muita luta e organização, assim como um aporte realmente massivo de pessoas de nova mentalidade para estes locais. E ainda assim, os instrumentos de mudança seriam bastante tradicionais e, como tal, questionáveis sob vários aspectos, até quanto aos resultados.
Porém, comumente os próprios porta-vozes do Movimento Alternativo tampouco são seguros o suficiente daquilo que almejam, e sua capacidade de organização social já tem sido posta à prova com pífios resultados. 
Apenas os “encontros” anuais seguem atraindo mais pessoas, até porque ali elas acham mais pessoas, como ocorre nas cidades...
Há que se aprender, e não insistir em reinventar a roda. Precisamos resgatar sabiamente os códigos reais da Civilização, e não se limitar a negar algo comodamente, apenas por estar sendo mal empregado atualmente. Como dizem os hindus, basta “recolocar a Roda da Lei em movimento”.
A partir disto, a criação de novas cidades-comunidades –ou “Comuncidades”- trará todas as respostas que necessitamos. Poderemos finalmente implantar ali os paradigmas de Nova Era, dos mais físicos aos mais espirituais, com grande impacto sobre o mundo. Além disto, teremos na Cidade Nova um polo alternativo de atração e de transformação ativa das coisas, onde a relações com o velho se manterão ao mínimo necessário, investindo antes na sua transformação contínua. O espírito de militância e o engajamento será a raiz deste movimento. 


A Cidade Nova trará o resgate da utopia alternativa que hoje se esvai sob as ecovilas de caráter profissional e pecuniário, assim como a realização dos sonhos de mudança, obstaculizados pelas antigas dicotomias campo-cidade geradas sob o sistema oficial opressivo. 
Obviamente, há somente que cuidar do sistema social na Cidade Nova, para que seja realmente harmônico e autêntico.

Assista também aos videos
A Cidade Orgânica - integração do ambiente social
Comuncidades - Parte 1Parte 2 


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A Usurpação do Estado: a mentalidade liberal/materialista não representa uma “Política” real – os avanços futuros



A palavra “política” envolve a um só tempo “muitos” (poli) e cidade” (polis). Assim, política é a arte de administrar-para-muitos e também administrar-a-cidade, a qual no conceito antigo podia envolver a Cidade-Estado, coisa que hoje vemos como Nação.
Jaz implícito nisto, pois, administrar a diversidade sócio-cultural urbana, porém devidamente agregada às suas periferias. De fato, sabe-se hoje que a ideia antiga de cidade não se limitava à área urbana, envolvendo antes uma unidade centro-periferia perfeitamente integrada.
Ocorre que a dupla ideia povo-cidade, acha-se bastante interligada historicamente. Antes das cidades, aquilo que se tinha em termos de “assentamentos humanos” eram as tribos e as aldeias, quiçá as vilas também, sempre demograficamente reduzidas.



A concentração humana nas cidades deveu-se ao aumento populacional e a certas modalidades de economia, como são a agropecupária ostensiva e os modelos-de-exportação em latifundios. Ao lado disto, existe o papel “administrativo” ou palaciano original, ademais de centralizar certa cultura cosmopolita.
Contudo, as coisas têm um propósito ou uma função, que para funcionar deve ser bem administradas. Caso contrário, elas deixam de ser na prática aquilo pelo qual foram criadas, podendo manifestar apenas sombras do que deveriam ser.
Quando a “cidade” deixa de ser bem administrada, tampouco teremos um exercício político sadio e verdadeiro. Esta é a situação do ciclo histórico de transição em que vivemos, quando a política e a cidade se acham em crise.
O que significa, então, administrar bem a “cidade” –ou o Estado? Basicamente, seria prover qualidade-de-vida para todos, e promover a cultura e a liberdade. É preciso manifestar a intenção de promover o Bem Comum, ao contrário de manipular a sociedade em favor dos interesses de alguns poucos.

Ora, o gigantismo sempre foi inimigo do verdadeiro humanismo e da própria sustentabilidade, razão pela qual as sociedades tribais se mantinham em pequenos grupos. Todo gigantismo físico atua contra a individualismo e pela coisificação/massificação, algo tanto mais grave pelo fato do ser humano poder manifestar uma individualidade marcante.
O Estado sempre representa um desafio face a sua dimensão, razão pela qual se destinou à uma política especializada de forte peso cultural, que por definição passa por elites natas. O conceito de Estado integra um certo nível-de-consciência universalista com tendências intersociais e até suprasociais, associado à nobreza ou à aristocracia tradicional. Os guerreiros trabalham com a disciplina, e quando se voltam para a Natureza e para a espiritualidade desenvolvem dons da Alma.


