Na Apresentação desta obra, afirmamos que a má
leitura da história ou a generalização de seus postulados filosóficos, pode
ameaçar setores inteiros da sociedade mundial, “abortar tendências culturais
embrionárias, sepultando a evolução dos povos e a própria construção da
civilização.”
Um dos resultados desta má orientação seriam, para
exemplificar, atrofias culturais gravíssimas como as existentes, fomentando
impérios vorazes, capaz de comprometer e mesmo toda a orbe mundial. Pois neste
caso tivemos, a partir da Segunda Grande Guerra, um embate entre as três
grandes tendências sociais vigentes, no qual começou a sucumbir o nascente
nacionalismo (expressão da aristocracia) mundial -e que havia sido uma dos
pivôs da Primeira Grande Guerra-, quando alguns setores se aventuraram num tour de force suicida, diante do
capitalismo emergente e de um consolidado comunismo, todavia poderosos, e que
se uniram então para varrer da face da Terra as forças nacionalistas em
ascensão, mas divididas durante a Guerra, e depois na continuidade, no decurso
da Guerra Fria, havendo sido esta última, portanto, já uma guerra bipolarizada,
desde o ângulo das ideologias vitoriosas.
O quadro abaixo delineia estes passos.
Vê-se assim, que o nacionalismo foi sistematicamente combatido desde a
Segunda Guerra, e pode-se dizer que, a certa altura, seria totalmente sufocado.
Ainda que, de forma isolada, tenha havido episódios onde nacionalistas e
capitalistas atuariam em conjunto contra o comunismo. E a recíproca terá sido
igualmente observada, isto é, comunistas e nacionalistas atuando, juntos,
contra os interesses capitalistas, ainda que em contextos menores –como também
seria efêmero, embora trágico, o covarde pacto entre Hitler e Stalin.
Podemos realmente dizer, que o nacionalismo teve certo apogeu atrófico,
no conflagrado território europeu, com o Nazi-facismo, este último amplamente
inspirado em Hegel, considerado como o filósofo por excelência da época moderna
(tal como São Tomás foi o filósofo da Idade Média), e que se tornou também, no
final da vida, o filósofo oficial da monarquia prussiana.
Haveria ainda uma guerra entre o internacionalismo burguês/comunista, e
o nacionalismo em geral, onde este não teria chegado a se organizar nos termos
de um pan-nacionalismo ou qualquer forma de império –talvez pelo nacionalismo
respeitar mais a auto-determinação dos povos–, para contrapor-se de forma
eficiente aos anteriores.
No pós-guerra, o embate quase frontal entre as duas forças maiores,
cresceu até o risco do conflito aberto. A crise dos mísseis em Cuba de 1962,
marca o ápice desta situação, acarretando no endurecimento norte-americano. No
ano seguinte, Kennedy é assassinado, e logo iniciam os golpes militares na
América Latina, a partir de 1964 no Brasil, escolhido como base para as
operações continentais golpistas...
É possível que, na visão dos EUA, o crescimento da beligerância e da
radicalização entre os impérios, com o início da esquerdização da América
Latina em Cuba (1959), trazia o risco de surgir novas coalizões adversárias nas
proximidades, tidas por “áreas estratégicas”. Ato que seria visto como uma
afronta, até por representar um indevido implante de ideologia euroasiática em
solo novomundista, muito embora Cuba tenha mantido relações incertas com a
ortodoxia marxista, ou dela forçado a se aproximar face os boicotes locais.
Quanto Cuba terá podia resistir, afinal, nestas condições, às pressões
expansionistas de Moscou?
O
Capitalismo imperial
Contudo, não nos parece plausível, a rigor, a possibilidade de difusão
real do comunismo marxista na América Latina, detido que era localmente pelas
próprias forças nacionalistas, bem mais fortes e populares, porque naturais
ao quadro sócio evolutivo novomundista.
Pode ser verdade que o anti-comunismo, inspirado pelo contra-marxismo,
tenha lá as suas justificativas ideológicas, sobretudo no Novo Mundo, e também
da parte dos nacionalistas. Porém, o anti-comunismo radical, empreendido pelos
setores burgueses e capitalistas, deve ser visto antes como uma perseguição
contra a própria estrutura nacionalista e de segurança do Estado e da
sociedade. De fato, a Guerra Fria foi também um grande pretexto dos
impérios para dominar o mundo, uma aventura da qual o mundo ainda pagará caro.
De modo que vemos ali a implantação das chamadas “guerras preventivas”
(conceito atualmente assumido, nas invasões do Oriente Médio), as quais na
verdade dão facilmente margem ao pretexto da ocupação econômico-cultural.
Nisto, o verdadeiro “inimigo” do império –na verdade, um obstáculo à sua
expansão–, seria isto sim o próprio nacionalismo,
razão pela qual suas lideranças locais foram de tal forma perseguidas. No lugar
se colocou o fantoche do ufanismo patriótico, sob ditaduras militares,
condicionando certa ojeriza a tudo o que remeta a nacionalismo... Tudo
intencionalmente organizado por obra da inteligentzia
imperial: quando uma tendência cultural é de tal forma natural, a tática seria
dar-lhe uma face grotesca. Na verdade, o militarismo seria já uma força subjacente
ao Século, pois aquela fase central da aristocracia demandava, realmente, o
próprio exercício da política e, com
isto, também da democracia. Assim, a imagem dos generais soava como um “entulho
autoritário” –para usar uma expressão da época.
