O Anarco-Fundamentalismo e a superação do dogma ideológico



Fundamentalismo é o apego literal e acrítico às raízes doutrinais de um credo ou ideologia, sem maior capacidade de adaptação, interpretação ou flexibilização. Embora se costume hoje atribuir o tema à religião, sabidamente ele se estende a toda forma de doutrina.
O que seria, neste caso, um comportamento oposto ao fundamentalismo? Citemos:


“Ao contrário do que se imagina, o anti-fundamentalismo não seria exatamente o liberalismo, e sim o modernismo. Ora, mesmo na espiritualidade se reconhece a necessidade da atualização das doutrinas, sem o que sequer seria possível vivenciar bem ideias que se originam necessariamente num dado contexto histórico. A maior prova disto seria, talvez, a própria doutrina hindu sobre o advento cíclico dos avatares.” (“Do fundamentalismo e outros desvios”, Salvi).

Ora, se até mesmo as religiões, que seriam fundadas por figuras supostamente divinas detentoras de grande poder de síntese, recebem adaptações cíclicas e geográficas em várias escalas, que dizer de doutrinas elaboradas por filósofos de menor alcance e capacidade? É mais do que óbvio e ululante que estas visões-de-mundo necessitam ser sistematicamente adaptadas e também completadas com o passar dos tempos.


O comportamento “conservador” leva basicamente a tentar repetir modelos empregados na época da criação da doutrina –e cabe levar em conta que nisto se incluem também as doutrinas reformadas já em desuso ou naturalmente desviadas. Os desvios são comuns nas atitudes do leigo ou do falso-filósofo.
Como se manifesta, pois, o fundamentalismo anárquico? Ora, em função desta cegueira histórica, o fundamentalismo leva a atitudes radicais e extemporâneas. E como o anarquismo costuma ter muito mais a ver com o deixar-de-fazer-coisas (a própria palavra “anarquia” é em si uma negação de algo) do que com empreendimentos, então uma das formas mais notórias de expressão anarco-fundamentalista é, justamente, o nada-fazer...
Face as dificuldades de ter atitudes objetivas, o anarco-fundamentalista tem se convertido quase num simples “moralismo social”. Citemos:


“O antropólogo anarquista David Graeber distinguiu as duas filosofias da seguinte forma: 1. O Marxismo tornou-se um discurso teórico ou analítico sobre a estratégia revolucionária. 2. O Anarquismo tornou-se um discurso ético sobre a prática revolucionária” (“Do fundamentalismo e outros desvios”, Salvi).

Neste caso, estendemos o juízo-de-valores anarquista –e apesar do “libertarismo” comum nos anarquismos- para além da “prática revolucionária”, na medida em que o anarquista permanece quase meramente ao nível da crítica-de-costumes. E com isto ele se torna um expectante contumaz embora inconfesso, sobre um futuro hipotético quando as pessoas finalmente enxergarão as verdades iluminadas que ele hoje já percebe... Ou, como dizer de Maiakovski, “para o júbilo o planeta está imaturo”. Não é curioso que justamente os anarquistas, tão prezadores da liberdade, se achem tão apegados à fórmulas históricas? Isto se deve justamente à certa cristalização das ideias ainda no plano da teoria.
Neste sentido, não é somente a religião que pode ser um ópio –aliás, nem mesmo Mao Tsé Tung (ou qualquer outro socialista ou comunista) poderia dizer isto da religião se tivesse em mente as atitudes de um São Francisco de Assis! Neste aspecto, o anarquismo expectante acaba se tornando muito parecido às próprias religiões, justificando o trato que o “Manifesto Comunista” faz do tema como “seita”:
“(....) se, em muitos aspectos, os fundadores desses sistemas eram revolucionários, as seitas formadas por seus discípulos são sempre reacionárias, pois se aferram às velhas concepções de seus mestres apesar do ulterior desenvolvimento histórico...”
Naturalmente Marx puxava a sardinha para o seu assado, de todo modo o texto acima pinçado é válido. Os sonhos dogmáticos e os métodos estreitos dos anarquistas estão sempre tão longe da realidade atual, que ele praticamente desiste de atuar no mundo presente –como se a inação pudesse ajudar a construir qualquer futuro melhor!

Umas das tantas dificuldades está em que o anarquista não consegue unir-se como “classe”. Por sua própria natureza, o anarquismo é uma filosofia que supera qualquer outra em número de correntes, e estas não têm a vocação de “classe”. Não obstante, muitas correntes aderem a ideologias afins, vendo nisto um movimento em direção ao seu próprio ideal. Historicamente, contudo, isto tem sido bastante complicado, porque as outras ideologias nunca são totalmente contra o Estado, e as mais próximas disto são afins ao Capitalismo.
Muitos anarquistas lutaram contra os marxistas na Revolução de 1917, mas quem pode garantir hoje que a doutrina marxista do pós-socialismo (ou comunismo-sem-Estado) não representasse também uma forma de dividir os anarquistas para cooptar as simpatias de alguns? Nós também defendemos a mudança “por etapas”, porém há que ver o tamanho das contradições (se existem), pois há “formas e formas” de fazer isto. Usar as armas do velho sempre é coisa bastante controversa.