Porém, quando o Estado cai nas mãos de ideologias liberais ou materialistas, ocorrem inevitavelmente tragédias sucessivas, podendo conduzir até mesmo a hecatombes planetárias...
A Filosofia Perene define estas duas formas como Estado Solar e Estado Lunar, e ambos podem ser simbolizados pela suástica. O Estado Solar possui o movimento centrífugo da suástica destrógira que irradia energias ao modo de sintropia, e o Estado Lunar possui o movimento centrípeto da suástica sinistrógira que concentra energias ao modo de entropiaTambém se pode falar de pirâmide e anti-pirâmide, evocando a forma do octaedro, uma vez que a suástica e a pirâmide são símbolos muito relacionados.


No momento em que se reconhecia que as classes dirigentes atuavam em ordens, sujeitavam-se a disciplinas e eram discípulas de forças superiores, tudo mudava de figura e a confiabilidade era tácita e creditada. Já nas repúblicas, se oferece o mito da “liberdade” –o liberalismo “nem lei, nem dei, nem rei” onde tudo é permitido-, que para as massas é porém mais um mito.
Ao apoderar-se do Estado, as elites liberais ainda mantém alguns ideais nobres, porém cada vez mais o poder cai nas mãos da anarquia e da corrupção, dando margem também para o materialismo.
Isto tudo leva a confundir Política com Administração, ou Governo com Estado, sem sombra de Projeto-de-nação. Para a burguesia, o Governo se torna um negócio ou uma forma de proteger os seus negócios. E para o proletariado, o Governo é uma forma de participar ou até de se apropriar dos negócios que são iniciativas da burguesia.
Nada disto atende aos verdadeiros propósitos do Estado, que almeja harmonizar ideologias e transcender as classes fixas. Portanto, tal coisa poderia ser chamada de uma “usurpação” de direitos adquiridos, ainda que uma administração corrupta e hereditária sempre dê margens às revoluções oportunistas.
No segmento a seguir, buscaremos trazer respostas para a crise de representação notada no presente final de ciclo sociocultural, após analisar a formação das estruturas culturais.

Um panorama da evolução cultural humana

As estruturas culturais humanas –com suas respectivas modalidades econômicas- derivam do amadurecimento e da organização antropológica das classes sociais, representando daí igualmente primados de Sociologia.
Podemos levantar então as seguintes correlações primárias entre classes sociais (ou ideologias-de-base) e as instituições humanas –sempre considerando, é claro, o caráter naturalmente cumulativo, complexo e misto destas estruturas:

  instituição       sociedade      modus vivendi               economia

a. Educação      proletariado     nomadismo          caça/coleta/escambo
b. Família         burguesia         sedentarismo       agropecuária/comércio
c. Estado          aristocracia      civilização            moeda/indústria
d. Religião        clero                planetarismo        recursos/mutualismo

Assim, o ser humano começou a organizar socialmente o seu trabalho através do conhecimento (ciclos e ritmos naturais, etc.). A organização da família como núcleo social estável, está naturalmente vinculada à cultura sedentária e à classe comerciante. O Estado, por sua vez, emergiu paralelamente com a organização das cidades e da classe guerreira. E a religião acha-se diretamente vinculada à racionalização dos recursos planetários.
Cada uma desta etapas culturais emerge a cada cinco mil anos, aproximadamente, como se observa mais notoriamente pela organização da agropecuária faz uns dez mil anos e pela organização da civilização há uns cinco mil anos.


