Quando o Partidarismo é trunfo da opressão



Todos conhecem o ditado político “dividir para conquistar” ou dividir para reinar”, derivado do grego διαίρει καὶ βασίλευε.
Porém, se ignora comumente que esta premissa também pode se aplicar à política partidária, através da incensada “Democracia”, especialmente quando esta fica cativa do bipartidarismo.
O Partidarismo não é a opressão em si, mas sim um instrumento poderoso na sua mão, que caminha para onde o jogo-de-forças permite.
Fica ruim ao opressor fazer uma coisa em casa e outra fora. Com o pretexto de ajudar as nações a se libertar do velho colonialismo de outras nações que lhes fechavam as portas, os novos imperialistas do livre-mercado e da globalização tem implantado a república e a democracia mundo afora como válvulas-de-escape nas nações exploradas, mas o controle do sistema tende a permanecer nas mãos dos poderosos através da mídia, do suborno, da pressão e da violência –e dos seus títeres locais, obviamente.

Porém, quando o povo se mobiliza para se libertar internamente pela justiça social, aí as coisas mudam de figura: o opressor externo tenta se impor para preservar a servidão social através de golpes e assassinatos. O filme “Queimada” é um clássico a respeito, mas os exemplos são inúmeros na História moderna e contemporânea, de Simon Bolivar a Salvador Allende e ainda mais.
Obviamente, não estamos propugnando o antipartidarismo, mas sim o suprapartidarismo através do verdadeiro multipartidarismo, como veremos adiante.

O regime do chamado “Partido Único” é reconhecido como Ditadura, ali a ideia de “Partido” é quase meramente retórica.
Contudo, o Bipartidarismo tácito, tal como impera nos Estados Unidos, reflete igualmente uma forma de Ditadura Pactual (não casualmente, algo similar foi adotado no Brasil pela Ditadura Militar de 64), onde duas facções políticas também acordam serem exclusivas; o que não deixa de ser um reflexo do Materialismo Histórico “Dialético” (ou, antes Dualista, no bom jargão) analisado por Karl Marx.
Este tipo da Pacto deriva da mentalidade modernista-contemporânea europeia e “nada” tem a ver com os Continentes colonizados, especialmente as Américas (Latina sobretudo) que detém um processo histórico realmente novo. Tal pacto materialista é regido pelas classes sociais burguesa-proletárias que dominam a descontrução civilizatória euroasiática, enquanto que as Américas seguem um curso histórico inverso de construção sócio-cultural, que na atualidade tem superado já a fase da burguesia.*
Em nome da justiça social a causa modernista do marxismo social tem ganhado o mundo e seduzido mentalidades. Contudo esta ideologia teve já o seu momento histórico na Eurásia, e nas Américas nunca teve lugar por diversas razões. A recente ascensão do “marxismo cultural” (o neo-marxismo de Gramsci) no Brasil, como herança nefasta da Guerra Fria, tem sido um atraso cultural e econômico porquanto tudo se resume a um projeto-de-poder populista social e ambientalmente predatório, desenraizado a extemporâneo, profundamente regado à corrupção.

Na busca das Sínteses

Simbólica ou cosmologicamente falando, o apartidarismo (Ditadura) é como o caos primordial, que não admite forma ou diferenciação. O partidarismo (especialmente como bipartirdarismo) já é uma organização diferenciada, algo em transição. Porém, o multipartidarismo abre caminho para o suprapartidário, porque a triangulação tende às sínteses. Aqui temos o começo de um “cosmos” real, uma ordem universal suprapartidária tácita ou efetiva, harmonizando centro e periferia.

O termo “anarquia” é sabidamente dúbio, podendo expressar tanto a desordem rebelde como também a superação da ordem formal. O apartidarismo tem relação com a ótica “inferior” (mesmo porque o golpismo ou a ordem compulsória fomenta a rebeldia interna), e o suprapartirdarismo com a “superior” (a almejada “ordem natural”).



Partidos são sabidamente organizações de ideologias sociais, porém a ótica dos Estadistas transcende estas divisões. As sociedades em construção não devem se dividir rigidamente em partidos, porque as suas classes sociais ainda estão em formação. A sua verdadeira tarefa é construir estas mesmas classes cada vez mais dinâmica e solidariamente, tendo o cuidado contra os interesses externos que são os seus verdadeiros adversários.
Os opressores externos chegam a preferir um regime socializante de ideologias alienígenas (como o marxismo), a um regime nacionalista com socialismo nativo,** porque o foco deste é pela emancipação da nação e pelas reformas estruturais, ao passo que o anterior compactua com a “internacionalização” orgânica (e através disto com a “globalização”), buscando apenas reformas conjunturais como a melhor distribuição de riquezas.
O suprapartidarismo possui muitas feições, que podem ser fundidas ou aproximadas. Tais como:

1. Na Democracia Direta –que pode ter diversas feições- inexiste uma divisão partidária formal. Caracteriza contudo sociedades pequenas - que não deixa de ser uma das origens históricas da expressão “dividir para conquistar”. Contudo, estas microsociedades têm sido uma das formas mais sábias e naturais da organização humana, próprio sobretudo das sociedades tribais e bárbaras (Grécia e Roma já priorizavam elites). Apenas ali a Democracia realmente funcionou, estando o povo próximo de seus representantes, os quais tem muito mais função externa para efeitos de uma confederação de clãs, províncias ou nações, do que propriamente para fins internos. São sociedades mormente autogeridas, por assim dizer, sem necessidade de burocracia; os bons governantes são aqueles que inspiram este equilíbrio entre liberdade e responsabilidade. Assim, se o opressor propõe a divisão política dentro de amplos conglomerados humanos, a ordem natural pede o contrário: a unidade política dentro de pequenos agrupamentos humanos, o que não impede uma organização maior latente ou branda na forma confederada, ante desafios maiores.