É enfim uma posição árdua de permanecer, esta espécie de esquizofrenia filosófica soa até perigosa para a mente. E diante das impossibilidades reais ou aparentes de colocar em prática tão nobres ideais, o anarco-fundamentalista se entrega a “atalhos” para viver ao menos subjetivamente o seu paraíso perdido, sem jamais suspeitar a enorme contradição também nisto existente, até mesmo para aqueles que se declaram “individualistas”. Pois neste ponto ele perde totalmente os seus referenciais criativos e conscienciais, porque anula facilmente os próprios sintomas de dor.
Ostentar uma ideologia nunca foi sinal de engajamento positivo, há muita ideologia que é alienação e até acomodação, como são as doutrinas conservadoras e aquelas “alienígenas” estranhas às nossas bases culturais, como é o materialismo histórico em relação às Américas. E há naturalmente aquelas ideologias radicais que são tão impraticáveis que apenas podem nos deixar na nossa própria zona-de-conforto...


Por fim, surge a acomodação subjetiva, que é a rendição ao próprio ego, apenas para escapar às supostas vilanias do ego alheio reunidas rótulo grandiloqüente da fobia-à-“autoridade”. Esta falácia se denuncia diante do fato das filosofias anarquistas não buscarem algo como a purificação do “ego” para aprimorar as relações sociais, sequer na esfera da psicanálise, ainda que mais facilmente e com maior eficácia se poderia encontrar nas doutrinas espirituais ou religiosas disseminadas os mesmos objetivos.

A opção pelo palco da História

Ora, uma das poucas coisas que possibilita o avanço de uma doutrina é a sua colocação na prática, mas se os seus adeptos permanecem acomodados esta possibilidade também se aniquila! Nós não estamos preocupados com este ou aquele anarquista, estamos preocupados com o mundo e com a alienação dos homens. Afinal, o que poderia interessar mais ao sistema do que ver oposicionistas esterilizados pelas suas próprias ideias malformadas?!? Por ser uma doutrina assim tão especial e diferente é que o anarquismo resvala em radicalismos e perde o pé dos fatos, sucumbindo em subjetivismos especulativos e divergentes.


Uma das grandes tarefas que toca ao anarquista é deixar de querer “reinventar a roda”. É buscar na História (ou até mesmo na pré-História, se for o caso) referências para aquilo que ele aspira, e tratar então de adaptar e aplicar as coisas aos tempos presentes. Pois se ele tem a pretensão de achar que aquilo que ele busca é totalmente novo, que sequer em alguma escala tal coisa jamais existiu na humanidade, então realmente ele se torna um cativo da utopia.

O auto-engano –classicamente chamado de astúcias-do-ego”-, é uma chaga antiga da humanidade, estando representada já na sedução do Diabo ao tentar Eva a cometer o Pecado Original. O verdadeiro Mal está no coração dos seres humanos, nunca fora dele, pois este Mal é que impede as pessoas de tomar as medidas corretas –preventivas ou saneadoras- contra os males que existem no mundo. Os princípios libertários do anarquismo podem ser por si confusos, pois faltaria uma discussão mais profunda sobre as bases da liberdade. À luz das teorias dos condicionamentos de Pavlov e Skinner, para alguém condicionado ser livre é poder responder aos estímulos que o condicionam. O anarquista pode até afirmar que luta contra tudo isto, supõe-se que ele quer o descondicionamento –sempre e quando consiga realmente identificar o seria ou não seja condicionado!


Mas mesmo nisto pode residir um problema sutil. Ocorre que, aquele que luta frontalmente contra algo também está condicionado por isto: ele poderá estar se privando de uma experiência de equilíbrio! Este é verdade um grande mal do anarquismo –uma doutrina que, como vimos, é negacionista por definição. O anarquismo está praticamente estruturado sobre o princípio da antítese filosófica (ou do conflito e da oposição), da mesma forma que o marxismo, ainda que por outras razões.
Com isto o anarquismo não chega a alcançar uma nova posição filosófica, como seria a da síntese dialética tão almejada. Por isto, mesmo que o anarquismo seja algo negacionista, ele deve se adaptar aos tempos e avançar para as sínteses, mantendo as suas bases anárquicas porém considerando o relativismo e o progresso das coisas, sempre atento para as contradições.


Uma grande solução seria investir em modelos paralelos ou alternativos, como forma de criar propostas reais de vida libertária, seja em pontos mais focais ou até através de anti-sistemas completos como seria a criação de comunas e zonas autônomas livres de opressão social e cultural. Como propôs Fourier através dos falanstérios rururbanos ou através de propostas ainda mais amplas e inovadoras que tem sido realizadas através dos tempos, pelas quais se pode finalmente estabelecer os direitos naturais e universais do homem.

Afinal, o que leva os anarquistas a recusar busca propostas autonomistas, uma vez que a liberdade é a sua meta e as perspectivas de tomada do estado está fora dos seus caminhos? Não há como compreender isto, fora da alienação e do comodismo.
Ademais, o mundo hoje gira cada vez mais rápido, e velhas certezas têm sido abaladas. Se os grandes filósofos anarquistas tivessem nascido hoje, eles certamente reformulariam suas visões sob “inúmeros” aspectos. Ao menos devemos acatar em paralelo relativismos e incertezas, porque isto também faz parte da evolução da Ciência, tal como o Positivismo ajudou a edificar as primeiras teorias do anarquismo. Tal coisa abre naturalmente espaço para o livre-arbítrio e para a diversidade cultural –em decorrência também a social.