Com isto, o império adquire controle total sobre suas cercanias,
neutralizando de vez todo o resíduo nacionalista, e podendo concentrar forças
no confronto direto com seu grande rival, numa corrida armamentista sem
precedentes e excessivamente desgastante para o império comunista; o qual
soçobra por fim entre 1989-91.
A nova etapa de “Guerras Preventivas”, é focalizada hoje no Oriente
Médio, representando apenas a manutenção do império e seus interesses a médio e
longo prazo. Ali, quando a ditadura ou
monarquia tradicional é aliada do império, ela é fortalecida. Do contrário, é
substituída por uma democracia manipulável.
Fortalece-se, todavia, num primeiro momento, o componente religioso,
trazendo à tona o fundamentalismo. No tocante às tendências sociais, tudo o que
se pode dizer é que, por tradição, os sunitas se aproximam mais da burguesia, e
os xiitas da aristocracia. Mas o verdadeiro problema reside na causa palestina.
Trata-se, afinal, de um caso de ocupação permanente, e não apenas a tentativa
de controle cultural. Não nos toca, pois, aprofundar o tema, senão que, no
geral, a religião islâmica integraria o final do ciclo civilizatório oriental,
razão pela qual afirma ser Maomé o último dos profetas.
Com o tempo, talvez o Islã (e suas economias?), sejam sacrificadas,
pois no momento em que se impuser o laicismo (república & democracia),
também a religião tende a enfraquecer. Lamentável também, é que isto sugere a
intenção do império seguir empregando combustíveis fósseis em larga escala.
Temos denunciado já que, para muitas das modernas sociedades setentrionais (de
clima bastante frio), o aquecimento global tem sido economicamente conveniente.
a. A crise da História
De modo que todo o quadro se altera hoje, posto já haver um vitorioso
absoluto, resultando na hegemonia capitalista. Vitória esta que representaria,
na verdade, a suplantação de todas as ideologias mais modernas nas duas metades
do mundo, a saber: o proletarismo que conclui o arco histórico descendente do
hemisfério oriental, e o nacionalismo que centraliza (como tendência
pós-burguesa) o arco ascendente da História novomundista. Assim, temos hoje uma
dupla-hybris, afrontando o mundo. Foi o ato final de um processo no qual o peso
da doutrinação européia, gerou certa cegueira histórica no mundo, levando a não
se dar o devido valor ao nacionalismo, algo importante para o Terceiro Mundo, e
absolutamente vital para a América Latina.
Representando tudo isto um verdadeiro colapso ideológico planetário,
dando lugar a profecias do “fim-da-história”, sob o surgimento de uma espécie
de besta apocalíptica, devastadora e ímpar na sua voracidade, um Moloch sem
precedentes na História humana. Até porque se trata de um imperialismo
anti-universal, voltado a impor ideologias classistas, além de
materialistas-consumistas. Muito mais fazia a Roma Antiga, por exemplo, com
suas conhecida tolerância religiosa e mobilidade social –afinal, se tratava de
um ambiente de antigas civilizações.
Podemos crer que, a partir disto, para a Europa tenha sido realmente o
final da sua história, não a estabilização democrática definitiva que se
pretende, mas o ocaso final de um largo ciclo sóciocultural, sujeitando-se
agora a um novo recomeço, ainda que subordinado, de um modo ou de outro, ao
Extremo Ocidente. Ao passo que para esta Grande Ocidentalidade, a História está
apenas começando (sendo os seus tijolos as classes sociais), e sob sua
irresistível força de ascensão, nada tem podido se sustentar, destruindo até
mesmo, como vimos, a sua própria derivação histórica, como Saturno a seus filhos.
Curiosamente, Júpiter, o deus ou planeta que simboliza a filosofia, é apontado
como a solução simbólica do problema. Com isto, observamos o quão próximo
estaríamos dos mitos e das tradições antigas.
O fortalecimento capitalista, próprio de uma civilização emergente –com
todas as virtudes e defeitos de uma adolescência–,
tende a ocupar os espaços deixados pelas outras ideologias (ampliando com isto,
ainda mais a sua atrofia), que devem por sua vez, realizar uma autocrítica vigorosa e, depois, reunir
suas forças renovadas para retomar o processo de evolução histórica, quiçá sob
uma síntese ou mesmo em favor de novos agentes culturais, no caso, aqueles que
alcançaram fomentar atividades à sombra dos embates ideológicos de então, e que
seguramente representam facetas do nacionalismo difuso, que inclui a criação cultural.
O
Nacionalismo
O certo é que o nacionalismo, enquanto expressão moderna e embrionária
da aristocracia, representa um positivo avanço social em relação à já decadente
burguesia mundial –e o capitalismo, com toda a sua imoralidade inerente, seria
em si uma expressão desta decadência mórbida. Restaria agora, fazer renascer
das cinzas os vetores nacionais, quiçá sob expressões mais refinadas –onde já
entraria positivamente a atividade profética e a tão urgente consciência
ecológica–, preparando terreno para as forças sociais futuras, no caso, o novo
clero mundial. Em breve, a política entrará a reboque da Historia, entrando em
cena a força do profetismo e da filosofia, como apelo irresistível das crises
emergentes...
