À espera do rei


“Há um tempo para cada coisa sob o Sol” (Salomão)

Apesar das virtudes da musa Democracia (ou por sua causa mesmo), a Boa Tradição aguarda uma Idade de Ouro, na qual o Mandato social já não seja assunto para amadores, mas de vocação superior destinada a enobrecer toda a sociedade, para então proclamar ou aclamar o Campeão da Justiça. Este deve ser um protetor do povo e um defensor da fé. A sociedade esclarecida não aprecia tomar em suas próprias mãos tão elevado desígnio, porque significaria manter as coisas num nível menor de compreensão e cultura, quando o que se busca é que os Predestinados possam, eles sim, fazer a sociedade avançar a partir das suas altas qualificações.

Então, a Dama do Lago, que é a República-em-pessoa, entrega Excalibur ao Herói da Nação, consagrado por seus serviços unificadores do baixo e do alto, pelo povo e pelos sacerdotes.
O Predestinado pode até não pretender o poder e alimentar ilusões políticas superficiais e vulgares –é a forma que encontra, afinal, de se sentir parte do todo-, contando apenas com a sua boa vontade, mas não com conhecimento, disciplina e treinamento. Por isto ele precisa de um mestre, como Arthur necessitou de Merlim, ou tal como Krishna fez com Arjuna.

Cada qual deve conhecer o seu verdadeiro dever, porque o dever é tudo. Da mesma forma que o povo se enobrece olhando para cima à procura de um Guia iniciado, a humildade do iniciado não está em fazer-de-conta que é povo ele mesmo, mas sim em obedecer as orientações do Mais Alto, com suas próprias visões do Todo.
Somente assim é possível uma Idade de Ouro, e depois de Prata. Mais tarde, quando estas Ordens hierárquicas se perdem e deslegitimam, então os próprios Guardiões conscientemente ordenam que Excalibur seja devolvida às águas, que dizer, ao povo, para que não caia em mãos errôneas, que tenderão a usar a casca das velhas instituições áureas, porém já sem conteúdo, sem alma ou espírito. A grandeza de realizar esta renúncia, impede os males das revoluções e das reformas, permitindo sempre manter acesa a chama da verdade maior dos Elos sagrados.

Contudo, isto implicaria em proceder também uma reforma cultural, como fizeram os maias ao abandonar as suas cidades para voltar para as aldeias e as florestas. Na realidade, o povo já vivia em aldeias, e aquilo que foi sepultado criteriosamente com pedras e terra, a fim de voltar para a Natureza -simbolizando assim a sua intenção espiritual íntima-, eram apenas centros cerimoniais aos quais acorriam quando os seus sacerdotes ainda podiam realizar os seus ritos e sacrifícios. Contudo, o poder destes enfraqueceu, nada restando que esquecer as velhas coisas.

Nisto existe uma importante mensagem para a sociedade moderna: a de que não existe salvação para as grandes cidades, meio desumano de alienação e violência, onde às pessoas resta apenas uma vida de gado ou de formiga. É preciso hoje repensar este modo de vida pobre e alienante, naturalmente sem perder as verdadeiras vantagens existentes nestes meios, e ainda receber muitas coisas mais. Um grande sentido para a vida pessoal, social e espiritual deve ser acrescentado, através de conhecimentos precisos da ordem superior das coisas.
A revelação das lideranças naturais é um passo importante, e cada núcleo humano deve definir estas forças criativas sem burocracia. Tais lideranças comporão então Conselhos, dentro dos quais se descobrirá o Primaz, e assim sucessivamente, até que tudo se encontre sob a luz da Ordem natural.

Da obra "Teocracia - Tradição & História", LAWS

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