Assim, a inação ou a sub-ação do anarco-fundamentalista em nada ajuda a criar aquele “mundo futuro” no qual os anarquistas tão facilmente projetam as suas utopias. E uma das grandes amarras anarquistas está na fixação ao dogma e à teoria, assim como a sujeição a visões superficiais e alienadas de “liberdade”.
Neste caso, e para reportar-nos ao óbvio, o anarquista sério deveria atentar para aquilo que propõe os filósofos modernos, e ter os clássicos apenas como base e referência histórica, uma vez que é o tempo presente que atualiza as informações e adapta as propostas.


* Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.
Editorial Agartha: www.agartha.com.br
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A flecha da Evolução: em busca de uma Sociologia Holística



Nas origens tudo era perfeito e íntegro, dizem as lendas da Criação.
Para a mentalidade antiga, algo somente existe realmente quando se estabelece num plano de estabilidade, plenitude e de harmonias naturais. Afinal, como dizer que as coisas estão bem quando existe luta-de-classes e colonialismo, em perpétuo estado de transformação?

Todo processo de desconstrução é reducionista –isto é evidente até semanticamente.* Sempre que colocamos abaixo um velho edifício estamos perdendo muita coisa, comumente ele está belamente ornamentado e construído com técnicas interessantes, ainda que mofado, descascado, apodrecido. Acima de tudo, ele representa uma época do mundo, com suas virtudes e vilanias, quiçá nem melhor ou pior que o presente. A pressa e a ânsia de ocupar os espaços nos levam porém a ignorar estes valores -e o mesmo sucede no campo social.


Aparentemente, estamos promovendo através da revolução a justiça e a igualdade, e em boa parcela é correta a visão da antiga deturpação das coisas, pese haver também interesses ideológicos ou pessoais e visões-de-mundo conflitantes em pauta. Neste caso, as acusações de “superstição”, “alienação” e “exploração” sempre vão muito além da conta, e como na nau de Jonas o vagalhão leva por terra (ou por água) justos e inocentes ocupando o mesmo barco.
Nem sempre uma classe social tem a experiência da outra, geralmente isto só acontece quando existe ascensão social –esta pérola rara procurada pela boa sociologia-, ou seja, onde o “maior” abarca o “menor “através do próprio crescimento cultural.
Algumas pessoas imaginam, porém, ser necessário eliminar as classes sociais para haver igualdade, sem entender a profissionalização que costuma existir por detrás destas categorias, relegando daí tudo ao mais raso amadorismo. A ditadura da classe ou a ditadura da anti-classe não faz muita diferença, cabe superar as ditaduras. A única meta legítima é eliminar os privilégios e as prerrogativas não conquistados pela própria pessoa e, é claro, aquilo que aflige a liberdade alheia.
Este é pois um dos males em parte inevitáveis dos grandes ciclos de transição, quando se acumulam os vícios de toda uma história pretérita, além do desgaste assinalar o próprio cumprimento de funções ou missões históricas. A situação de “terra arrasada” a que as revoluções remetem a História é assim um carma, mas também assinala a possibilidade para algo novo nascer. Regra geral, porém, este novo tende a surgir alhures, como semeadura de novas sínteses e através de novos partos. E neste “novo” já não existe um carma passado, apenas o do próprio futuro por despertar.

A Tradição Holística


A Wipala boliviana
Toda nova sociedade demanda uma visão integral de humanidade.
A Sociologia Holística será uma novidade? Jamais! A palavra “sociologia” até pode ser mais ou menos recente, porém os temas de que são objeto são imemoriais. Há muita coisa neste mundo que se data em função do seu registro, mas esta é uma ilusão. A cultura ágrafa foi tão ou ainda mais rica e longeva do que a cultura gráfica.**
Contudo, as dificuldades do trato social são igualmente antigos, de modo que a sociologia antiga integra as doutrinas que foram codificadas em bloco através de sínteses para se perpetuarem no imaginário popular. Os mitos de Criação facilmente podem ser entendidos em termos sócio-holísticos!
O Holismo (do grego holos, “todo”) costuma ser representado pelo arco-íris, símbolo de uma edificação cultural e também da integridade humana. Se faz presente na iconografia e na heráldica, e a bandeira de Cuzco (aquela de que o “Movimento LGBT” se apropriou, talvez invertendo as cores) o expressa basicamente, assim como a Wipala boliviana. Isto faz sentido, uma vez que não existe arco-íris sem vapor d’água.
Toda a reta civilização ostenta uma meta irisada para poder ascender tanto quanto lhe for possível. A imagem materialista da cultura pertence unicamente às sociedades dos finais de ciclos que podem se dar ao luxo de nisto refletir por contar já com um amplo leque de opções. Porém as novas sociedades em criação necessitam estar abertas ao todo para que este possa lhe abençoar e achar guarida como cabe.