Como se sabe, as classes superiores, não produtivas e não-consumistas, apenas podem se expressar de fato sobre bases materiais
consolidadas (leia-se proletariado & burguesia), e a classe que
organiza na prática a sociedade para
efetuar esta transição, é a própria aristocracia, nas suas três vertentes
tradicionais que, em ordem crescente de refinamento, são: militar, política e filosófica. Então, será deste último
fator “filosofia” (que incluiria entidades como a Maçonaria) em especial, que
estaremos tratando, com tudo o que implica o universo de sua praxis. Digamos que seria este, assim, o
novo prisma para focalizar a cultura
e a evolução mundial e, sobretudo, novomundista.
Esta é uma das visões daquilo que entendemos por profetismo histórico, uma tendência emergente em épocas críticas de
grande complexidade, onde se requer um positivo salto-de-qualidade cultural,
face à gravidade dos impasses existentes. Não seria casual a emergência de
profetas autênticos na ocasião de ascensões aristocráticas, dada a empatia das
chamadas classes superiores com as coisas do espírito.
O profetismo é, nisto, essencialmente futurista, assim como relativista, dado ao conhecimento geral (ou Matese) que ostenta das coisas –o que não o impede,
antes auxilia mesmo, de tomar posições concretas. Não nos tocaria, pois,
realizar maiores juízos no tocante ao posicionamento dos países do Terceiro
Mundo durante a Segunda Guerra, se corretos estiveram o Brasil (pró-Aliados) ou
a Argentina e o Chile (neutros, pró-Eixo), seja desde o ponto de vista moral ou
pragmático. E não apenas porque temos os olhos postos no futuro, como,
notavelmente, seria mesmo difícil tomar partido indubitavelmente naquela hora
–cabe lembrar que, no decurso da Guerra, não se tinha conhecimento de certas
atrocidades. Basta ver, para remover certas dúvidas, o que tocou no pós-guerra,
para as sociedades aliadas terceiro-mundistas como o Brasil...
a. O Nazismo (uma página negra)
Não que caiba aqui qualquer espaço para a defesa do Nazismo: o
lamentável é receber um trato quase nazista no pós-guerra, mesmo sem o Nazismo
formal.
Sim, nada a celebrar no tocante ao Nazismo. Afinal, se trata de uma
doutrina que rompeu com as mais elementares regras da aristocracia tradicional
–justamente a partir daquela ideologia que mais se aproxima desta classe, que é
o nacionalismo. Porém, Hitler não estava em nada preocupado com os meios e a
ética.
Sua obra “Mein Kampf”, tampouco denota qualquer traço da mística
(negra, é verdade) que por vezes se lhe atribui, mas revela que seu carisma e
eloqüência remontam à adolescência. O que se percebe ali é, isto sim, uma
capacidade de liderança e determinação extremadas: foi capaz de reconverter
para as fileiras nacionalistas, com a disciplina e o treinamento militar que
possuía, as massas de trabalhadores que se haviam tornadas adeptas do marxismo.
Muito provavelmente, mais o que a ideologia, foi o seu carisma que converteu
tantas almas para a sua causa.
Tudo, porém, sempre sob o contraponto do racismo. Sua ojeriza ao judeu,
abrange mas não se limita ao formal, identificada à “decadência”. Afinal, não
se pode dizer que o Nazismo não tivesse a sua estética –de fato, uma estética
por demais formal, como sabem aqueles que tiveram acesso ao premiado documentário
de Peter Cohen, “A Arquitetura da Destruição” (1992).
Assim, o pragmatismo de Hitler era cego e absoluto, cruel e da natureza
mais bárbara, tal como ao inaugurar, nos tempos modernos, os ataques às cidades
ou aos civis, atentando contra o próprio núcleo da civilização. Não que, na
seqüência, o adversário tenha ficado atrás nos seus barbarismos e na sua sina
devastadora, vitimando ademais a História e a Arte.
Foi o fim da antiga tradição do “campo de batalha”, do front e a
falência do conceito da ética militar. Novos conceitos bélicos, onde tudo o que
valia era os fins, invadiam a –vamos dizer– “civilização”, sem qualquer ética
ou prurido. E aí já não haveria mais limites para a barbárie, cujo ápice não
tardaria a se manifestar, pelo lançamento desnecessário de bombas atômicas
sobre cidades japonesas...
Na seqüência, se passou a produzir muitas outras abominações, como a
chamada Bomba H, que dizia não afetar estruturas, mas somente seres vivos. Mais
ou menos nesta linha, se desenvolveram os mecanismos da guerra química e
bacteriológica. Consta que os estoques excedentes destes arsenais, aliás, é que
dariam origem aos agroquímicos...
Também nisto existe um precedente nazista. De fato, o próprio genocídio
foi abertamente praticado pelo Nazismo, com o uso de gases químicos letais.
Muito embora Hitler tenha buscado a extradição dos judeus, até onde lhe foi
possível, numa época em que o anti-semitismo era uma prática difusa. A chama
“solução final”, seria adotada apenas para o final da guerra, deixando clara
uma das grandes prioridades do Nazismo: “limpar” o Reich do sangue
judeu.
Infelizmente, como muitas vezes acontece, o derrotado também faria
escola – o fascínio do Nazismo era, afinal, grande. E foi assim que se veria
muitas práticas nazistas ser adotadas no pós-guerra pelos vitoriosos. Parece
que, para vencer um monstro, às vezes é preciso ser monstruoso.
