Neste artigo trataremos de resumir aquilo que seriam
os Dois Pilares da Nova Sociedade, visando uma renovação sócio-cultural
definitiva no mundo e, em particular, no Novo Mundo em especial o Brasil.
Faremos isto pois através de dois itens, e nada
disto significa “pretender reinventar a roda”, mas apenas “recolocá-la em
movimento” como prescrevem os orientais. Da seguinte forma:
1. Restabelecer o “Fluxo da Vida” – a medida “social”
2. Estabelecer a “Revolução-do-Meio” – a medida
“cultural”
Passamos pois a analisar os temas –que representam “medidas indissociáveis”-, concluindo ao final com algumas observações gerais.
O “Fluxo da Vida” é um nome mais genérico para
aquilo que Hegel chamou de mobilidade
social, porém com um sentido não tão econômico como tinha para os filósofos
modernos. Vamos a um exemplo tradicional.
Note-se que, pese todas as críticas que se
possa fazer do modelo social hindu, a pirâmide social hinduísta possui
estrutura basicamente cultural e axiológica, e não tanto econômica. Por esta
razão a “burguesia” está nas bases e os sacerdotes estão no topo, eles que não
costumam deter maior poder econômico na Índia, mesmo que os brahmanes não sejam
exatamente monges.
Claro que muito disto tudo está hoje
corrompido. Vale notar porém que, por detrás deste sistema social, existe uma
estrutura cultural de educação-permanente chamada ashramas, que determinava as castas (varnas) pela formação cultural e pela vocação das pessoas, sem
quaisquer considerações outras. Só depois o sistema foi distorcido,
estabelecendo o nascimento acima da educação e da vocação. O Varnashramadharma (“lei das castas
cíclicas”) era, pois, uma espécie de sistema iniciático coletivo ou social.
Enfim, o “Fluxo da Vida” é apenas deixar as
coisas fluir naturalmente, sem privilégios nem preconceitos de nenhuma natureza,
e sem empecilhos para ninguém avançar, estabelecendo solidamente os alicerces da Fraternidade
Universal.
Para isto as pessoas devem estar
preparadas para a universalização da educação permanente em termos holísticos e
integrais, o que implica em superar certos preconceitos elitistas contra ou a
favor de coisas como trabalho físico e intelectual, especialmente naquilo que
diz respeito às novas gerações.
Isto não significa que as pessoas deverão fazer
“de tudo” o tempo todo (embora isto também deva estar disponível) como
propugnam alguns, mas elas deverão sim ser estimuladas a fazer de tudo (forma de dizer, na verdade
se trata mais de posições sociais e hierarquias de tarefas) por etapas.
2. Estabelecer a “Revolução-do-Meio” – a medida cultural
Vamos fazer aqui uma leitura desta expressão em
três níveis.
Primeiramente, naquilo que pode soar mais óbvio,
o termo “Revolução-do-Meio” implica
em enfatizar e qualificar o meio-ambiente na sociedade humana. Este é um ponto
pacífico e consensual em todos os projetos de sociedades futura, restando
apenas discutir detalhes a respeito.
Contudo, a palavra “meio” aqui não significa
apenas ambientalismo, mas todo o ambiente em si. Cabe criar um novo modelo cultural
para a sociedade humana. Afinal, como dizia o filósofo midiático MacLuhan, “o
meio é a mensagem”.
Adaptando esta ideia para toda a cultura, o ambiente no
qual vivemos nos diz coisas todo o tempo (fenomenologia social interacionista). Por isto a educação e a cultura não podem
estar divorciadas do nosso cotidiano. Enfim, não adianta muito apenas “pintar
de verde” a nossa vida se não mudamos também hábitos e valores. A mudança da
moldura deve refletir a mudança de todo o quadro, ainda que o stablishment venha obviamente a tentar
mudar apenas aquela e não este.
Mas acima de tudo, o termo “Revolução-do-Meio”
diz mesmo respeito à procura pela
Meso-Revolução. Este é um caminho central –e
como tal realmente fértil e equilibrado-, em relação às duas vias de transição buscadas
sob a Guerra Fria, uma interior “alternativa” e mais espiritual pelos “novos
sábios” e “sábios guerreiros”, e outra exterior “guerrilheira” e mais física
pelos “novos guerreiros” e “guerreiros-sábios”. A proposta média hoje em curso é
a integrativa, sendo aquela que nasce da alma, reunindo enfim definitivamente sábios
e guerreiros. E nisto, toca a estas categorias atuar conjunta mas
prioritariamente em duas frentes: a desconstrução dos velhos ambientes e a
construção dos novos ambientes.