O arco-íris é um símbolo comum da aliança de Deus com a humanidade, e a exegese clássica entende que a “nuvem” é também o arco: “(...) a glória do Senhor apareceu na nuvem” (Ex 16:10), coisa que se repete nas profecias: “E aquele que estava assentado sobre a nuvem meteu a sua foice à terra, e a terra foi segada” (Ap 14:16); sob a profanação do Templo, a “nuvem de glória” (Shekinah) abanda o local (Ez 10ss).

Os termos se associam originalmente na expressão “arco nas nuvens”, em Genesis 9:13-16, onde o arco-íris é apresentado como chave para a liberação perpétua do dilúvio: “Então me lembrarei da minha aliança, que está entre mim e vós, e entre toda a alma vivente de toda a carne; e as águas não se tornarão mais em dilúvio para destruir toda a carne.” (v.15)
O dilúvio pode ter muitos significados, mas sociologicamente se refere à cultura-de-massa, isto é, a atrofia e o paroxismo do “humanismo” através da superpopulação e o domínio da cultura vulgar. As “águas” sempre simbolizaram a humanidade -ver Apocalipse 17:15.

Interessante é que aquilo que realmente produz a cultura-de-massa (“dilúvio”) é o capitalismo-materialismo, posto que os valores dominantes almejam multiplicar os “consumidores”. A culminação da desconstrução cultural, que surge com as doutrinas capitalistas e materialistas, levam naturalmente o mundo de volta ao caos. E o caos dispõe as bases para uma nova ordem. São as “águas primordiais” de onde é tirada a Criação, as mesmas águas que concedem a espada Excalibur ao rei Arthur para abalizar o seu reinado, através da Dama do Lago como símbolo da República. 
O bom rei é sempre melhor do que o bom presidente, mesmo porque o trono é mais estável do que o mandato. Cada vez mais parece infinitamente mais sábio e barato manter um rei-estadista no governo dentro de uma nação unificada, do que infindáveis quadrilhas partidárias se revezando famintas por roubar o quanto podem durante o seu prazo no poder, disputando o país e dividindo e sociedade abrindo os flancos para o opressor. Esta é a percepção das sociedades emergente que devem se libertar do colonialismo, distinto das nações antigas (que são ou foram elas mesmos imperialistas) e que deixaram atrás as monarquias depois que estas cumpriram longamente a sua função cultural e estabilizadora.

A Recriação da Luz

A Criação é a celebração da diversidade da vida, atuando em uníssono para gerar a riqueza do Universo.
Toda Criação significa tirar a ordem do caos através da organização dos elementos antes misturados. À primeira vista, o tema reporta a uma anarquia (a bandeira anarquista é negra), onde não se toleram as classes sociais como vimos mais acima.

Balestra de arco-íris
Porém também se pode entender com isto a República e a própria Democracia, quando a ordem natural é substituída por um igualitarismo aparente, mas na prática o que temos é uma grande demagogia, cuja base está em derrubar a ordem idealista para depois estabelecer a exploração social e econômica a todo custo –o que obviamente é muito mais dramático nas sociedades colonizadas e em formação. E o império da demagogia apenas pode conduzir ao caos.
Por fim, acaso não podemos considerar uma monarquia também como um caos, quando ela se transforma na sua sombra -a tirania? É o que diria Aristóteles sobre a corrupção destes sistemas sociais. Não existe ordem na rigidez, um relógio não marca horas quando inexiste alma para contemplar.
O “arco-íris nas nuvens” era a condição para não haver mais dilúvio ou caos. As nuvens são um símbolo de elevação das águas, trespassadas assim pelos elementos mais refinados, especialmente a luz e o vento, simbolizando o idealismo e a espiritualidade protagonizados com excelência pelas classes idealistas (aristocracia e clero).
Porém, as classes refinadas, por sua própria natureza, não podem se limitar a atuar com os instrumentos materialistas e massivos, como revoluções e eleições. Toda elevação da consciência demanda a preparação de ambientes naturais para emergir. Os Falanstérios e as Machus Pichus não representam daí uma simples opção, mas necessidades imperativas para propiciar qualidade-de-vida e estados elevados de consciência onde a cultura possa se elevar e subsistir.
A elaboração de nobres ambientes para a educação, representa uma base segura e necessária para conferir a qualidade da consciência e o desenvolvimento da integridade humana. Com isto não estamos evocando na verdade privilégios especiais, como seria o luxo das cortes decadentes. Quase todo o contrário, pois às vezes poder contar com as bênçãos da Natureza, a segurança de um lar digno e a simplicidade do Universo se torna uma coisa rara... 