No mais, não haveria como a Alemanha não se
rebelar, diante das humilhantes condições impostas pelo Tratado de Versalhes. O
Nazismo foi a única força a desafiar frontalmente a hegemonia dos modernos
impérios.
Há quem diga que o grande erro de Hitler, foi a sua
desmedida cobiça, ao ter invadido a Rússia e atraiçoado o tratado de
não-agressão que tinha com aquele país –talvez o racismo e o desprezo ao comunismo,
tenham pesado mais alto naquele momento. Até então, havia um pacto entre
nacionalismo e comunismo, capaz de gerar atos tão covardes quanto o massacre de
Katin, que destruiu toda a elite militar polonesa, indicando que Stalin estaria
levando a sério o pacto, ao abrir espaço para a invasão de Hitler à Polônia! E
que se se mantivesse, todavia, teria movido o fiel-da-balança para rumos
desconhecidos...
O Reich abria assim excessivas frentes, além de ter
que amparar ocasionalmente a Itália em suas próprias aventuras expansionistas.
Tal como Napoleão, Hitler começou a perder a Guerra ao fracassar em atacar a
União Soviética.
Nunca se saberá como teria sido o mundo sob o
Nazismo. Embora duvidemos que sua influência chegasse mais fortemente à América
do Sul, considerada pelos EUA como área estratégica, sendo assim “defendida”
pelos EUA, tal como “defendeu” a região dos supostos avanços comunistas durante
a Guerra Fria -que neste caso, seria voltada contra o Nazismo, e não contra o
Comunismo.
Nem parecia haver simpatias entre a versão
nazi-tupiniquim e o nacionalismo imperante de Vargas. O que desautoriza em boa
parte as ditaduras semeadas pela região, que foi outrossim, uma espécie de
tacão nazi-capitalista -especialmente contra os países “neutros” (na IIa
Guerra) da região.
Seja como for, qual seria o destino de uma Alemanha
vitoriosa, sob tal doutrina etnocêntrica? Seria somente para escravizar outras
nações, em nome da suposta glória alemã. Porque o Nazismo também incluiu a
mácula de reviver a antiga prática da escravidão na modernidade.
Ora, ao contrário do capitalismo, uma das grandes
virtudes do nacionalismo (ou da monarquia), é justamente a sua vocação autocentrada
e autócne, sem maior afeição pelo internacionalismo, destinada neste caso a
organizar e defender a própria nação. Qualquer movimento imperialista nesta
esfera, apenas se justificaria, em nome da libertação de outras nações,
orientando cada atual na mesma direção, quiçá em nome da geração de uma nova
página histórica mundial. Este não seria, contudo, o caso do IIIº Reich. Desde
o ângulo filosófico, a idéia da supremacia racial, é frontalmente
anti-nacionalista.
Nesta linha, o principal “beneficiário” seria a
própria Europa, especialmente os países nórdicos, a Itália e as Balcãs, onde
afinal, haveria mais “arianos” para ser exaltados. Se poderia prever uma
política de tolerância-zero para a imigração, substituída quiçá pela mais
abjeta escravidão. E também, no futuro, um forte investimento na clonagem de
loiros apolíneos...
Talvez se fortalecesse o eixo com o Oriente,
através do corredor persa, já que a Índia, pese sua miscigenação, abriga
igualmente fortes tradições áryas... Este caminho começava a ser aberto pelo
fascismo italiano, nas suas tentativas de conquistar a Albânia, a Grécia e o
Egito. Com a expansão do eixo para o Japão, a partir da invasão da Manchúria, a
Inglaterra passou a se preocupar seriamente com a “jóia da coroa”. Mas,
dificilmente haveria o novo Estado de Israel.
Terminada a guerra, a grande novidade seria a
revolução chinesa, vencida pelos comunistas sob o “timoneiro” Mao Tsé Tung,
numa época em que também os nacionalistas de Chag-Kai-ckek se debatiam pela
libertação da China do domínio europeu. Com isto, parecia selada em toda parte
a sorte do nacionalismo, que tanta importância tivera na primeira metade do
século XX. A segunda metade representará um verdadeiro refluxo histórico, na
afirmação das posições dos impérios vitoriosos. E mais para o final, apenas o
capitalismo retrógrado...
b. Correntes Republicanas Nacionais
Na sua preparação,
contudo, os EUA haverão de ter sido persuasivos para dissuadir o Brasil de
seguir apoiando a Alemanha, como fazia até então, juntamente com outros países
da região –era, enfim, o bloco da ideologia nacionalista. Contudo, os EUA já
não poderiam abrir mão de um aliado tão estratégico quanto o Brasil –seja pela
importância política regional, seja pela posição geográfico capaz de servir de
trampolim para a Europa e a África–, e que se necessário o incorporaria a
força, como informalmente se viu mais tarde. No momento, sabe-se que Getúlio
Vargas cobrou um preço para trocar de lado, pelo qual o Brasil ingressaria por
fim na moderna economia industrial.
As duas
principais correntes republicanas da história brasileira, representam de um
lado uma elite intelectual de matriz ideológica republicana –o Positivismo–, e
outra intuitiva nacionalista derivada de uma aristocracia rural –o Varguismo.
