As Esquerdas” do Século XXI

Aqueles que associam o avanço social a classes fixas e definidas, poderão estar praticando alguma forma de reducionismo histórico (fixado em circunstâncias momentâneas), uma vez que tradicionalmente as classes sociais emergentes são apenas veículos para o avanço e as mudanças sociais em qualquer tipo de sociedade. Uma revolução significa um salto de dinamização social coletiva em favor de uma classe emergente. Ademais, as frentes que compõe as chamadas “classes revolucionárias” nunca são socialmente homogêneas como se quer imaginar.

Assim -e para limitar-nos ao contexto ideológico assim definido-, a ideia de “Esquerda” surgiu quando a burguesia vitoriosa quis se contrapor à aristocracia (e eventualmente ao clero)* depois da Revolução Francesa. Mais tarde, sob o contexto opressivo da revolução industrial (e quando a aristocracia havia se fundido ainda mais profundamente à burguesia), o proletariado se levantou para ocupar a posição das Esquerdas, ao mesmo tempo em que desponta o Anarquismo como visão política alternativa
, e já como semente de uma etapa futura da humanidade. O processo poderia ser estendido para momentos anteriores da desconstrução da civilização europeia, quando por exemplo a organização da própria aristocracia também representou um avanço social em relação ao status social medieval através da formação das nações.

Historiadores e sociólogos tem observado a existência de um ciclo de 200 anos nestas mudanças sociais, ao menos desde o final da Idade Média. O mesmo ciclo pode ser notado nas sociedades em construção, como aquelas do Novo Mundo, onde no Brasil por exemplo, as capitais federais mudam de região a cada 200 anos para acompanhar as evoluções sociais deste continente –pois aqui ainda não falamos de “revoluções” por se tratar de um quadro de construção social e não de desconstrução. Nestas sociedades em organização, as classes ainda se acham em construção, de modo que este constructio é que representa suas transformações socioculturais. Aqueles que jugam que as classes simplesmente não devem existir, não compreendem o componente cultural vital que se acha na raiz das estruturas sociais, para além das circunstâncias históricas.

Então, estas mudanças sociais representam a transformação do controle do poder da civilização através de uma nova classe social emergente, quando a antiga classe que está no poder passa a manifestar também os vícios da corrupção e da opressão.

Os marxistas costumam dizer que, uma vez que o proletariado realiza a sua revolução, então tudo está resolvido porque já não haverá classe a ser oprimida. Nisto falta, porém, atar vários pontos, tais como.

1. PÓS-CLASSE. Considerar devidamente a visão "pós-classes" que traz o anarquismo, como etapa revolucionária pós-estado. De modo que isto concentraria o cerne das mudanças socioculturais da Europa pós União Soviética
, num quadro de verdadeiro “final da História” (européia ou hemisférica) portanto.

2. TRANS-CLASSE. Respeitar as essências culturais das restantes classes sociais, como estruturas de consciência, para além das problemáticas econômicas e das circunstâncias históricas.

3. PRÉ-CLASSSE. O quadro “pré-classes” da exclusão social nas “sociedades periféricas”, uma vez que a problemática social do mundo não começa com os “proletários explorados” e sim com a exclusão aviltante existente sobretudo nas sociedades colonizadas ou pós-colonizadas.


O avanço do Novo Mundo

Neste último item, voltamos a tratar então das citadas “nações em construção” onde, apesar de permanecer parcelas significativas de exclusão social, também existe uma relativa evolução social. Ocorre que neste processo formativo, dá-se igual ou maior ênfase ao cultural que ao econômico.