Estamos pois bem mais próximos de evocar as bases pedagógicas de Rousseau quando vê na Natureza as condições para o florescimento do “bom selvagem”. Cabe daí socializar estes ambientes o tanto quanto seja possível, disponibilizando para que todas as crianças tenham a oportunidade de crescer em meios adequados para a sua dimensão cósmica potencial.
A reordenação desta ordem natural, hierarquizada sim porém sem privilégios apriorísticos, antes balizada unicamente pela própria vocação, está ligada à consumação do Reino de Deus -isto é, do Todo-, uma ordem que não tenha apenas a economia por meta e sim a própria integridade humana. Pois se a exploração social é um grande mal, o roubo covarde, bárbaro e ignaro da autoridade natural não representa seguramente um mal menor para todos e para cada um...
Aludimos pois a sistema sociais holísticos, quiçá antigos. Para chegar a isto cabe um esforço intelectual e espiritual consistente, assim como uma perspicaz arqueologia cultural. Seria importante encontrar modelos históricos, de preferência em sociedades ainda “vivas”, onde os traços culturais se mostrem mais ativos. E tal coisa pode ser encontrada, mais que qualquer outro lugar, e sintomaticamente, através do chamado Sanatana Dharma, a “Lei Eterna”, que é o nome oficial do Hinduísmo.
O Chakravartin
Esta busca de “ambientes” para uma educação permanente, tem sido levada a cabo de forma holística através das instituições sociais do Brahmanismo, quando instituiu os ashramas ou ambientes sócio-pedagógicos, requalificando as próprias instituições para prover a evolução da consciência, através da escola, do lar, da administração e da espiritualidade naturalista. Tais ambientes proveriam daí os fundamentos culturais das classes sociais, codificadas idealmente através de elevados padrões, de tal sorte que aquilo que alguém alcançasse com excelência realizar determinaria o seu estágio espiritual e, eventualmente, também o seu estado social (varnas)
Com o tempo muito desta pureza e sabedoria se perdeu, como seria mesmo de esperar, invertendo-se as correlações e determinando as castas-de-nascimento (jativarna); sem perder de todo os ashramas (com exceção do estágio cultural do sudra ou servidor, é verdade). Contudo, nada, absolutamente nada, impede que se volte a elaborar sistemas íntegros desta natureza, uma vez que, como dizem os orientais, “a roda da lei deve ser ciclicamente recolocada em movimento ” - uma tarefa especial do Chakravartin.
Mesmo porque, o sistema em questão, embora holístico, não esgotou os seus potenciais institucionais, especialmente na esfera mais alta dos sacerdotes (brahmanes) uma vez que a iluminação ou liberação verdadeira (mukti) ainda não estava acessível à humanidade então, coisa que não obstante já pode ser alcançada na Nova Era.

* Falando em semântica, o que significa “revolução”? Não se trata de uma anti-evolução, mas sim de “ato de revolver”, do latim revolutio ónis. A revolução “revolve” a cultura, e por definição o faz em tempo curto e até tragicamente quando se trata de política, sem que na cultura tampouco deixa de envolver elementos dramáticos de transformação. E numa livre-semântica, podemos ver “reevolução” tanto como “nova evolução" (re-evolução) como “contra-evolução”, isto é, desconstrucionismo, ainda que os materialistas sejam adeptos da evolução natural.
** O registro sistemático passou a existir em função de motivos como contas econômicas, apologia a conquistas e, sobretudo, perda da memória viva. Também se poderia acrescentar o acúmulo e a difusão de conhecimentos em sociedades massivas.

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O Universalismo Solar

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Uma Nova Sociologia Construtiva

* Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.
Editorial Agartha: www.agartha.com.br
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O Construcionismo Social – uma Cosmologia coletiva


Cosmologia de William Blake, Zoas.

A educação social, como princípio da formação humana e elemento de evolução permanente, é um ramo do conhecimento que tem sido ainda bastante relegado à intuição e ao ideologismo. Não que estes fatos estejam a priori equivocados, porém mereceriam também estar subordinados (ou apenas “relacionados”) ao universal –e também ao “próprio”, isto é, aos processos localizados de evolução, imunes assim a doutrinações forâneas.
O próprio Socioconstrutivismo de Lev Vigotsky objetivaria ainda o indivíduo antes da consciência social – ou a “consciência coletiva” de Émile Durkheim, por alguns também denominada de “alma coletiva”-, uma vez que o seu foco era a educação elementar.
Construtivismo russo
O Construtivismo trouxe todavia para a educação a libertação do Condutivismo e do “Ideologismo” radical, sobretudo em relação à chamada educação tecnicista ou industrial. Na verdade, não podemos discordar do preceito marxista de que não existe educação neutra ou, no dizer de Paulo Freire, “todo ato de educação é um ato político”. Não há porém qualquer impossibilidade de harmonizar o Construtivismo com o Condutivismo - na verdade, ambos se completam e equilibram necessariamente! Numa linguagem informática, poderíamos dizer que o Condutivismo é hardware e o Construcionismo é software. Melhor ainda, o Construcionismo seria como um sistema operacional e o Condutivismo os programas do usuário.