Digno de nota, é a influência que o
Positivismo de Comte teve no Brasil, inspirando a própria criação da República.
Enquanto doutrina política, o Positivismo é algo respeitável, havendo se
concentrado especialmente no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, realizando
obras importantes no país. Não se trata, contudo, de um regime democrático, mas
uma espécie de república neoclássica de viés científico. Podemos dizer ter sido
esta a filosofia que, em tese, regeu a “República Velha”, até a Era Vargas,
representando a chamada Primeira República ou o Estado Velho. Seu forte caráter
centralizador, anti-democrático e anti-federativo, comprometeu a sua
continuidade. Foi uma etapa republicana dominada pelo militarismo,
enquadrando-se aproximadamente, pois, nas conjecturas do Calendário Cronocrator
para o período, que reza o seguinte cronograma:
a. 1900-1960 ........... Militarismo
b. 1960-2020........... Partidarismo
c. 2020-2080........... Profetismo
(Há razões para a exatidão apenas
relativa do tema, entre elas não se tratar a Astrologia de uma “ciência exata”,
e também face à existência de “ciclos dentro de ciclos”, especialmente nesta
fase de transição da evolução mundial –ver “Adendo” ao final do Capítulo.)
Assim, com Vargas, temos a chegada
da era nacionalista brasileira, num período da História mundial em que o
nacionalismo era mesmo moeda corrente. Ali pudemos observar um significativo
avanço das liberdades civis, onde a tradicional servidão burguesa do
trabalhador, daria lugar a direitos humanos que somente o nacionalismo tem
sabido respeitar no Novo Mundo.
Passados cinqüenta anos, um balanço
deste período permite avaliar com correção os fatos, levando a concluir que,
sob Vargas, o Brasil se tornou uma nação moderna, tantas e de tal forma
profundas foram as melhorias alcançadas; ainda que muito se tenha perdido desde
então, sob pressões que na já na época levaram o grande dirigente ao suicídio,
causando uma forte mácula à nação ao impor uma longa e traumática ditadura
militar em pleno período partidário, prejudicando assim a educação democrática
da nação.
O Marxismo
A quase completa débâcle da
ordem aristocrático-clerical européia, sob a quase irresistível o onda de
revoluções burguesas, haverá de ter inspirado Marx acerca da impotência deste
binômio no futuro mundial. Pois em Marx, a idéia de evolução combinava com a de
ciclo de uma forma limitada, que o teria levado a simplesmente ignorar o valor
do pré-existente, e sem considerar maiormente outros contextos históricos, como
por exemplo, o do Novo Mundo. A aristocracia seria, para ele, um resíduo de
tradições antigas, e a religião uma superstição de tempos passados, destinados
a desaparecer com a ilustração do ser humano.
Ora, o tempo não é, em nenhuma
hipótese, uma nau de mão-única. A grande falácia do marxismo, e que compromete
a sua universalidade, é tentar fazer retornar as coisas de uma forma genérica,
dentro de uma estreita dialética materialista de involução social. Um sábio
novomundista, ou de qualquer outra sociedade em formação, colocaria, pelo
contrário, para a evolução da burguesia, não qualquer dimensão proletariado
majoritária, mas uma ascensão aristocrático-nacionalista, especialmente
uma projeção político-filosófica. Afinal, estes países ainda não se têm
afirmado de todo enquanto nações.
A reorganização e o progresso do
proletariado, não deve ser buscado, nesta altura da evolução do Novo Mundo, na
sua própria esfera, coisa que inevitavelmente traria permanente resistência,
por ir contra as tendências sócio-evolutivas atuais. Pelo contrário, as forças
reivindicativas, devem se organizar nos quadros da aristocracia, em qualquer de
suas esferas: militar, política e filosófica.
Assim, tais coisas se reorganizam
naturalmente, pela ascensão de uma nova classe, capaz de ter lucidez e
sabedoria suficiente para tal. Não é apenas o proletariado que está prejudicado
nestes dias: a própria burguesia está e, de resto, tudo o mais, neste difícil
processo de construção da história. Mesmo quem está no poder sofre
desgaste, seja para ali chegar, para se manter ou para avançar.
Marx não confere à aristocracia uma
dimensão própria, mas apenas instrumental como função provisória. Assim, tudo
aquilo que diria respeito ao universo aristocrático, fica defasado, truncado e
fracionado. E isto atinge as três divisões da aristocracia.
As análises ciclo-sociais de Hegel,
ainda possuíam certos fundamentos tradicionais, mesmo que as aplicações fossem
limitadas. Seu conceito dialético
evoca a filosofia chinesa, porquanto tinha em vista uma síntese e, portanto,
uma transcendência (Matese). Mesmo durante as evoluções sociais, se buscava
aplicar a idéia de superação.
Muito diferente foi, contudo, a
aplicação feita pelos chamados “hegelianos de esquerda”, entre eles Marx.
Pensamos que, de forma algo opinativa e heterodoxa, Marx simplesmente elegeu o
que lhe agradava em particular e, sem ter uma visão dos princípios, mas apenas
das contingências históricas, proscreveu de vez a tiara e a coroa. A falácia do
mundo contemporâneo em avaliar corretamente as questões, reside em boa parte na
ausência de valores condizentes.