Isto significa que nos achamos na iminência da chegada de um novo modelo antropológico ou sócio-cultural, e que os modelos anteriores também se encontram altamente deteriorados. Porém, quando ocorre uma inovação, também acontece a restauração parcial de todo o anterior para fins de infraestruturação do novo. Em contrapartida, no final de um ciclo, todas as classes sociais também buscam a sua experiência de administrar aquela instituição central, a fim de avançar e evoluir culturalmente.
A nova etapa cultural será religiosa, mas então se pergunta: “-Ora, que novidade existe afinal na religião?!” Ocorre que a religião esteve até agora nas mãos de uns poucos e tem sido uma instituição parcial e incompleta em função do subdesenvolvimento espiritual humano, que impedia não apenas a realização espiritual completa, como também a sua disseminação qualitativa, por assim dizer
Apenas agora, com a chegada da sexta raça-raiz, o chakra do coração se torna realmente acessível para o conjunto da humanidade, permitindo a consumação evolutiva do reino humano.
Para realizar de fato a religião plena, é preciso compor todas as estruturas socioculturais anteriores satisfatoriamente. Este fato é mais conhecido ao nível da iniciação, pela qual o ser humano alcança estados-de-consciência mais avançados trabalhando com os "Quatro Elementos" em ambientes específicos.
Contudo, esta dinâmica que integra espiritualidade com evolução social, cabe melhor às novas sociedades em construção, uma vez que as culturas antigas tendem mesmo ao materialismo.  Afinal, para o europeu e até para o asiático, pode soar chocante dizer que devem regressar à sua Idade Média... já não é assim com as sociedades emergentes, cuja situação ainda é pré-medieval, isto é: colonial ou neo-colonial. Neste caso, os autênticos Nacionalistas (ambientalistas, socialistas nativos, culturalistas, etc.) representam o universo da proto-aristocracia, semente da Nobreza futura.
Não obstante, a ideia saudosista da “restauração” pouco sucesso haveria de ter em nossos dias, senão atrelada ao avanço cultural humano. Neste caso, devemos atentar para os modelos culturais necessários para viabilizar a nova cultura social. 

Certamente isto terá relação com aspectos mais psíquicos do que intelectuais, porém não cabe imaginar um regresso às tribos, e sim uma reforma profunda da própria Civilização.
O caminho seria dar às cidades uma função sensível, devidamente embelezadas e adequadamente integradas ao meio ambiente, assim como mantidas sob proporções consideravelmente reduzidas para preservar a sua estatura humana. Estas novas cidades serão então laboratórios para experimentos espirituais profundos e também sociais e conjugais avançados, onde se buscará uma perfeita harmonia entre a individualidade e a coletividade.
Será esta, portanto, uma sociedade de perfil expressamente sacerdotal, voltada para as coisas da Alma, sobretudo, mas cuidando de todas as etapas culturais através das suas estruturas sociais, naturais-vocacionais e sempre abertas à evolução, as quais podem ou devem ser experimentadas passo-a-passo por cada pessoa, na construção de uma consciência humana integral e perfeita. E isto descreve, em linhas gerais, o varnashramadharma ou a “lei das classes cíclicas”, do Brahmanismo original.


Ver  mais:
Classes Sociais & Estados-de-consciência: correlações originais


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Coletivismo: a grande chave de Sustentabilidade



Algumas das grandes motivações das críticas e perseguições burguesas ao comunismo histórico, passa ao largo dos moralismos conservadores de base religiosa, achando-se por exemplo no aspecto anti-consumista que apresenta o comunismo em geral, através da disponibilidade do compartilhamento de bens.
A expectativa da sociedade-sem-classes ou mesmo de um nivelamento comunista, presente em ideologias como o marxismo, leva muita gente ao desespero e até com razão. Contudo, o ideal comunalista representa muito mais do que uma ideologia histórica, ele é uma base cultural para certas classes sociais.
Nisto se encontra, pois, outra das preocupações para a hegemonia e o imperialismo burguês: o temor do ressurgimento de culturas 
pujantes e de sociedades tradicionais sobre bases socialistas ou coletivistas. 

Contudo, nem todas as sociedades marcham na mesma direção, e neste andejar necessitam atravessar etapas semelhantes de organização socioeconômica, sob pena de terem as suas estruturas socioculturais subdesenvolvidas e suas civilizações abortadas, dependentes ou colonizadas.
Em nossos dias, existem razões especiais para o coletivismo: uma sociedade-de-massas consumindo desbragadamente está produzindo um caos incontrolável! 
Devido à alienação ideológica de tantos, da insanidade da burguesia e da cultura-de-massa, movidas sobretudo pelas pressões econômicas externas, se torna todavia imperativo buscar refúgios para a sobrevida moral e intelectual da nação, cada vez mais cerceada pela mídia capitalista corruptora.
Nem por isto, pretenderemos que todos se sujeitem ao comunalismo, somente aqueles que julguem dever fazê-lo por razões econômicas, culturais e espirituais. E sem dúvida, o exemplo destes já muito poderia ajudar o todo, salvo que as ideologias burguesa e materialista sejam contrárias também a isto...
Alguns sempre desejarão naturalmente viver de forma mais ou menos grupal e sustentável.  Através de mutirões se consegue eliminar boa parte das necessidades de serviços, ademais há que se contornar o preconceito burguês contra o trabalho físico e rural. Quem viveu em comunidade, sabe que grande economia de tempo e de energia podem chegar a representar as diferentes formas de mutirões!
Talvez estas pessoas criem uma espécie de neomedievalismo, devidamente adaptado aos tempos atuais, concedendo por exemplo mais terras aos organismos coletivos e para as organizações ambientalistas, a fim de suprir pelo menos três tipos de demandas:

a. A carência econômica dos mais pobres;
b. As necessidades culturais de setores idealistas;
c. as urgências de preservação bruta das espécies nativas.