De fato, o Construtivismo tem tido os seus problemas, acusa-se por exemplo de preparar mal as crianças, até para a “simples” alfabetização. Não se trata de render-se à “educação tecnicista”, porém certos estímulos ou “reforços” (a la Skinner mesmo) também são necessários, nos termos que se faz necessários a cada etapa da educação.
Certamente a força e a influência do coletivo é fundamental para a educação da criança. As “energias” grupos terminam atuando como signos e arquétipos na formação da consciência infantil. E a criança reproduz aquilo com a sua consciência é impressa.
Porém, tal como o indivíduo se forma através as impressões vindas do meio, o meio também se forma mediante as impressões oriundas –de quê? Talvez aqui sim caberia se falar de arquétipos, mas historicamente devemos ter muito em mente a ação de forças superiores, como é a vinda periódica dos mensageiros espirituais. As alusões cósmicas (ou “astrológicas”) figuram apenas como simbólicas e coincidentes em relação a ciclos que no fundo são culturais e “estruturais”.
Tudo isto evoca naturalmente conhecimentos tradicionais, como são o universalia ante rem (“universal antes das coisas”) de Platão. C. G. Jung investigou a relação entre os arquétipos e o inconsciente. Durkheim e Marcel Mauss fizeram estudos sobre a construção coletiva da emoção religiosa, aquilo que nestes meios também se pode chamar de “egrégora”.
Porém, sugerimos a percepção de Claude Levi Strauss, quando diz: “A Astrologia é um Estruturalismo avant la lettre.” Esta frase é importante porque Levi Strauss resgata de certa formas as verdades remotas da astrologia, dentro da formação da consciência, especialmente a coletiva. Contudo, para tratar do tema da educação e também para a formação básica das “estruturas” humanas (seja individual ou coletiva), pensamos que o termo “Cosmologia” seria de maior precisão. A educação básica trata de construir aqueles elementos fundamentais da linguagem e da percepção. A vida adulta seria como um jogo interativo com estes elementos primários, e através dos mais díspares cenários (Cultura, Natureza, etc.), daí a sua riqueza e diversidade. E é neste plano que se desenvolve também o Construcionismo Social.


Construtivismo sulamericano
Algo de nomenclaturas

Construtivismo e Estruturalismo são termos aproximados nas Ciências, divergindo mais por áreas de atuação. Optamos pela palavra Construtivismo (e mais ainda Construcionismo) por soar mais dinâmica do que Estruturalismo, cabendo todavia discernir de outras concepções nominalmente próximas.
Pois com isto não estaremos apelando tanto ao Socioconstrutivismo psicológico de Lev Vygotsky, dedicado à teoria da Educação. E tampouco devemos remeter ao Estruturalismo Social de vertente marxista e sociológica com suas bases economicistas de praxe. Talvez a nossa abordagem esteja mais próxima ao Estruturalismo antropológico de Claude Levi Strauss, com sua abordagem cultural livre, pese podermos sempre contar com as anteriores sem radicalismos.
Construtivismo russo
Comumente vemos fundamentos –por vezes também erros ou parcialidades- em quase todas as teorias que, de resto, não casualmente terminam por se combinar ou relacionar de forma transversal. Fácil é observar como a filosofia e as ciências caminham passo-a-passo, empregando a soma das informações progressivas para avançar, questionar ou acrescentar.
A cultura é um constructio, e nisto os dados emergem como agentes estruturais. Não obstante também existe a desconstrução. Neste sentido o “Estruturalismo Marxista” considera apenas valores parciais e até pretende desconsidera modernamente, à luz de ideias científicas hoje ociosas, certos ramos de atividades não diretamente econômicos, como a religião e a filosofia, como bases das atividades do clero e da aristocracia.
Construtivismo maçônico
É muito importante com efeito o tema da “construção”. A Maçonaria possui esta ideia na base de suas propostas, o maçon é, na origem e por definição, um “obreiro” ou um construtor, mas que passou a assumir a tarefa da reconstrução social e moral. Tal coisa superaria na verdade a ideia das “reformas”: se trata de uma construção nova das coisas, a edificação de uma nova sociedade –ou aquilo que também se pode chamar de “criação” naturalmente. Os mitos genésicos estão prenhes destas ideias sociais, e destes vale destacar os egípcios por sua riqueza e diversidade. A criação do mundo é também a (re)criação social e a adequada organização coletiva, fora isto temos apenas o caos, mesmo que naturalmente disfarçado de ordem para todos os efeitos, uma ordem arbitrária e injusta sob todos os ângulos de visão.


Modelos socioestruturais

Dentro de uma ótica ampla, as ideologias representam por princípio “degraus” de uma escada social ou civilizatória. Como numa escada, estes degraus podem ser subidos ou descidos, a depender sobretudo dos cursos evolutivos das nações ou, antes, dos Continentes.
Tudo isto está claramente presente na observação histórica, e com tal regularidade, métrica e precisão, que permite falar realmente em termos de cosmologia, quiçá de astrologia também, entendida na forma estruturalista dada por Levi Strauss.
Através da observação dos próprios ciclos da História, podemos organizar esquemas e planificar sistemas científicos que permitem antever tendências, à luz de questões “universais” (ou dos “arquétipos” junguianos) como são os célebres “Quatro Elementos” da Alquimia. Na prática, aquilo que temos são estruturas sociais e civilizatórias.
É evidente que, para um ser humano chegar a emergir como ente social pleno, ele deve abrigar na sua consciência as sementes desta socialização. Sabemos que milagres podem acontecer, a consciência pode ser transformada de maneira misteriosa, às vezes para além mesmo da esfera social, uma vez que suas bases estejam colocadas. Também sabemos que os jovens e as crianças podem ser muito protegidos por forças espirituais –uma reprodução daquilo que sucede à própria sociedade através da vinda regular dos sábios, santos e mestres. Naturalmente os cientistas confundem muitos destes epifenômenos com elementos inatos da consciência, os quais são no entanto muito mais reduzidos do que se possa imaginar.