2. A “Monarquia esclarecida” não dista necessariamente do modelo anterior, por isto se diz que “os governos tendem à monarquia, como os corpos gravitam para o centro da Terra” (Marquês de Maricá). Os verdadeiros líderes e Estadistas são naturalmente raros, por isto quando eles surgem devem ser valorizados ao máximo, inclusive por cargos vitalícios. Nisto, não se trataria de propor ressuscitar velhas monarquias hereditárias, mas de aferir sempre o valor humano presente, devidamente aclamado pelos cidadãos reconhecidos.

3. O Nacionalismo é uma é visão social integradora e protecionista da nação e do país, podendo ser considerado como um dos fundamentos sociais da Monarquia. Possui uma função especial e natural nas nações em formação. Sua expressão europeia gerou aberrações como o Nazismo ou o Fascismo, afinal a Europa já era uma região social e economicamente organizada. Muito diferente ocorre no Novo Mundo, onde o nacionalismo se faz necessário para formar as sociedades emergentes. Combatido na Segunda Guerra e profundamente erradicado durante a Guerra Fria, o Nacionalismo ressurge atualmente incorporando o ambientalismo de forma natural, aproximando-se assim das Sociedades Tradicionais (ver item seguinte).

4. A verdadeira “Terceira Via” é uma opção moderna, não exatamente aquela da Social-Democracia que, afinal de contas, é apenas algo meio de centro. A “Terceira Via” real é uma triangulação onde se contempla o melhor de cada mundo para todos, gerando algo realmente novo e unificado. A Terceira Via centrista apenas domestica e harmoniza a dualidade materialista (burguês-proletária), porém a Terceira Via triangulista advém da nova cultura unificada que desponta sob uma nova categoria social, a qual se identifica ao Nacionalismo e afins, como o Socialismo nativo e o Ambientalismo social (ver item anterior). Temos visto emergir na política brasileira dignos expoentes deste calibre.

5. Por fim, existe uma proposta original, que traz a força das grandes Fundações. Nela contempla-se a concórdia universal, pela visão da unidade das coisas. Ali os rumos dependem menos dos homens sábios (como desejava Platão) que das ideias íntegras (como almejava Aristóteles) -ainda que na prática ambos sejam inseparáveis. Este regime possui um nome: Sinarquia ou “Governo Conjunto”, onde todos os setores sociais estão equitativamente representados, dentro de uma hierarquia natural de valores. O grande divulgador deste sistema social (e “não político”) foi o Marquês de Saint Yves d’Alveydre.

Todas estas formas sociais fomentam a evolução e a integração humana, permitindo à sociedade sair do círculo vicioso dualista e materialista ambientalmente alienado, tal como este que atualmente encarcera a humanidade conduzindo o planeta ao caos. Por esta razão é tão importante a sociedade superar o quadro bipartidário optando por novas agremiações. Apenas com isto poderemos superar realmente o modernismo-contemporâneo para resgatar a unidade atemporal e o dom-de-mundo na sociedade planetária.


* Esta questão das “fases sociais” tem sido já amplamente demonstrada por nós através dos “Calendários Sociais” atrelado aos ciclos sociais bi-seculares revolucionários-desconstrutivos verificados na Europa e, de uma forma mais evolucionária-construtiva, também nas Américas (com destaque para o Brasil, levando à mudança da Capital Federal entre as regiões).
** O uso do termo “socialismo nativo” visa discernir duas questões: 1. evitar termos como social-nacionalismo, que pode ser confundido com o nacional-socialismo (nazismo), uma vez que o simples fato de serem de continentes e processos distintos faz toda a diferença; 2. afastar da ideia do socialismo alienígena do tipo marxista que igualmente pertence a um outro curso histórico e tem propósitos de conflitos internos do que de livramento social de pressões internacionais.
Desde a descobrimento das Américas temos sido assolados por ideologias europeias. Aos poucos se foi construindo um corpo ideológico local em contraste com o exterior, embora por vezes mantendo certas aproximações. A grande questão está no curso histórico existente entre ambos os continentes. A Europa possui uma longa história, detendo portanto classes sociais bem consolidadas, de modo que até se pode falar em “luta-de-classes” com algum proveito. Porém, as Américas são sociedades em construção, onde a divisão das classes incipientes apenas pode fortalecer interesses externos. O conhecimento da diferença histórica entre construção e desconstrução faz toda a diferença em relação à aplicação das ideologias. Restam apenas analogias entre estas variantes porém suas práticas são muito diferentes.



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