Através isto, se trata por um lado
(“alternativo”, através de sábios e de sábios-guerreiros sobretudo) de socializar os recursos e a experiências
alternativas através de:
a. criação de estruturas sociais novas de
alcance social, na expansão da comunidade alternativa ou da ecovila (embora estas também possam seguir existindo para certas finalidades) para a cidade sustentável e holística;
b. a formação ou a expressão social de agentes
pedagógicos para difundir socialmente os conhecimentos adquiridos de forma mais
ou menos autônoma, autodidata e underground
nas recentes gerações.
Por outro lado (“guerrilheiro”, através de
guerreiros e de guerreiros-sábios sobretudo), cabe canalizar a militância para
a criação destes novos modelos sociais, atuando:
a. na denúncia do velho e na conscientização do
novo;
b. coordenação dos comitês de êxodo urbano.
Não obstante, o engajamento interno também é
essencial, para evitar o isolamento e o dualismo cultural. O engajamento
sincero e profundo é a grande chave para o sucesso de todas as revoluções
culturas profundas na História da humanidade. E isto pode ser feito
especialmente por aquelas pessoas que por qualquer razão não podem ainda se
desligar do velho sistema, e também por quem se acha capacitado a atuar ali de
forma mais o menos contínua. A penetração no velho sistema deve ser profunda, com
ênfase nos meios mais carentes e populares.
Assim, de maneira complementar, estes dois
grupos principais também saberão dar uma atenção especial para melhorar o
antigo modelo social, realizado atividades positivas também nas velhas cidades,
como:
a. mobilizações sociais reivindicativas,
conscientização midiática de cidadania e soberania;
b. replanejamento ambientalista e social,
criação de comunidades urbanas fixas ou de transição, projetos sociais
ambientais.
c. ensino e orientação social, cultural,
terapêutica e espiritual. Etc.
Observações gerais
O leitor notará certamente que no item inicial
“Restabelecer o ‘Fluxo da Vida’”, falamos sobre estruturas sociais holísticas,
mas depois no item seguinte “Estabelecer a ‘Revolução-do-Meio’”, a ênfase foi
quase toda para os sábios os guerreiros.
Tal coisa deriva da natureza da Nova Sociologia
ou da Sociologia Novomundista, afeita para os estágios do constructo sócio-cultural do Novo Mundo, as Américas, especialmente
as América Latina.
Sucede que, se numa Europa em desconstrução se
tratou de ideologizar as classes materialistas emergentes em franco detrimento
das classes idealistas que regeram aquela sociedade até o Renascimento, nas
Américas a situação é francamente oposta, uma vez que já ultrapassamos aquela
formação básica das classes materiais, tocando agora consumar a classe idealista
e preparar a espiritual, tudo isto com todo o viço e inexperiência dos novos
movimentos sociais.
Estes novos sábios e guerreiros são pessoas que
aprenderam muita coisa na prática e não são pessoas elitistas, mesmo muitas
vezes oriundos das elites. Ainda que não raro padeçam de alguma confusão natural
sob a carga das ideologias alienígenas que buscam fraccionar socialmente -ou
até “desconstruir” anarquicamente- a sociedade, coisas impossíveis todavia de
fazer num mundo ainda em formação como o das Américas
Houve de fato entre nós também movimentos
proletários e guerrilhas proletaristas nem sempre bem orientados. Hoje estas
tendências são importantes na nação por causa do vácuo político deixado no país
pelas intensas atividades retrógradas da Ditadura. Contudo, estas forças não
ajudam realmente no avanço da nação, especialmente quando estas ideologias têm
sucumbido já nas suas matrizes restando apenas a caricatura, o mito e o
oportunismo.
De resto a proposta é que estas pessoas
penetrem na sociedade em geral para trabalhar pelo direcionamento para as novas
coisas, cientes que toda a ênfase materialista reforçará apenas duas coisas:
a. a atrofia cultural materialista (Ieia-se:
burguesa-proletária) detendo o avanço sócio-cultural do Novo Mundo (que inclui
o ambientalismo, o fraternalismo e a nova espiritualidade), e
b. o empoderamento das forças alienígenas
predatórias, os chamados “interesses internacionais” de exploração (neo)
colonialista, que tendem a instrumentalizar a seu favor especialmente as
classes materiais, uma vez que estas possuem afinidades com os cursos da
Sociologia do Velho Mundo - os quais não obstante já se acham muitas vezes
defasadas e atrofiadas.
Com isto tudo estaremos finalmente dando “nome
aos bois” quanto à nossa verdadeira identidade social americanista, e discernindo
a nossa própria função daquela outra que prevalece na Europa, onde não existe
interesse para o fomento de algo tão amplo e libertário como existe entre nós.
O Velho Mundo ruma hoje para uma Anarquia
quantitativa/materialista, mas o Novo Mundo entrevê no seu “remoto horizonte” a
grande estrela de uma Anarquia qualitativa/holística realmente renovadora para
toda a humanidade.
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