Ainda assim, devemos ter estes casos como excepcionais e não pretender que os “anjos” substituam a educação real, porque isto nunca irá acontecer (isto é importante assinalar ante certas mentalidades new age carente de formação humanista verdadeira, que às vezes parecem achar suficiente oferecer qualquer arremedo de educação, ao invés de investir na cultura social). As energias universais despertam através dos estímulos adequados, tal como a vida de um grão se ativa mediante os elementos naturais que sobre ele incidem. 
Calendário egípcio
As Ciências Socioconstrutivas remontam pois há muito tempo na cultura humana, e comumente elas tem sido apresentadas na forma de calendários. Estes calendários nem sempre obedecem porém a uma uniformidade formal, reflexo direto da própria complexidade do universo, tal como podemos depreende basicamente das estruturas matemáticas. Calendários empregam comumente o valor 12 no seu conjunto, um valor sujeito a diversas divisões: 12, 6,4,3,2 e,1 -entre outras correlações ainda, como de ordem geométrica, etc. Então, todas estas divisões compões subciclos específicos do numeral maior. Estas doutrinas tradicionais podem conferir às ciências estruturalistas modernas, pois, muito aquilo daquilo que lhes falta na prática.
Os ciclos de conjunções
O tempo possui naturalmente diversas escalas de grandezas. E tem sido dividido como sabemos e ciclos para efeitos gerais. Muitas culturas e civilizações tem realizado esta empresa, inclusive com critérios algo distintos. Os ciclos ocidentais derivam basicamente de bases orientais caldaicas e gregas (Ptolomeu), e aqui no Extremo Ocidente existem algumas matemáticas e astrologias semelhantes e outras bem diversas.
Sobre o tema dos calendários sociais, talvez o conhecimento mais difuso seja aquele dos Cronocratores ou os “Senhores do Tempo”, como chamavam os antigos a Júpiter e Saturno, cujas estruturas de conjunções coincidem com diversos ciclos sociais e suas sínteses. A partir da base sinódica (a conjunção básica) de 20 anos (que é o katun maia, base das escalas que integram o sistema paralelo de “Nove Senhores do Tempo” maias), existem ciclos de conjunções nos Quatro Elementos dos signos astrológicos, e aos quais podem ser dados os seguintes significados:

a. Conjunções Primárias (
60 anos) = ciclo geracional
b. Conjunções Secundárias (200 anos) = ciclo social
c. Conjunções Terciárias (800 anos) = ciclo civilizacional


"Onda Encantada" Cronocrator do Brasil
O ciclo geracional primário de 60 anos (muito usado na astrologia chinesa) atende às gerações completas marcando a ação do indivíduo na História, e entra estruturalmente três vezes no ciclo secundário seguinte de 200 anos para fundar, consolidar e transformar os ciclos sociais - basta dizer que até os livros acadêmicos identificam os ciclos sociais históricos do último milênio sobre estas estruturas. Outro vínculo com o calendário maia pode ser tecido aqui através dos baktuns, os ciclos de 400 anos que reúnem, neste caso, os pares de ciclos sociais afins –as “dialéticas históricas”, onde o par burguesia-proletariado representa o viés “materialista” e o par clero-aristocracia corresponde ao aspecto idealista.
Estes ciclos secundários entram, por sua vez, quatro vezes (ou até cinco vezes: existe uma variante cíclica de mil anos) no ciclo terciário de 800 anos para integrar um ciclo sócio formativo completo.

Exemplos históricos

Tanto no Velho Mundo (Europa) como no Novo Mundo (Américas) estes ciclos têm sido verificados com clareza e notoriedade através de fatos históricos e sociais marcantes, com destaque para aqueles de 200 anos, sobre os quais ocorrem mudanças socioculturais importantes através de revoluções sobretudo políticas na Europa (desconstrução social) e de evoluções sobretudo culturais nas Américas (construção social). 


Desconstrução sociocutural euroasiática

Nesta última também existem os ciclos políticos, mas a natureza cultural prevalece, e uma forma notável ocorre através das mudanças das Capitais Federais no Brasil, vindo a se ocupar melhor regiões até então mais ou menos ociosas na grande nação para desenvolver e consolidar os novos ciclos socioculturais.

Evolução sócio-regional brasileira
Todos os outros ciclos também apresentam marcos sociopolíticos notáveis -sem exigir uma exatidão matemática absoluta –não obstante notória- que de resto inexiste em parte alguma no universo. Assim, o ciclo geracional define etapas políticas e culturais do país pautada pela força criativa das gerações, gerando sempre movimentos transformadores.
Vamos pois aos exemplos geracionais brasileiros, dentro dos respectivos ciclos bicentenários sociais: 


a. O 1º ciclo social (“proletário”, capital Salvador, Região Nordeste): a. Descoberta das Américas (1492) e do Brasil (1500); b. Começo da escravidão negra (1550); c. Invasões Holandesas e auge das Entradas e Bandeiras (1630). Temos aqui a ênfase pois na organização do elemento-humano (branco, negro e índio).