Considerando os ciclos sociais de 200 anos antevistos, o Novo Mundo acha-se na atualidade organizando a sua terceira classe social, aquela que recebe no jargão sociológico tradicional o nome de “aristocracia”, ou a cultura dos guerreiros, como classe idealista e esclarecida, com capacidade de consciência de nação ou de sociedade unida. 
A aristocracia tradicional não é uma classe voltada para administrar herdades nababescas, e sim uma categoria de idealistas geralmente militarizada e despojada, que vivem em vilas e nos acampamentos militares, ainda que as relações com o poder terminem por descaracterizar até as melhores vocações, mesmo as religiosas.
Na verdade, este é o grande contexto cultural do socioambientalismo, filosofia emergente e original do nosso país e que representa a sua grande vocação sociocultural, através de modelos sociais populares inspirados nos campesinos, quilombolas, caiçaras, indígenas – e ecologistas. Podemos observar inclusive, que o Fórum Social Mundial cada vez mais vem sendo ocupado por estes atores em todo o mundo, seja porque as “Esquerdas tradicionais” têm chegado ao poder e se desgastado, seja porque estes movimentos socioambientais realmente representam melhor as novas urgências planetárias.

Esta classe de nobreza d'alma pode se expressar através do nacionalismo social ou do socialismo nacional, inclusive naqueles moldes que o marxismo definiu como “utópico” (em função das formulações idealistas de “Utopia” de Thomas More), assim como do ambientalismo e da espiritualidade.
Neste aspecto, caberia sobretudo à burguesia novomundista esclarecida buscar esta evolução ou promoção sociocultural em prol desta nova etapa aristocrática, tratando de fazer avançar a justiça social e a própria consciência humana; coisa que tendem a fazer alguns dos mais ricos e também muitos filhos da burguesia e da classe média. Podemos entender a opção alternativa do Movimento Hippie e derivados como perfeitamente representativo deste processo histórico novomundista.

O nacionalismo social tem realizado conquistas já no Novo Mundo, uma vez que tem passado já um século da sua existência. Prova disto é a construção de Brasília, segundo o avanço do calendário sociocultural do Hemisfério ou do Continente.


Cada etapa social de 200 anos cobre três gerações destinadas a fundar, consolidar e transformar uma dada cultura social. As três naturezas da aristocracia tradicional são definidas como militar, política e filosófica, constituindo também a cultura nacionalista das gerações dos guerreiros. A etapa “militar” é fundacional, como aquela que implantou a República no Brasil. A etapa “política” valoriza a polis e as instituições sociais, por isto as novas capitais são criadas nesta etapa média de consolidação. A nova e última etapa do nacionalismo social é a “filosófica” de adaptação e resgate de valores, encampando o ideal comunitário e, através disto, os modelos sociais nativos tradicionais; donde também as “utopias” das novas cidades sustentáveis e socialistas ou fraternais, laboratórios para uma efetiva renovação sócio cultural no mundo. Mais uma vez vale a menção aos Movimentos Hippies e derivações dentro destas novas aspirações socioculturais ambientalistas.

E assim, tratemos de resumir os quadros ideológicos aqui delineados para fins de avanços socioculturais no Século XXI
, elegendo para a sub-etapa novomundista um termo específico para a geração em pauta:

Europa (ou Hemisférios Norte/Oriental) = ANARQUISMO (Desconstrução)
Américas (ou Hemisférios Sul/Ocidental) = SOCIOAMBIENTALISMO (Construção)

Soa evidente que algumas regiões serão mais representativas do que outras, achando-se algumas também posicionadas como “zonas-de-transição”.


Desentranhando o caos ideológico

Não poderíamos deixar de observar a grande confusão e perda de rumos que os cenários ideológicos cruzados do mundo produzem amiúde, com especial prejuízo para os povos em formação. Como parte de uma guerra de propagandas, a cooptação ideológica é imensa e cruel; o falso discurso humanista impera em todos os espectros políticos, e o materialismo termina por devassar mentes que a rigor buscariam o espiritual e o universal. Com isto muitas nobres vocações são desviadas e terminam reduzidas em suas aspirações; o espiritual se confunde com a simples terapia e intelectualismo e o universal se substitui pela mera tolerância desengajada.