O marxismo decretou que a
aristocracia e o clero não existiriam mais. É o que se pode esperar daqueles
que se deixam influenciar em demasia pelo darwinismo. Tudo isto faz lembrar
aquelas antigas gravuras renascentistas, que mostram aos “antípodas” com
cabeças nos estômagos, dentre outras supostas monstruosidades da Natureza –mas
vamos dizer que, como seria afim à mentalidade da época, eles se valiam antes
de símbolos, porque tinham certos conhecimentos sutis da natureza humana.
Ora, este tipo de primitivismo
mental assim denunciado, é o que se pode antes encontrar nas raças antigas ou
nas classes inferiores. De sua parte, sem maiores pretensões científicas e
outras obviedades afins, os orientais costumam dizer que a mente está no
coração. E nisto temos o suprassumo da definição humana de consciência –alguns irão logo invocar o moderno conceito de
“inteligência emocional”, quando na verdade a idéia budista de bodhicitta é muito mais antiga e
profunda.
A verdadeira mente superior, ou o
“cérebro-cerebral”, por assim dizer– seria um apanágio dos sábios mais
iluminados; tecnicamente falando.
a. Uma receita para cada doente
De fato, talvez não discordemos de todo do diagnóstico de Marx, mas sim
do seu receituário –se for possível separar de tal formas as coisas. Se Marx
buscou solucionar a atrofia burguesa em favor do proletariado, ele estava trabalhando a desconstrução da História
–ou Sociosíntese-, processo bastante legítimo enquanto Velho Mundo. Mas,
aqueles que buscam a construção de sua História –ou Sociogênese-, como é o caso
do Novo Mundo, devem unicamente tratar de solucionar a atrofia burguesa em
favor da aristocracia.
Esta é, portanto, a verdadeira tarefa dos homens e mulheres conscientes
do Novo Mundo, na formação de suas sociedades, sob a rápida aurora de seu
porvir. Outra, mesmo oposta, tem sido a tarefa de homens e mulheres do Velho
Mundo, que vivem o lento ocaso das antigas civilizações. Naquele continente,
realmente se justificariam as revoluções proletárias, porque no Relógio das
raças, a atual Idade do Mundo –já em conclusão, na verdade– estaria sob a égide
do proletariado e suas coisas, e isto já a partir do Ano Mil aproximadamente,
sendo esta uma das explicações para a coletivização da cultura a partir do
século XIII, quando foram dispostas as bases da Renascença, onde o naturalismo
de um São Francisco concede um modelo superior de materialismo, ao lado do posterior
advento do Iluminismo humanista, com razões também nas reformas protestantes.
Mas este não é nosso tema central, e sim a construção do Novo Mundo, aqui
analisada também em termos cíclicos, e não apenas de modo geral, na sua
vinculação com ciclos maiores como Era, raça ou mesmo a ronda, configurando
tudo isto a imagem do “novo céu e nova terra” profetizado.
A nova civilização: o momento atual
A partir da virada do século XVI,
com a descoberta das Américas, tivemos a implantação de um novo quadro
civilizatório, com reflexos todavia mundiais, seja pela importância geral
daquilo que ocorreu nas Américas, seja pela própria globalidade do processo colonial
europeu, face às grandes riquezas que aportou àquele continente, permitindo
financiar as artes da Renascença e as conquistas do eurocentrismo.
O destaque deve ser dado, todavia,
às Américas, onde o contraste histórico foi mais gritante, assim como a
dramaticidade do processo de ocupação. Em nenhuma outra parte do mundo,
aconteceu tão vasto quadro de aculturação, em termos de miscigenação e ocupação
territorial. Não se pode realmente dizer, que outras partes do globo tenham
dado lugar a novos países e divisões territoriais de forma tão notável.
Fora disto, talvez apenas em dois
outros territórios, no caso, meridionais, a colonização européia tenha deixado
raízes tão profundas: a África do Sul e a Austrália. E isto se deve, em parte,
por não haver nestes territórios culturas antigas e avançadas (como aconteceria
na China e na Índia, por exemplo), mas também por se tratar do Hemisfério Sul,
caracterizado como “o outro” pelos setentriões.
No
calendário sócio-formativo do Novo Mundo, o século XX representaria o momento
de geração de uma nova classe social: aquilo que tradicionalmente se conhece
por aristocracia, responsável comumente pela
definição das nacionalidades ou dos Estados nacionais (para não dizer
“nacionalistas”); razão pela qual a classe é também chamada de patriotas. A
forma inicial, a dos Estados republicanos, representaria uma etapa-de-transição
no aperfeiçoamento do Estado, desde a velha ordem para a nova. A etapa seguinte
ou central, teria já uma forma clássica de democracia formal. Aqui se podem
colocar sementes para uma monarquia futura, sobre a base do espírito heróico,
base por sua vez para a futura ordem teocrática “final”, quando chegar o
momento da ascensão da nova raça. Tudo isto permanece, todavia, algo truncado,
pelo domínio das ideologias vitoriosas das Guerras do século XX.