Outros -como uma futura "burguesia esclarecida"- poderão viver numa sociedade rotulada de “verde” por não trazer um impacto muito agressivo sobre o meio-ambiente, mas ainda assim haverá impacto. Este será provavelmente um mundo algo semelhante ao “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, onde dominará o artifício e a tecnologia.

Um olhar sobre a sociedade feudal


Do ponto de vista tradicional, as únicas classes sociais que possuem na sua cultura a vocação para realmente compartilhar são a aristocracia e o clero, e isto por razões técnicas e culturais. Como estas classes tendem essencialmente ao despojamento, elas necessitam aproveitar ao máximo os recursos existentes, e ainda valer-se de recursos de uso comum, por razões econômicas, de segurança, etc.
Neste aspecto, o clero é a classe onde este ideal emerge com maior naturalidade e necessidade. Nisto, soa curioso atribuir-se justamente aos proletários –que é a classe mais distante culturalmente do clero- a capacidade de organizar uma sociedade coletivista, como querem os marxistas. Onde se poderia encontrar referência para tais pretensões? Acaso seria nas sociedades indígenas ou bárbaras? 
Mesmo ali as coisas não seriam bem assim...
Na estrutura econômica medieval, os senhores feudais não eram proprietários a princípio, mas sim donatários. Existe até quem veja traços autenticamente socialistas no feudalismo, a saber:
“Para o economista anarco-capitalista Hans Hermann Hoppe, como os feudos são supostamente propriedade do Estado (neste caso, representado pelos senhores feudais), o feudalismo é, consequentemente, considerado por ele como sendo uma forma de manifestação socialista - o socialismo aristocrático (servismo).” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Feudalismo)

Todavia, existe o mito difuso de que na Idade Média não havia a burguesia. Ora, desde o final do Império Romano, havia sempre muitos pequenos proprietários de terras -mas que pouco a pouco foram cedendo suas terras aos senhores feudais e à igreja por razões de segurança. Vale lembrar que a atividade agropecuária definia a classe dos comerciantes (vaishyas) na Índia. Esta é a origem comum dos vilões, os habitantes das vilas que mantinham relações especiais com os senhores feudais.
Seguramente existia um comércio mínimo, geralmente realizado na forma do escambo, é verdade. Muitos aldeões se dedicavam a estas atividades, caracterizando um rudimento de burguesia. O fato é que o feudalismo mantinha a burguesia com rédeas curtas, afinal era premissa da religião o desapego dos bens materiais. Por extensão, se alcançava também um bom nível de sustentabilidade ou, como se dizia então, o "dom-de-mundo"... Neste sentido, muitos dos atributos do feudalismo seguramente atrairiam os ambientalistas:
“As características gerais do feudalismo são: poder descentralizado, economia baseada na agricultura de subsistência, trabalho servil e economia amonetária e sem comércio, onde predomina a troca (escambo). Tudo isso só será modificado com os primeiros indícios das Revoluções Burguesas.” (op. cit.)


Com relação ao proletariado –melhor dizendo, ao campesinato-, a sua situação era variável. Havia pouca mobilidade ou ascensão social, contudo, havia certa possibilidade dos servos penetrarem no clero, onde a mobilidade já era mais notória. Este quadro lembra novamente a situação da Índia antiga, onde era dada a possibilidade de sair do sistema de castas através das atividades espirituais.
Neste aspecto, havia o estímulo tácito para as pessoas se dedicaram à espiritualidade ou se abrigarem na esfera religiosa, buscando serviços a fim de auxiliar no bom andamento da Igreja. Contudo, quando a burguesia começou a crescer criando os burgos, os camponeses começaram a optar por realizar serviços a eles, esvaziando e enfraquecendo os feudos da nobreza e do clero.
A burguesia sabe ter o seu discurso polido, mas no fundo aquilo que vale é o culto das vaidades. Já as classes realmente cultas e esclarecidas, costumam fazer andar a roda da História verazmente para a frente era após era. São elas que criam as grandes Civilizações, as quais somente bem mais tarde, quando as coisas finalmente se esgotam e envelhecem, os oportunistas vêm se apoderar.


* Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.
Editorial Agartha: www.agartha.com.br
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