A perseguição e o patrulhamento ideológicos são atrozes, geralmente atirando pechas injustas e injustificáveis, na tentativa de nivelar tudo por baixo. Como qualquer ideologia, o Nacionalismo possui muitos vieses, e a legitimidade de cada ideologia depende inteiramente das circunstâncias históricas. Porém, não é incomum um esquerdista radical rotular com uma face um nacionalista de “fascista”, e com a outra face usar as ideias e conquistas nacionalistas para as suas próprias causas. Contudo, podemos demonstrar que, hoje, a Esquerda marxista também se confundiu com a situação e com o poder, perdendo a sua legitimidade como dinamizador de avanço social mesmo na Europa.


Neste sentido, o colonialismo ideológico não atinge apenas as Direitas –e isso vale também para os próprios núcleos dos impérios socialistas, cujas nações de entorno são profundamente oprimidas e espoliadas até o nível da escravidão. Como sucede nas críticas realizadas pelas ideologias européias a modelos sociais, culturais e econômicos que para elas são considerados passados, mas que para as sociedades em formação ainda são coisas que pertencem sine qua non ao seu próprio futuro. Endossar cosmovisões alheias acriticamente, representa alienação das mais graves e fatais para cada indivíduo, para a sociedade e para o próprio destino do planeta.

O conhecimento dos calendários sociais tradicionais, tal como trazemos nesta matéria, é fundamental para a detenção uma precisa Ciência da História. Estes calendários tendem a não desmentir as grandes ideologias, mas ajudam a discernir quadros complexo como o do multiculturalismo e da globalização, assim como situações desafiadoras como o “final da história” hoje em processo na Europa, quando as dinâmicas sociais internas deverão encontrar um repouso final, assim como questões refinadas como é a organização prática do Nacionalismo Filosófico na América do Sul em especial.
Quanto mais complexas e sutis são as situações, mais convém contar com instrumentos específicos para a sua análise e administração. A sociologia europeia, para exemplificar, trabalha com uma dialética histórica local, porém também existem “dialéticas” noutros continentes e até questões 
mais amplas de âmbito planetário.

* Maliciosamente, a burguesia impôs um modelo político de conciliação que lhe era afim, mais ou menos como atrair (e manter) o adversário para o seu próprio campo de batalha. A melhor aristocracia teria sempre dificuldades para encarar os jogos políticos ou convencer as plebes da nobreza das suas causas; mesmo porque a democracia aristocrática não é a representativa e sim a direta.
** Podemos dizer aqui que o socioambientalismo se completa com a espiritualidade, tudo isto perfeitamente representado pelo arquétipo tríplice que simboliza a terceira geração da aristocracia, que é o do signo de Sagitário, por se tratar da nona geração na formação do Novo Mundo, ou na completação da terceira classe social.

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Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com
 cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.

Editorial Agartha: www.agartha.com.br
Contatos: webersalvi@yahoo.com.br 
Fones (51) 9861-5178 e (62) 9776-8957


Um comentário:

  1. Desculpe a sinceridade, mas você está sendo "muito complacente", com as esquerdas ao redor do planeta.
    Além desse patético "avanço social" ou a defesa da maior mentira da humanidade; que é o jargão "a busca da justiça social", as esquerdas pecam exatamente como a direita pecou no passado; ou seja, deixando-se corromper pelo poder e pela ganância monetária.
    Mas o que distingue a esquerda é a opressão e a imposição na sociedade do projeto autoritário de poder tentando-se perpetuar e fraudando eleições, poderes constituídos da sociedade e qualquer democracia que possa estar constituída. O maior e mais clássico exemplo é CUba. Praticamente 60 anos parada no tempo, possui eleições (que são fraudadas sempre). Situação parecida (ainda engatinhando, se comparada a CUba), vive a Venezuela. País despencando em todos os quesitos sociais na última década vive uma Ditadura Comunista: ou melhor: a implementação do Socialismo Bolivariano que é o novo nome do Comunismo no Séc. XXI.
    A característica do rompimento dos poderes constituídos e posterior populismo de um pseudo líder "ditador", num país passa a ser a maior característica do Socialismo Bolivariano.

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