Estas etapas correspondem também à
consolidação de três tendências aristocráticas progressivas: militarismo,
política e filosofia. Tudo isto pertence à lógica natural das coisas,
representada em esquemas civilizatórios como o Zodíaco, numa dada acepção sua,
através dos chamados Signos de Fogo
(Áries, Leão e Sagitário). Pertence também a uma lógica construtiva, na medida
em que a força militar se revelaria necessária para impor e preservar uma ordem
desta natureza. Sobre ela se edifica a estrutura política regular, enquanto
liderança social, capaz de atuar ao nível das instituições civis universais, ou
numa esfera de síntese. Sobre esta ordem, haverá de se desenvolver um plano
filosófico de base nacionalista, preparando os domínios da religião nacional.
a. O processo brasileiro
A república é um regime de corte burguês na sua origem, mas que tem se
adaptado a diferentes bases sociais e sistemas de governo. Podemos considerar o
ciclo nacionalista, de base aristocrática, como semeadura da autêntica
monarquia futura do Novo Mundo, a qual sabidamente não necessita ser
hereditária.
Pode-se dizer que, em termos brasileiros, a república é coisa por
demais recente, sobretudo se visto o último século como um período de transição.
Neste caso, também se poderia considerar, na prática, toda a época imperial
como tal, já a partir de 1916 com a abertura dos portos brasileiros.
Tal é a complexidade de nossa política, que existe um fato
inequivocamente ligado ao destino, que é a chegada da família Real ao Brasil,
suscitando a emancipação nacional. A burguesia local se organizou, pois, por
causas indiretas, sob a influência das guerras napoleônicas européias, que
trouxeram a coroa portuguesa ao país, sob a proteção dos ingleses, os quais
exigiram em troca, a abertura do comércio internacional local.
Qualquer outra solução para o caso, teria estendido ainda mais o
período colonial, que de resto sempre deixou marcas no ciclo imperial, mesmo o
“nacional”, como provam os fatos de que, após o retorno da Família Real para
Portugal, se tentou fazer o Brasil retornar à condição de colônia –e por não se
haver terminado com a escravidão, senão às vésperas da república. De resto, soa
dúbio que o imperador que proclamou a independência nacional em 1822, mais
tarde tenha sido imperador em Portugal, de resto sua terra natal.
Assim, pese as vicissitudes políticas, na prática o
período de emancipação e até o da independência, não deixariam de ter uma certa
feição burguesa, considerando ainda que seria esta a cultura básica que
prevalecia na época, a partir de dois fatos capitais: a abertura dos portos
para o mundo (leia-se: Inglaterra) logo da chegada da corte, e a resistência de
criação de um autêntico exército nacional durante a monarquia nacional, face à
hesitação em valorizar o contingente mestiço.
b. O
modelo norte-americano
Neste quadro, jamais se deve deixar de analisar então, as outras
grandes nações americanas, especialmente os Estados Unidos, cuja Independência
se deu no ano de 1776. O Tratado de Versalhes, selando a paz e reconhecendo a
Independência americana, viria apenas em 1783, após oito anos de lutas
incessantes com a Inglaterra.
Nisto, seria fundamental o auxílio da França, que mobilizou a Europa
para neutralizar o poder inglês na região e sobre os mares. O auxílio ativo das
forças francesas, veio da própria nata de sua aristocracia, e não da turba
revolucionária que varreria o regime francês doze anos após.
Os franceses estavam motivados a isto, após terem perdido em definitivo
o Canadá para os ingleses em 1763. Para eles, mais viável que estabelecer laços
com a arqui-rival além-Mancha, seria aprofundar laços com a jovem nação
americana. As colônias, os índios e os franceses, tinham afinal na Inglaterra
um inimigo comum. Face aos rigores do clima, os franceses não realizariam ali
uma ocupação ostensiva, limitando assim a sua presença. Em contraparte,
praticariam uma intensa política de aliança com os indígenas, de amplo sucesso
entre algumas nações nativas.
Quanto aos colonos, a exemplo do que ocorreu nos pampas sul-americanos,
uma das principais forças militares derivava dos chamados minutemen, agricultores sempre prontos a trocar a charrua pela
espingarda, especialmente durante as lutas pela independência. Contudo, ao
contrário do Brasil, nos Estados Unidos houve desde o início uma ampla
distribuição de terras entre os colonos, fomentando precocemente a produção
local e, portanto, incentivado a industrialização.
Novamente, ao contrário do Brasil, a abolição da escravatura veio antes
da Independência, havendo a escravidão perdurado até 1865, com a chamada Guerra
da Secessão, sendo este o grande motivo desta guerra civil que dividiu o país,
vencida pelo norte nacionalista.
Não hesitamos em dizer, haver sido estas algumas bases sólidas para o
processo de Independência, que requereu muita luta, mas que então terá se
realizado de fato; não como no
Brasil, onde as mudanças foram sempre algo fictícias. É certo que os problemas
não se extinguiram: o racismo, em especial, seguiu forte no Sul.
Conclusões
As doutrinas políticas do século XX, como o nacionalismo e o comunismo,
não estavam necessariamente equivocadas, porém teria faltado uma síntese.
É a separação de idéias que dá margem à críticas e à erros, permitindo
inclusive o fortalecimento do discurso desagregador. Falar de anti-nacionalismo
nos países em formação, é realmente um atentado contra a humanidade. O
verdadeiro perfil da sociedade do futuro, será unicamente de um nacionalismo
comunitário. Não estamos, contudo, tratando de utopias ou de ações longo prazo,
todo o contrário: tal coisa representa uma necessidade urgente!
