“Onde a civilização implicava a corrupção e a criação de pessoas dependentes, eu decidi que era contra a civilização.” (J.M.Coetzee, “Esperando pelos Bárbaros”)
As sociedades bárbaras derivam das organizações originais da
humanidade, e decidiram não avançar muito além do neolítico realizando um uso mínimo dos metais, valorizando a ordem tribal mesmo quando erigissem os seus centros
de culto, ou se organizando em vilas e aldeias sem maiores estruturas
isolacionistas.
Quando a Civilização adoece precisamos lembrar das suas raízes
naturais, sem as quais a ordem civilizada perde todo o sentido e até merece ser
evitada ou abandonada, ou pelo menos minimizada. É como se costuma dizer: “a cidade precisa do campo,
mas o campo não precisa da cidade.”
Por isto muitos povos naturais abandonaram a Civilização (como
fizeram os maias) ou até preferiram não avançar até este estágio cultural,
muito embora tais sociedades também tenham por vezes, por alguma razão, não
apenas atacado, destruído e debilitado as civilizações decadentes e opressoras,
como até a elas se misturado visando regenerar as coisas e melhorar a sua própria
condição, restabelecendo assim as conexões do meio civilizado com a virtude e com
a Natureza.
Isto mesmo: a Natureza é a base de toda a humanidade, inclusive
moral e espiritual. O homem civilizado ao extremo, sem raízes nem contatos com a
Natureza, perde as suas referências e se perde de si mesmo. O excesso de Civilização
é hoje, indubitavelmente, a grande causa dos males do mundo.
Comunitarismo e Cidades Novas
Por esta razão as respostas necessárias também virão do corte no avanço predatório da Civilização e do fomento à ordem natural. Os movimentos comunitários que surgiram nos anos setenta tinham em parte esta intenção, embora a sua imaturidade tenha terminado por debilitá-los. Hoje se fala mais em ecovilas, mas como isto comporta pouca vocação social, também cresce o apelo em favor das cidades sustentáveis e até de novas cidades holísticas –as quais sempre podem surgir de ecoaldeias ou ecovilas, naturalmente. Mesmo porque a dimensão atual da cultura-de-massa não pode ser compensada apenas com iniciativas isoladas e românticas.
Por esta razão as respostas necessárias também virão do corte no avanço predatório da Civilização e do fomento à ordem natural. Os movimentos comunitários que surgiram nos anos setenta tinham em parte esta intenção, embora a sua imaturidade tenha terminado por debilitá-los. Hoje se fala mais em ecovilas, mas como isto comporta pouca vocação social, também cresce o apelo em favor das cidades sustentáveis e até de novas cidades holísticas –as quais sempre podem surgir de ecoaldeias ou ecovilas, naturalmente. Mesmo porque a dimensão atual da cultura-de-massa não pode ser compensada apenas com iniciativas isoladas e românticas.
Estas novas cidades deverão ser então, através de sua força
social, um meio estratégico para reverter as tendências predatórias da
civilização materialista (capitalista, marxista). Ao invés de tumores no mundo
elas serão vigorosos órgãos de recriação do meio natural, chakras sociais luminosos de cultura nova e holística como cabe.
Auroville, Índia |
Com isto não estaremos esquecendo da ordem natural “bárbara”,
é claro, apenas recriando as condições para que ela também possa se reimplantar
com maior segurança, já que o acesso à terra se torna cada vez mais difícil face
as tendências de superurbanização para industrializar o campo.
Assim, esperamos haver deixado claro que a contraposição pura
e simples da relação campo-cidade –pelo radical abandono das cidades-, hoje a pouco
pode levar para beneficiar o todo. Para haver força e coerência, a verdadeira contra-civilização
deve ir além da anti-civilização simplista, sendo antes capaz de abarcar um
movimento de desconstrução progressivo em direção à ressocialização do meio
natural (rural e florestal), que resultará uma vez mais no multiculturalismo que caracteriza a própria
ideia original de Civilização, saudável e universal.
Ver também "O anarco-barbarismo e a Queda do Império Romano"
Ver também "O anarco-barbarismo e a Queda do Império Romano"
* Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.
Editorial Agartha: www.agartha.com.br
Contatos: webersalvi@yahoo.com.br
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