b. O 2º ciclo social (“burguês”, capital Rio de Janeiro, Região Sudeste): a. Descoberta do Ouro em Minas Gerais (1693); b. o Tratado de Madri e Guerra guaranítica (1750); c. a Independência (1822); Temos aqui a ênfase na organização das estruturas econômicas (riqueza, fronteiras e autonomia).

c. O 3º ciclo social (“aristocrático”, capital Brasília, Região Centro-Oeste): a. República (1889); b. o “Estado Novo” (1937); c. a chamada “Nova República” (1985, mas que apenas começa realmente a deslanchar em 2003). Temos aqui pois a ênfase na organização da justiça social e dos direitos humanos (militar, político e filosófico).

d. O 4º ciclo social (“religioso”, com capital futura na Região Norte) começará pelo final deste século XXI. Pois como se diz em Ciência, “duas ocorrências é apenas coincidência, mas três ocorrências já é um padrão.”

E com relação ao “grande” (famoso e profético) ciclo milenarista, ele edifica as chamadas Idades Metálicas das civilizações (reunidas no ciclo antropológico-cultural completo de 5 mil anos, a chamada “Era solar”), sujeitas às estruturas sociais. Muitos historiadores e sociólogos tem identificado nisto as transformações das etapas culturais da humanidade, saber:

a. Idade de Ouro: clero (teocracias) = mitologia, religião
b. Idade de Prata: aristocracia (monarquias) = epopéias, lendas
c. Idade de Bronze: aristocracia (repúblicas) = filosofia, protociências
d. Idade de Ferro: proletariado (democracias) = as ciências

Estes ciclos passam com vagar porque, além de serem mais amplos, as estruturas sociais convivem com certa harmonia. O mesmo já não ocorre na Idade do Diamante, responsável pela transição da Era solar, mas onde também existe a construção de uma nova Era através dos seus ciclos sociais.


Resumos

A ideia de ciclo tem base teleológica e circular, remete para objetivos e evoluções: ciclos produzem novos ciclos. Através disto se contempla a integridade e a formação de entidades complexas. Naturalmente se tem em vista modelo de humanidade e projetos-de-nação. A própria ideia de nação se consubstancia, como entidade coletiva para abrigar os potenciais humanos, agilizá-los e apontar para abstrações transcendentes, quiçá personificadas em seres de maior expressão que pontificam aqui e ali onde se aspira pelo todo.
Não há dúvida de que o individualismo apenas encontra o seu verdadeiro papel no seio da coletividade, uma gota separada do oceano está irremediavelmente condenada -cabe apenas fazer com que as águas não se tornem opressivas, e para isto existem recursos. O oposto disto é a luta-de-classes materialista, tácita ou declarada, onde as classes são apenas corporações de interesses individuais, e não mais estágios de uma evolução maior.

O Zodíaco joviano

O calendário social aponta então as tarefas a serem cumpridas pelas gerações dentro de cada ciclo social, tendo em vista a construção do ente coletivo e do corpo civilizatório, resultando naturalmente também na auto-realização dos seres através do cumprimento dos deveres comuns. 
Afinal, o grande objetivo seria aquele mesmo: construir o próprio ser humano, através da edificação da humanidade. Não existe aqui pois somente um desejo ideológico particular. E pode ser considerado uma astrologia dentro de uma cosmologia (3x4). Nada disto é contudo algo passivo: conhecer a matemática e a simbologia nada significa senão acessar indicações e conhecer caminhos a serem trilhados. 
É necessário pois imbuir-se de vontade e caminhar. Uma atitude passiva serviria apenas para colher o carma de cada situação, uma vez que a inação acarreta na atrofia do velho que passa a crescer de forma monstruosa tornando-se altamente destruidor e até imbatível... O esforço criativo é, pois, sempre grande e até sacrificado, mas também recompensador. 
O que nos reserva então o presente momento social? Podemos chamar a isto de “Terceira República” dos guerreiros e também a nona geração. A terceira fase aristocrática consolida a formação desta classe através do aprimoramento da cultura filosófica. Corresponde ao mesmo tempo ao novo ciclo geracional, associado ao signo de Sagitário (nono signo zodiacal). Provavelmente teremos nesta etapa a organização de uma república, senão governada diretamente por filósofos (como prescrevia Platão), mas ao menos por eles aconselhada e orientada.
Para chegar a isto, porém, é preciso dar passos muito consistentes, e felizmente o Brasil representa um país-chave neste processo. A cultura da aristocracia se afirma através das sínteses inclinadas para o espírito, ou seja, é uma cultura de alma. Com isto se sabe valorizar indistintamente a Natureza, a Espiritualidade e a Fraternidade. A chave para isto é a criação de cidades sustentáveis rururbanas, onde finamente se possa implantar todos os paradigmas culturais emergentes e tratar de erradicar através disto as atrofias burguesas e capitalistas.


Ver também 
O paradigma construtivista na Astrologia
Os ciclos katun na história republicana brasileira 
O nacionalismo filosófico: rumo à "Terceira República"

* Luís A. W. Salvi é autor polígrafo com cerca de 150 obras, e na última década vem se dedicando especialmente à organização da "Sociologia do Novo Mundo" voltada para a construção sócio-cultural das Américas.
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