Até porque, isto não significará ainda a superação das ideologias, e
tampouco do seu internacionalismo. A grande chave está, justamente, no fato de
ser a sociedade aristocrática nacionalista por natureza. E é esta a
essência de uma nova ordem internacional, pelo menos naquilo que diz respeito
ao Novo Mundo...
Em meados do século XX, pudemos notar esta tendência de uma forma
bastante notável. Podemos dizer que o quadro foi perturbado pela ascensão de
alguns extremismos, como foram os casos do nazismo e do imperialismo soviético.
A aproximação ideológica entre estas duas poderosas correntes, poderia ter
gerado uma força irresistível, a ponto de transformar o mundo “para sempre”
–algo não exatamente desejável para os americanos em geral. Mas é algo nesta
linha, salvo o materialismo marxista, que deveria realmente acontecer.
Os processos tradicionais da aristocracia se definem por três pólos:
militarismo, política e filosofia. Para isto, é preciso superar em definitivo
alguns grandes equívocos ideológicos da época, tal como a ênfase populista na
pulverizada sociedade proletária. O proletário deve ser, pelo contrário,
cooptado para a construção histórica, demonstrando que será somente pelo avanço
das coisas, que os seus benefícios serão ampliados. Para a aristocracia, por
exemplo, interessa um campesinato forte e um militarismo difuso –de preferência
as duas coisas reunidas.
Não é hora de sonhar com utopias, a menos que seja apenas no plano dos
sonhos e reflexões. A hora é, antes, de colocar os projetos sociais em prática,
para que um dia possa se concretizar o ideal da Civilização real.
Com o nacionalismo, haveria também que aperfeiçoar
os seus rumos, buscado o plano universalista que lhe toca, dentro de sua
própria formação essencial, contudo sem pretensões imperialistas imediatas. Tal
coisa somente se justificaria, dentro de amplos movimentos libertadores, onde a
idéia imperialista assume claramente um conteúdo de compaixão, além, é claro,
de estratégia. Apenas o coração justifica o império, e assim foi, em todos os
tempos, o que deu nascimento e legitimidade a este conceito. A alma
aristocrática, é capaz de arder pela mensagem da paz e da salvação de todos os
seres. E ela é perfeitamente capaz de se dar em holocausto, em favor do
próximo. Isto começa, contudo, dentro de cada um, e se expande na sociedade
local.
a. A verdadeira revolução
Este é também o rumo certo da
evolução –ou da revolução, se se quer–, ao contrário, portanto, da falácia
marxista que pretendia, nesta altura da história, defender diretamente os
interesses do proletariado de uma forma generalizada e universal. Talvez tal coisa
se aplique à Europa, mas nas Américas, isto somente pode se feito hoje, através
da ascensão do patriciado e sua nova ordenação do mundo.
Ora, cada novo regime favorece um
grau na evolução e na libertação de todas as classes. Não se tratará ainda de uma
libertação plena, porque não existem ainda condições sócio-culturais para isto.
Nos achamos ainda no período de formação da história novomundista, e antes é
preciso criar as sucessivas sociedades-de-classes, a fim de obter a experiência
coletiva e a estrutura plural necessária.
Todavia, os degraus de ascensão são
reais, e isto se deve aos vínculos existentes entre todas as classes, na medida
em que a formulação de uma classe sempre representa a consolidação de uma etapa
global. Cada classe possui uma estrutura complexa e múltipla, e uma de suas
facetas sempre se relaciona necessariamente com outras classes. É isto que se
pode estudar através da aplicação sociológica do Zodíaco.
O fato é que a sociedade pan-americana, não
representa ainda uma civilização universal, mas somente uma construção
preliminar de classes. É isto que explica o fato do atual ciclo
republicano-burguês ser tão curto nas Américas, na medida em que alcança sua
hipertrofia, com tão somente dois séculos de existência. Ou seja, não se trata
de uma verdadeira civilização, mas de uma “simples” formação de classe,
inexperiente, materialista e radical, sendo tal coisa solucionável nas
Américas, unicamente seguindo adiante –isto é, “para cima”–, ou na formação de
classes culturalmente superiores, sempre fugaz como as etapas do indivíduo em
relação ao conjunto de sua existência. E jamais olhando para trás –ou “para
baixo”–, na lenta construção histórica, realimentando classes ainda mais
básicas.
Neste caso, a quem caberia coordenar este
movimento? Ora, se este processo é de tal forma pan-americano, e concentrado
agora pelos EUA, que outro país poderia servir de base para a sua evolução,
senão o Brasil? México e Canadá são vizinhos do império atual, então resta
unicamente o Brasil, por não se achar de tal forma sob a área de influência
direta dos EUA, mas pertencer a rigor a outro continente (como provam os fatos
geográficos). E, além disto, por conter igualmente um complexo quadro de
miscigenação, é que pode pretender concorrer com o império ou, de qualquer
forma, na geração de um modelo alternativo de vida, que atenda às reais
necessidades da evolução regional.
Naturalmente, já não se pode esperar dos próprios EUA um movimento
significativo de transformação, pelo contrário, as tendências ali são conservadoras
e até radicais. Tal coisa apenas
pode ser atenuada através de movimentos externos, tal como o socialismo
histórico e o nacionalismo foram capazes de atenuar as condições opressivas dos
trabalhadores do mundo.
Participe do facegrupo FILOSOFIA PErENE - O UNO E O TODO
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